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Grupo que investiga deputados e família Jucá troca líder 2 vezes em 6 dias

Senador diz que investigação foi feita "para tentar criar um fato" no período eleitoral  - Pedro Ladeira/Folhapress
Senador diz que investigação foi feita "para tentar criar um fato" no período eleitoral Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Eduardo Militão

Do UOL, em Brasília

14/12/2018 04h00

A Dopes (Delegacia de Operações Especiais) e a Draco (Delegacia de Repressão ao Crime Organizado) da Polícia Civil de Roraima comandam as investigações mais delicadas da região, como uma sobre gastos da Assembleia Legislativa e outra sobre a movimentação financeira da família do senador Romero Jucá (MDB-RR). A líder dessas e de todas as delegacias do estado foi trocada duas vezes em apenas seis dias.

A delegada-geral da Polícia Civil roraimense, Giuliana Costa Lima, foi retirada do cargo na quinta-feira da semana passada (6) pela então governadora Suely Campos (PP). Um dia depois, o estado entrou em intervenção federal, e Suely foi afastada. Giuliana foi reconduzida na quarta-feira (12) pelo interventor, o governador eleito Antônio Denarium (PSL).

Para Giuliana, as apurações sobre a Assembleia Legislativa incomodaram políticos locais. "A Polícia Civil estava fazendo algumas investigações que desagradaram", disse, em entrevista ao UOL.

Investigação sobre família de Jucá

Os policiais de Roraima produziram um relatório com base em dados de relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) sobre movimentações financeiras de familiares do parlamentar. A Buritis Comunicações pertence a Rodrigo Jucá, filho do senador e ex-deputado estadual, e a Rosilene Brito, mulher de Romero. A empresa recebeu R$ 572 mil da Oliveira Energia, segundo reportagem do jornal "Folha de S.Paulo". A firma ganhou um leilão da distribuidora da Eletrobras em Roraima por R$ 50 mil.

A transação merece "análise minuciosa", segundo relatório da Polícia Civil. A Buritis administra a TV Bandeirantes no estado e, segundo o senador Romero Jucá, também "é uma agência de comunicação". Giuliana não informou ao UOL qual o prazo que a Buritis tem para esclarecer esse pagamento. Também não detalhou o andamento das apurações da Draco e da Dopes alegando sigilo.

A Buritis, Rodrigo e Rosilene não prestaram esclarecimentos à reportagem. Mas, em setembro, a empresa dos dois afirmou que os valores se justificam por um contrato de mídia vigente até janeiro de 2017 com a Oliveira Energia.

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que apoiou o leilão, informou que somente o consórcio liderado pela Oliveira Energia participou da concorrência para arrematar a distribuidora da Eletronorte em Roraima, a Boa Vista Energia, em agosto.

O valor de R$ 50 mil foi calculado após estudos de consultorias, como a Pricewaterhouse-Coopers. Ainda assim, isso só foi possível após a Eletrobras, controladora da Eletronorte, injetar R$ 342 milhões na empresa a ser leiloada. O banco informou que os débitos ainda existem e que o consórcio liderado pela Oliveira Energia tem "a responsabilidade legal na qualidade de acionistas pelas dívidas".

A mesma investigação da Polícia Civil diz que Rosilene ainda comprou R$ 65 mil em vestidos de luxo com depósitos não identificados. A filha de Jucá, Marina Jucá, teria recebido R$ 151 mil da Fenixsoft Gestão de Software, prestadora de serviços da prefeitura de Boa Vista, cuja prefeita é Teresa Surita, ex-mulher do senador.

Giuliana afirma que "até agora não" houve comprovação de serviço lícito prestado por empresas da família do senador Romero Jucá (MDB-RR) para justificar valores sob investigação. Os fatos foram revelados em setembro. 

Romero Jucá diz que acusação foi eleitoral

O senador desqualificou as investigações. "A Buritis é uma agência de comunicação", disse Jucá ao UOL. "Eles fizeram isso no período eleitoral para tentar criar um fato mas não deu certo." Jucá perdeu as eleições deste ano e ficará sem mandato a partir de 2019.

Marina Jucá não foi localizada, mas disse à Folha de S.Paulo em setembro que "os valores questionados se referem aos pagamentos que recebeu quando foi diretora comercial da Rede Triângulo Modas, uma antiga rede de varejo, pertencentes à Fenixsoft". "Todos os valores recebidos foram declarados em seu imposto de renda."

Procurada por e-mail, a Oliveira Energia não prestou esclarecimentos ao UOL. Ninguém atendeu os telefonemas da reportagem. O Coaf disse que não comenta casos específicos.

Delegada é afastada no mesmo dia de ação na Assembleia

Suely Campos informou a Giuliana sua retirada do posto na Polícia Civil na quinta-feira passada (6). Naquele dia, havia ocorrido uma ação policial na Assembleia estadual. Os agentes intimaram servidores da Casa e deputados estaduais a prestarem esclarecimentos sobre gastos feitos pelo órgão. "Isso contrariou os interesses do presidente da Assembleia, Jalsen Renier (SD)", avaliou ela. O próprio Romero Jucá afirmou ao UOL que foi este embate que custou o cargo de Giuliana.

A assessoria da Assembleia disse à reportagem "não haver dúvidas de que a ação da Polícia Civil na sede do Poder Legislativo ocorrida no último dia 6 foi ilegal e abusiva". "Diante da grave crise financeira enfrentada pelo Estado, especialmente pela própria Polícia Civil, que não tem atualmente condições mínimas de trabalho, não se pode enxergar com naturalidade o uso de agentes policiais e veículos para a simples entrega de cinco ofícios", afirmou em nota. O órgão disse que "não pode afirmar" se esse fato causou a exoneração da delegada Giuliana Castro.

No dia seguinte, sexta-feira (7), o presidente Michel Temer anunciou a intervenção no estado, um ato tomado após uma reunião em que a governadora participou por telefone. Suely foi afastada do cargo.

O interventor e governador eleito, Antônio Denarium (PSL), assumiu o posto nesta semana. Na terça-feira (11), chamou Giuliana de volta ao cargo. "Recebemos carta branca para investigar quem quer que seja", afirmou a delegada. "É um duro recado para os crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, crime de colarinho branco. Vão continuar sendo investigados."

A reportagem procurou Suely Campos por meio dos telefones registrados em nome de seu marido, o ex-governador Neudo Campos, e do diretório do PP no estado. Ninguém atendeu. Também não houve retorno a mensagens enviadas por correio eletrônico ao partido. A ex-governadora não respondeu pedido de entrevista feito por meio de rede social.