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Lula deixa PF pela 1ª vez em 7 meses para ser interrogado

Nathan Lopes e Vinicius Boreki

Do UOL e colaboração para o UOL, em Curitiba

14/11/2018 13h32

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deixou a Superintendência da PF (Polícia Federal) em Curitiba de carro por volta das 13h30 desta quarta-feira (14). Ele foi levado para a sede da Justiça Federal na capital paranaense onde será interrogado pela juíza federal substituta Gabriela Hardt no âmbito do processo do sítio de Atibaia, em que é um dos 13 réus.

Essa é a primeira vez que Lula deixa a sede da PF desde que se entregou, em 7 de abril, para começar a cumprir sua pena de mais de 12 anos de prisão no processo do tríplex, também investigado pela Operação Lava Jato.

O trajeto de 5,5 quilômetros entre a PF, no Santa Cândida, e a Justiça Federal, no Ahú, foi feito sob forte esquema de segurança e durou sete minutos. Um comboio composto por seis carros da Polícia Federal, acompanhado de dez batedores em motos, foi usado para dar segurança ao deslocamento.

Ao longo do percurso, não houve qualquer registro de incidente. Cerca de 250 policiais militares foram usados na operação de deslocamento do ex-presidente Lula e de segurança para a oitiva.

Um grupo de cerca de 200 manifestantes, em sua maioria usando coletes do MST (Movimento dos Sem Terra), esperava a chegada do ex-presidente e pedia a liberdade dele.

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Não houve manifestações de grupos contrários a Lula, apenas poucas manifestações pontuais e individuais, principalmente de moradores da região. Alguns gritavam "Lula preso". Motoristas contra e a favor Lula buzinavam ao passar na frente da sede da Justiça Federal.

Com um esquema de segurança bem menor em relação aos interrogatórios anteriores, a circulação na região é livre. Não se pode, porém, ficar parado em determinados locais. A PM separou um espaço na frente do prédio para a imprensa.

Os manifestantes pró-Lula estão a cerca de 30 metros do prédio. Entre eles, estão alguns políticos do PT, como Fernando Haddad (PT), ex-prefeito de São Paulo e candidato derrotado à Presidência, e a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente do partido.

Haddad, inclusive, se encontrou com Lula mais cedo na PF. Ele disse a jornalistas que foi prestar sua solidariedade ao ex-presidente. Segundo o ex-prefeito, Lula teria lido os depoimentos de todas as testemunhas no processo. "Está muito tranquilo sobre o que ele vai relatar à juíza em seu depoimento", disse Haddad.

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Fernando Haddad esteve com Lula pela manhã na sede da PF. Ele disse a jornalistas que foi prestar sua solidariedade ao ex-presidente.
Imagem: Theo Marques/Estadão Conteúdi

Vigília na PF

Desde cedo, cerca de cem apoiadores do ex-presidente estiveram reunidos na Vigília Lula Livre, em um terreno ao lado da Superintendência da PF.

Ao contrário de outros depoimentos do ex-presidente e mesmo após a sua prisão, não havia um forte esquema de segurança no local, apenas um número maior de policiais do que se observa em dias normais.

O clima foi de tranquilidade ao logo da manhã. Poucos apoiadores gritavam "Lula Livre, Lula Livre". Houve apenas algumas ofensas a repórteres da GloboNews, que aguardavam a saída de Haddad de sua visita ao ex-presidente.

Antes ser interrogado, Lula recebeu a visita de outras quatro pessoas além de do ex-prefeito. No grupo estavam o deputado federal Wadih Damous (PT-RJ) e advogados de defesa.

Congressistas da bancada do PT também estiveram na vigília na sede da PF e fizeram críticas ao juiz Sergio Moro, que se afastou da Lava Jato e está em férias até assumir o Ministério da Justiça e Segurança no governo Jair Bolsonaro (PSL), em janeiro do próximo ano.

"Ele [Moro] saiu de férias, porque não queria que o processo fosse distribuído. Enquanto ministro, ele quer influenciar outro processo", declarou o senador Lindbergh Farias (PT-RJ).

"Ele faz parte do governo [de Bolsonaro] e está usando sua influência para condenar Lula pela segunda vez", afirmou o senador.

Lula encontra substituta de Moro pela 1ª vez

Sem a presença de Moro, que condenou o petista no processo do tríplex, a audiência desta quarta-feira marcará o primeiro encontro entre Lula e a substituta de Moro.

Na audiência, que teve início às 14h10, também será ouvido o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente que também é alvo da ação penal.

Lula é acusado pela força-tarefa do MPF (Ministério Público Federal) na Operação Lava Jato por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Segundo os procuradores, o ex-presidente teria participado de um esquema de corrupção na Petrobras pelo qual recebeu, como vantagem, cerca de R$ 1 milhão em reformas pagas por empreiteiras em um sítio no interior de São Paulo, do qual seria o verdadeiro dono.

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De acordo com a acusação, Lula teria atuado para beneficiar a Odebrecht e a OAS em contratos com a estatal. A defesa do ex-presidente nega todas as acusações e diz que ele é alvo de perseguição política.

Não há um limite de tempo para a audiência. O primeiro interrogatório de Lula, em maio do ano passado, durou cerca de cinco horas.

Em setembro de 2017, com Lula já condenado pelo processo do tríplex, mas ainda em liberdade, sua participação na audiência durou cerca de duas horas.

Na ocasião, ele foi ouvido sobre o processo no qual é acusado de ter sido beneficiado com um terreno na capital paulista para o instituto que leva seu nome e o aluguel do apartamento vizinho ao dele em São Bernardo do Campo (SP). Esta ação está pronta para ser julgada.