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Como veteranos observam a "fogueira de vaidades" na novata bancada do PSL?

Luciano Bivar (PSL-PE), à esquerda, e Major Olímpio (PSL-SP), à direita, estão entre os congressistas mais experientes do partido de Jair Bolsonaro - Acervo Câmara dos Deputados
Luciano Bivar (PSL-PE), à esquerda, e Major Olímpio (PSL-SP), à direita, estão entre os congressistas mais experientes do partido de Jair Bolsonaro Imagem: Acervo Câmara dos Deputados

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

08/01/2019 04h00Atualizada em 08/01/2019 13h04

O PSL, que tinha apenas um deputado federal em 2014, recolocou-se no jogo político com 52 nomes na última eleição, tornando-se a segunda maior representação na Câmara. Os pleiteantes da sigla incorporaram com sucesso o perfil que conduziu Jair Bolsonaro à Presidência da República: personalidade forte, presença massiva nas redes sociais e a predisposição ao embate, sobretudo de assuntos polêmicos.

Forjada nas urnas com inegável pluralidade, a bancada possui generais, policiais, jornalistas, herdeiro da família imperial, ex-ator pornô, entre outros personagens. 47 dos 52 eleitos são novatos na vida pública.

"O partido ainda carece de uma identidade. Agora que estamos começando a sedimentar essa cultura partidária", comentou o senador eleito Major Olímpio (PSL-SP), que assumiu seu primeiro mandato em 2010. 

Há exatamente um mês, uma guerra interna instalou-se no partido, e o vazamento de mensagens em um grupo de WhatsApp batizado "Bancada PSL 2019" expôs as intrigas e a disputa por espaços de poder entre os correligionários de Bolsonaro. O conteúdo do diálogo foi reproduzido em reportagem do jornal "O Globo".

Na visão do presidente do PSL, deputado Luciano Bivar (PSL-PE), conflitos ocorrem em razão da "ansiedade" dos parlamentares eleitos. "Todos estão muito ávidos para que possam dar o melhor de si", diz ele, que está em seu terceiro mandato na Câmara Federal.

Em um trecho da conversa de WhatsApp, o próprio Olímpio trocou farpas com a deputada federal eleita Joice Hasselman (PSL-SP). A futura parlamentar, que será empossada junto aos colegas em 1º de fevereiro, também protagonizou bate-boca no aplicativo de mensagens com o deputado reeleito Eduardo Bolsonaro (PSL), filho de Jair Bolsonaro e cotado para ser o líder do partido na Casa. Posteriormente, a discussão se estendeu às redes sociais.

A briga começou pelo fato de Joice se apresentar, à revelia dos colegas, como postulante ao cargo de líder da bancada.

Fato semelhante ocorreu recentemente envolvendo a chefia da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), prometida ao PSL caso Rodrigo Maia (DEM-RJ) saia vitorioso da disputa pela reeleição da Presidência da Câmara. Segundo reportagem da revista "Crusoé", uma deputada do partido teria reivindicado o posto ao presidente Jair Bolsonaro.

Ao UOL, Bivar minimizou o fato. Segundo ele, o sentimento de qualquer parlamentar pesselista será "respeitado". A decisão, no entanto, é coletiva. "Tem todo o resto da bancada para decidir se é a melhor opção".

'Divergências são naturais', diz Bivar

O presidente do PSL argumentou que "é natural que haja, em um primeiro momento, conversas aparentemente conflitantes". Na visão dele, isso ocorre porque todos no partido têm o mesmo anseio e desejam, cada um da sua maneira, contribuir com o projeto do novo governo.

"É natural que haja, em um primeiro momento, algumas conversas que sejam conflitantes aparentemente. Mas não são. Na verdade, todos nós queremos uma economia de mercado aberta. Queremos a garantia da propriedade privada. Queremos a segurança pública forte. Todos têm o mesmo pensamento."

Bivar também negou que a costura política que definiu o apoio da legenda à reeleição de Maia tenha sofrido resistência por parte de uma ala que defendia a candidatura própria. A reunião que selou a aliança com o candidato do DEM, na última quinta-feira (3), contou com apenas 20 deputados --menos da metade do total da bancada.

"No primeiro momento a gente queria sair uma candidatura própria. Todos realmente não queriam o Maia ou qualquer candidato que fosse. No momento que a gente não viabilizou uma candidatura própria, partimos para uma segunda opção. Como a nossa bancada tem uma inteligência privilegiada, teve razoabilidade e racionalidade e o desprendimento de entender que o Maia é o candidato mais gabaritado para que pudéssemos apoiá-lo", comentou.

"Tivemos [na reunião] cerca de 20 deputados que estavam em Brasília. Todos que estavam em Brasília foram, inclusive três senadores. Todos concordaram. Mas foram justamente os que estavam em Brasília. Por uma amostragem, foi 100%. Se há uma pesquisa ali, a gente vai ganhar com 99%."

Bivar defendeu as qualidades da bancada do partido presidido por ele, a quem define como "a mais qualificada". "Nenhum [parlamentar do PSL] veio para a política por populismo. Vieram naquele processo do 'Eu vim de graça' e de pessoas que efetivamente têm um nível intelectual acima da média. Exemplos: a experiência e a inteligência privilegiada de generais, agentes públicos federais concursados, jornalistas. É uma bancada que tem discernimento para saber o que é bom e o que é errado."

Olímpio: 'Não adianta chegar urrando que nem leão'

Já Major Olímpio adota um tom menos condescendente em relação às divergências entre os componentes da futura bancada do PSL. Na visão dele, todos os novatos passarão por um "processo de amadurecimento", com base nas dificuldades da rotina no Parlamento.

"Aqui você precisa aprender a jogar nas regras do jogo", comentou ele, que exerceu dois mandatos na Câmara antes de se eleger senador. "Não adianta chegar urrando que nem leão e depois sair um chiadinho de rato, né?".

De acordo com o senador, as regras do processo legislativo e as negociações inerentes ao jogo político resultam em um "choque de realidade" capaz de derrubar "egos inflados".

"Quando eu cheguei aqui na Câmara, entrava aqui na fila às 7h30 ou 8h da manhã para se inscrever e tentar falar três minutos no pequeno expediente. (...) A dificuldade do espaço e de você pautar um projeto, fazer andar na comissão, a necessidade de você se resignar e pedir às pessoas que um projeto da segurança pública, você implorar para ser atendido. Isso amadurece a gente barbaridade. Não dá para ficar com ego inflado, não."

Olímpio disse considerar que as inconsistências entre os membros do partido também fazem parte de um processo de "construção de identidade partidária". "O PSL era um partido pequeno e, de repente, elegeu mais de 50 deputados. A cada reunião tem muitos que ainda dizem para o outro: muito prazer. (...) A grande maioria agora está aprendendo a ler os conteúdos do estatuto do partido: o que pode e o que não pode. Agora vamos começar a ter uma identidade partidária."