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Bolsonaro nega ter conversado sobre limitar venda de bebida alcoólica

Guilherme Mazieiro e Mirthyani Bezerra

Do UOL, em São Paulo

21/12/2018 22h27Atualizada em 21/12/2018 22h27

O futuro ministro do Ministério da Cidadania - pasta responsável por Desenvolvimento Social, Cultura e Esporte - recuou nessa sexta-feira (21) sobre um projeto para limitar o horário de venda de bebidas alcoólicas no país, como forma de reduzir mortes causadas por pessoas embriagadas.

Em entrevista ao jornal O Globo publicada hoje, Osmar Terra disse que tratou do assunto o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). No fim da tarde, ele e o presidente eleito foram ao Twitter e negaram a intenção.

"Para esclarecer: não há qualquer decisão do futuro governo do Presidente Bolsonaro sobre limitar venda de bebida alcoólica. O que coloquei dentro do contexto de propostas para reduzir pobreza e violência é limitar horário de venda noturna, nos lugares mais violentos. E só", disse na postagem.

Sem dar maiores declarações sobre o assunto, Bolsonaro postou também na sua conta no Twitter que a notícia veiculada pelo O Globo era "fake news". 

Na entrevista, Osmar Terra disse que o objetivo da medida seria "tornar o esporte o 'barato' que a droga dá à juventude". "Música e esporte. Esse é o principal", disse Terra. Ele afirmou ainda ter ido à Islândia para conhecer um programa que reduz o uso de drogas e contou que a base é o incentivo ao esporte, música e dança.

O futuro ministro considerou que a população do país, de cerca de 500 mil habitantes, é incomparável com a do Brasil, que chega a 210 milhões.

Osmar Terra é ex-ministro de Michel Temer e tem um posicionamento contra as drogas e tem diversos posts em redes sociais afirmando que o uso e liberação de maconha fazem mal à saúde e à sociedade.

A assessoria de imprensa do ministro informou ao UOL que os temas abordados na entrevista ainda são tratados inicialmente e que há grande quantidade de temas a serem considerados no ministério como programas de combate às drogas, incentivo ao esporte e desenvolvimento social.

Proposta pode ser positiva

O diretor do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Daniel Cerqueira, considerou que a proposta pode ser positiva se for tratada de maneira pontual e pelas prefeituras.

"Na minha avaliação [a restrição na venda de bebidas] é uma questão secundária no tema segurança pública. Não é a única medida e nem a mais importante para resolver a questão", disse.

Ele entende que a melhor na segurança pública envolve a qualificação dos policiais, organização urbana, iluminação das ruas e problemas de prevenção ao crime olhando a infância e juventude para evitar que as crianças sejam atraídas pelo crime.

"O fechamento tem que ser tratado pelas prefeituras, com discussão junto à sociedade e os comerciantes e bem embasada em dados estatísticos que indiquem essa necessidade. Se fizer de cima para baixo, de forma autoritária, é óbvio que não vai funcionar", considerou Cerqueira.

O diretor do Fórum Brasileiro citou um estudo acadêmico desenvolvido por três pesquisadores que indicou a queda nos índices de violência pelo fechamento de bares.

"Há evidências empíricas que isso funciona. Mas eu destaco que as medidas tiveram efeito em uma situação específica, com um conjunto de ações desenvolvidas junto com o fechamento dos bares", analisou.

O estudo dos pesquisadores Ciro Biderman, João Manoel de Melo e Alexandre Schneider apontou queda de 10% na queda de homicídios em razão da lei seca. O levantamento também indica queda similar nos índices de mortes por acidentes de carro. A publicação "Dry Laws and Homicides: Evidences from the São Paulo Metropolitan Area", foi divulgada pela revista The Economic Journal, em 2010.