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Sou a pessoa errada para essa pergunta, diz Eduardo Bolsonaro sobre Coaf

Eduardo Bolsonaro dá entrevista no CCBB), onde funciona o gabinete de transição do governo - FÁTIMA MEIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Eduardo Bolsonaro dá entrevista no CCBB), onde funciona o gabinete de transição do governo Imagem: FÁTIMA MEIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Gustavo Maia

Do UOL, em Brasília

12/12/2018 17h59

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) disse nesta quarta-feira (12) que é "a pessoa errada" para responder perguntas sobre o relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) que apontou movimentação bancária "atípica" no valor de R$ 1,2 milhão na conta de um ex-assessor do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), seu irmão. O documento foi revelado na semana passada pelo jornal "O Estado de São Paulo".

O parlamentar foi questionado sobre o relatório, anexado a uma investigação do MPF (Ministério Público Federal), após quase cinco minutos de entrevista coletiva na sede do governo de transição do seu pai, o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), em Brasília, e disse não não ter nenhuma informação sobre o caso. Até o momento, Fabrício José Carlos de Queiroz, o ex-assessor, não se manifestou sobre o caso.

"Gente, olha, eu estou em Brasília aqui direto. Eu sou um deputado federal, Brasília, Sobre essas questões aí, lamento informar, mas a vida do assessor do Flávio, ou de algumas pessoas lá, outros assessores, eu não tenho como dar informação a vocês. Eu sou a pessoa errada para esse tipo de pergunta", declarou, encerrando a sessão de respostas a jornalistas. "Boa tarde para vocês. Até mais", despediu-se.

No último sábado (8), durante evento em Foz do Iguaçu (PR), ele afirmou que "a gente tem que trabalhar pra não haver interferência na investigação", mas ressaltou que "o que ocorreu ali, ninguém sabe". 

Indagado nesta quarta se já havia descoberto o que ocorreu ou se mantinha contato com Fabrício Queiroz, respondeu que "não, não".

Na semana passada, ele havia dito ainda que "ocorreu uma movimentação suspeita que está sendo investigada". "Fora isso, o que que eu vou falar? Ninguém sabe. Você sabe de onde é que veio esse dinheiro? Você já viu alguma alegação do Queiroz?", questionou.

O que diz a investigação

Segundo o relatório do Coaf, Queiroz movimentou R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, enquanto trabalhava como motorista e segurança de Flávio na Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro). Policial militar, ele foi exonerado do cargo em 15 de outubro deste ano.

Ligado ao Ministério da Fazenda, o conselho é o órgão responsável por monitorar e receber informações dos bancos sobre transações suspeitas ou atípicas. Pela lei, os bancos devem informar qualquer transação que não siga o padrão do cliente. A comunicação do Coaf não significa que haja alguma irregularidade na transação, mas mostra que os valores movimentados, ou o tipo de transação envolvida, não seguiram o padrão esperado para aquele tipo de cliente.

O Coaf foi informado das movimentações de Queiroz pelo banco porque elas seriam "incompatíveis com o patrimônio, a atividade econômica ou a ocupação profissional e a capacidade financeira" do ex-assessor parlamentar. Na folha de pagamentos da Alerj de setembro consta que Queiroz recebeu R$ 8.517 de remuneração, ganho que acumulava com rendimentos mensais de R$ 12,6 mil da Polícia Militar.

O relatório também cita que foram encontradas na conta transações envolvendo dinheiro em espécie, embora Queiroz exercesse uma atividade cuja "característica é a utilização de outros instrumentos de transferência de recurso".

Além disso, novas análises dos relatórios do Coaf indicam que sete servidores da Alerj fizeram transferências para a conta do ex-assessor de Flávio Bolsonaro. Entre 1º de janeiro de 2016 e 31 de janeiro de 2017, foram transferidos R$ 116.556 para a conta de Fabrício.

O relatório do Coaf foi anexado pelo MPF à investigação que deu origem à Operação Furna da Onça, que levou à prisão dez deputados estaduais da Alerj, em novembro. Flávio Bolsonaro não estava entre os alvos da operação. Seu ex-assessor foi citado na investigação porque o Coaf mapeou, a pedido dos procuradores da República, todos os funcionários e ex-servidores da Alerj citados em comunicados sobre transações financeiras suspeitas.

O MPF não confirmou se o relatório vai levar a investigações contra o ex-assessor ou contra Flávio Bolsonaro. Em nota, a entidade afirmou que, em relação a deputados que não estavam entre os alvos da Furna da Onça, "tem por política não confirmar tampouco negar se eventualmente estão investigados ou podem vir a ser".

Uma das transações citadas no relatório do Coaf é um cheque de R$ 24 mil destinado à futura primeira-dama, Michelle Bolsonaro. A compensação do cheque em favor de Michelle aparece na lista de valores pagos pelo policial militar. Dentre eles, constam como favorecidos a ex-secretária parlamentar e atual esposa de pessoa com foro por prerrogativa de função - Michelle de Paula Firmo Reinaldo Bolsonaro, no valor de R$ 24 mil", diz o relatório do Coaf.

Outra transação apontada no relatório sobre as movimentações financeiras do policial militar são transferências bancárias entre contas dele e de sua filha, Nathalia Melo de Queiroz. Nathalia, até o mês passado, era assessora lotada no gabinete do deputado federal e agora presidente eleito, Jair Bolsonaro.

Nathalia é citada em dois trechos do relatório. O documento não deixa claro os valores individuais das transferências entre ela e seu pai, mas junto ao nome de Nathalia está o valor total de R$ 84 mil. A filha do policial foi nomeada em dezembro de 2016 para trabalhar como secretária parlamentar no gabinete de Bolsonaro na Câmara dos Deputados. Ela foi exonerada do cargo no dia 15 de outubro, mesma data em que seu pai deixou o gabinete de Flávio.

O que dizem os Bolsonaro?

Flávio Bolsonaro defendeu o antigo assessor e disse não ter conhecimento de nada que "desabonasse sua conduta".

"Fabrício Queiroz trabalhou comigo por mais de dez anos e sempre foi da minha confiança. Nunca soube de algo que desabonasse sua conduta. Em outubro foi exonerado, a pedido, para tratar de sua passagem para a inatividade. Tenho certeza de que ele dará todos os esclarecimentos", escreveu o senador eleito em sua conta no Twitter.

Ele afirmou ainda que cobrou explicações do ex-motorista, que teria lhe relatado "uma história bastante plausível" e garantido que "não teria nenhuma ilegalidade nas suas movimentações". "Assim que ele for chamado ao Ministério Público, vai dar os devidos esclarecimentos", completou.

No sábado, o presidente eleito Jair Bolsonaro disse que se errou vai arcar com a responsabilidade ante o fisco, "sem problema nenhum". A declaração foi dada durante um evento na Marinha, no Rio. Ele afirmou que o valor era devolução de parte de uma dívida pessoal de Queiroz --o valor total, diz Bolsonaro, seria de R$ 40 mil-- e que o amigo e ex-assessor parlamentar de seu filho Flávio Bolsonaro fez o depósito na conta de Michelle.

Bolsonaro reiterou que o depósito foi feito na conta de Michelle porque ele tem dificuldade de ir ao banco devido à "falta de tempo". Ele também afirmou que lamenta o constrangimento pelo qual a futura primeira-dama está passando, com seu nome envolvido nos questionamentos.

"Deixei para a minha esposa. Lamento o constrangimento que ela está passando. Mas ninguém recebe ou dá dinheiro sujo com cheque nominal, meu Deus do céu. Isso é uma coisa normal, natural, isso não existe", disse.

*Com Estadão Conteúdo