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Discurso pró-direitos humanos de Rosa Weber desagrada aliados de Bolsonaro

Gustavo Maia e Felipe Amorim

Do UOL, em Brasília

10/12/2018 19h05

A defesa dos direitos humanos e a duração de mais de 15 minutos do discurso da presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministra Rosa Weber, durante a cerimônia de diplomação de Jair Bolsonaro (PSL) provocaram descontentamento entre aliados do presidente eleito na tarde desta segunda-feira (10).

Segunda e última a falar na solenidade, logo após o pronunciamento de quase 10 minutos de Bolsonaro, ela destacou o aniversário de 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, celebrado hoje, e afirmou que em uma democracia a vontade da maioria não pode "abafar" os grupos minoritários nem retirar-lhes direitos.

A reação destoou da acolhida à entrada de Bolsonaro e do vice, o general Hamilton Mourão (PRTB), no plenário do tribunal. Ovacionado efusivamente, o presidente eleito chegou a ouvir gritos de "mito", que quebraram o clima solene da cerimônia.

Minutos após o discurso da ministra, que encerrou o evento, a deputada federal eleita Joice Hasselmann (PSL-SP) já havia usado o Twitter para criticar a fala da magistrada. "Nosso presidente, agora diplomado, fez um discurso simples, de união, é de agradecimentos. Já a ministra Rosa Weber nos submeteu a uma longa aula de direitos humanos fora de tom e de propósito. Desnecessário. Mas nada tirou o brilho do momento", escreveu.

Em entrevista coletiva na saída do TSE, ela disse ter achado o pronunciamento "totalmente desapropriado". "Um discurso longo, enfadonho. O presidente da República fez um discurso do jeito dele, com a linguagem do povo, agradecendo a todos, agradecendo a Deus, e a Rosa Weber fez uma aulinha de direitos humanos ali, né?", comentou.

"Achei que ficou um pouco chato, e até deselegante, desnecessário. Mas ela é a presidente do TSE, não sou eu", disse, acrescentando que não sabe se foi "um recado" para Bolsonaro. Em seguida, explicou que não acha deselegante defender os direitos humanos, mas sim fazer um discurso "enorme", "falando mais do mesmo". "Todo mundo sabe o que nós precisamos, todo mundo sabe o que são os direitos humanos, nós já sabemos essa lição de cor e salteado. É só isso."

Também pela rede social, a deputada federal eleita Bia Kicis (PRP-DF), aliada de Bolsonaro, ironizou o teor e a duração da fala da ministra. "Rosa Weber espanta audiência virtual com seu discurso looooongo de aulinha de direitos humanos", declarou.

Ao UOL, ela disse ter achado o discurso "inapropriado". "Achei deselegante, achei desnecessário. E outra: espantou os seguidores das redes. Eu estava com mais de 1.000 pessoas [em uma transmissão ao vivo] quando ele terminou de falar. Depois de um tempo ela falando, eu estava com 50 pessoas na minha rede", comentou.

"Existem os discursos bons e os longos", comentou o deputado federal e senador eleito Major Olimpio (PSL-SP), ao ser questionado pela reportagem do UOL sobre a insatisfação com o pronunciamento da ministra.

O parlamentar disse ter entendido que ela usou o aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos como "um marco", mas que não sentiu a fala como uma "alfinetada" a Bolsonaro.

"Liberdade de manifestação"

Futuro ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência e ex-presidente do PSL, o advogado Gustavo Bebianno classificou a fala de Rosa como "liberdade de manifestação". "Não vi nada demais também não", comentou.

"Eu sou uma pessoa tão tranquila, não fico vendo chifre em cabeça de burro. Cada um que se manifeste, não muda nada. Deixa a pessoa falar o que ela quiser", afirmou Bebianno, acrescentando que tem "o maior respeito pela ministra".

"A gente vive numa democracia. Não é porque palavras que talvez não traduzem exatamente aquilo você pensa que você vai ficar tentando achar pelo em casca de ovo. Bobagem", acrescentou.

Questionado por uma jornalista se não interpretou a fala como "uma dura" no presidente eleito, ele disse que "de jeito nenhum", já que o deputado e futuro presidente se elegeu sete vezes pelo voto "e tem muito mais tempo de Câmara do que de serviço militar".

O discurso de Rosa Weber

As menções aos direitos humanos foram reiteradas ao longo do discurso, a ponto de a ministra comentar que estava insistindo no tema.

Democracia é, também, exercício constante de diálogo e de tolerância, de mútua compreensão das diferenças, de sopesamento pacífico de ideias distintas, até mesmo antagônicas, sem que a vontade da maioria, cuja legitimidade não se contesta, busque suprimir ou abafar a opinião dos grupos minoritários, muito menos tolher ou comprometer-lhes os direitos constitucionalmente assegurados."

Rosa Weber afirmou ainda que o Brasil é signatário de pactos internacionais que garantem o respeito aos direitos humanos e citou a questão dos refugiados, hoje um desafio às autoridades federais e de Roraima devido ao fluxo de imigrantes venezuelanos.

"Tenha-se presente, aqui, no contexto que venho de referir, hoje particularmente agravado pela situação dramática dos refugiados e das pessoas deslocadas, vítimas infelizes de terrível crise humanitária, que o Brasil está vinculado política e juridicamente, nesse plano a compromissos generosamente assumidos há décadas no plano internacional em respeito aos  tratados e convenções firmados no âmbito do Direito das Gentes", disse.

No evento, foram entregues os diplomas, documentos assinados pela presidente do TSE atestando o resultado das eleições. O ato permite que os eleitos tomem posse no cargo, o que ocorrerá no próximo dia 1º de janeiro.

Após a cerimônia, estava previsto um pronunciamento de Bolsonaro a jornalistas num salão contíguo ao auditório do TSE, mas o presidente eleito cancelou o pronunciamento e seguiu direto para a Granja do Torto, residência oficial que ele está ocupando antes da posse.

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