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Damares nega que políticas LGBTs deixarão pasta de Direitos Humanos

1º.jan.2019 - O presidente da República, Jair Bolsonaro, e a Ministra da mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves - FÁTIMA MEIRA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
1º.jan.2019 - O presidente da República, Jair Bolsonaro, e a Ministra da mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves Imagem: FÁTIMA MEIRA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Juliana Linhares

Do UOL, em Brasília

02/01/2019 18h46Atualizada em 02/01/2019 22h49

A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, tomou posse nesta quarta-feira (2) na nova pasta criada pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) e negou que a comunidade LGBT terá seu espaço diminuído durante o novo governo. Damares disse que seu ministério será o "mais extraordinário e lindo da nova gestão" e afirmou que tudo que ela fala ou faz "vira ruído".

A ministra tratou do tema sobre os direitos dos LGBTs em seu discurso após a repercussão negativa da Medida Provisória n. 870/19, assinada ontem pelo presidente Bolsonaro.

A MP não traz explicitamente em seu texto a disposição do Ministério em cuidar da questão LGBT. Entre as políticas e diretrizes da nova pasta constam: "Mulheres, crianças e adolescentes, juventude, idosos, pessoas com deficiência, população negra, minorias étnicas e sociais e índios."

Segundo Damares, a imprensa errou ao noticiar que as demandas da comunidade LGBT não estarão mais sob o Ministério dos Direitos Humanos, agora renomeado. Ela afirmou que questão nunca foi tratada por uma secretaria, e sim por uma diretoria, e disse que o tema vai ficar sob a tutela da secretaria nacional de proteção global.

"Tudo que essa ministra faz ou fala vira ruído", ironizou Damares ao se explicar.

Em entrevista ao UOL, Sergio Queirós, Secretário Nacional da Proteção Global, órgão que englobará a questão LGBT, disse que ela "terá a mesma estrutura do governo anterior. Nenhum direito da comunidade será suprimido."

O secretário afirma ainda que "o termo LGBT nunca apareceu em uma MP antes". E informou que "ele vai aparecer quando estruturarmos a secretaria. Ainda não tivemos tempo hábil para isso".

Damares pincelou o assunto do LGBT em outros momentos do discurso. Disse que é "uma mulher sozinha com uma filha e nada vai tirar de nós esse vínculo. Nós somos uma família. E todas as configurações familiares serão respeitadas". E, num momento em que os convidados da posse bateram muitas palmas, declarou: "ninguém vai nos impedir de chamar nossas meninas de princesas e nossos meninos de príncipes".

A nova ministra ainda destacou o papel da família no novo governo. "O governo Bolsonaro vem com outra perspectiva, todas as políticas públicas terão de ser construídas com base na família", afirmou Damares. "Não dá mais para pensar em políticas públicas sem o fortalecimento da família."

Secretarias

Damares Alves anunciou a criação de oito secretarias para seu ministério (confira a lista completa abaixo). Com exclusividade, o UOL antecipou três delas, que serão comandadas por uma surda, uma descendente de índios e pela filha do jurista Ives Gandra Martins. 

Em referência à entrevista que concedeu ao UOL em dezembro, em que revelou ter sido estuprada por pastores evangélicos durante a infância, Damares, com a voz embargada, disse que virou alvo de piadas entre alguns congressistas. "Não tenho orgulho de ter sido barbaramente abusada e isso não me fez ministra", disse ela.

A ministra chorou em vários momentos, especialmente quando se referiu à filha. Adotada de uma comunidade indígena, a menina não compareceu à posse porque, segundo Damares, as duas sofreram ameaças de morte. 

Muitas frases de efeito foram proferidas na fala da ministra e aplaudidas com entusiasmo pelos convidados da cerimônia. Entre elas: "O Estado é laico, mas essa ministra é terrivelmente cristã" e "Disseram que eu não seria ministra. Consegui. Yes!"

Confira abaixo as secretarias do Ministério e seus responsáveis:

  • Secretaria Nacional de Promoção e Defesa da Pessoa Idosa, com Antonio Fernandes
  • Secretaria Nacional de Criança e Adolescente, com Petrúcia de Melo Andrade
  • Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, com Sandra Terena
  • Secretaria Nacional da Família, com Ângela Gandra Martins
  • Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, com Priscila Roberta Gaspar de Oliveira 
  • Secretaria Nacional da Juventude, com Jayana Nicaretta da Silva 
  • Secretaria Nacional da Proteção Global, com Sergio Augusto de Queiroz
  • Secretaria Nacional de Políticas Públicas para Mulheres, com Tia Eron

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.