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Oposição e bancada do MA criticam acordo com EUA para Base de Alcântara

Assinatura do acordo foi um dos principais pontos da visita de Bolsonaro aos EUA - Mandel Ngan/AFB
Assinatura do acordo foi um dos principais pontos da visita de Bolsonaro aos EUA Imagem: Mandel Ngan/AFB

Guilherme Mazieiro e Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

20/03/2019 04h00Atualizada em 21/03/2019 16h35

Parlamentares criticaram o acordo feito pelo governo federal que permitirá aos Estados Unidos lançarem satélites com fins pacíficos na Base de Alcântara, no Maranhão. A parceria foi firmada na segunda-feira (18) pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) em um de seus compromissos em solo americano. A iniciativa de cooperação, no entanto, ainda precisa de aprovação do Congresso, onde poderá sofrer resistência.

No Senado, a maranhense Eliziane Gama (PPS) afirmou ter protocolado requerimento de convocação dos ministros da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, e das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, para que prestem esclarecimentos sobre o assunto. O pleito ainda será apreciado pelo plenário.

"Eles [ministros] deverão vir aqui no Senado discutir o teor desse acordo para, quando chegar o texto a esta Casa, nós podermos fazer as alterações, as implementações, as medidas e as emendas que forem necessárias para, quem sabe, promover uma aprovação ou rejeitar, se não estiver levando em consideração esses princípios que nós acabamos de colocar."

Eliziane ressaltou que "ainda não tem um juízo de valor específico" sobre o uso de Alcântara pelo governo de Donald Trump, mas disse considerar que o seu estado natal, o Maranhão, "não pode ficar fora desse debate".

"Não pode se deixar de considerar, por exemplo, a primazia do governo [estadual], a importância do governo na realização de um acordo dessa natureza, porque ele passaria a ser ignorado e automaticamente não poderia compreender e fazer parte desse projeto, que, se tiver a importância necessária, poderá trazer benefícios não apenas para o Maranhão, mas para o Brasil", comentou.

O senador Roberto Rocha (PSDB-MA), que acompanhou Bolsonaro na visita aos Estados Unidos, defendeu o acordo de Alcântara e disse que ele será "importante para o Maranhão, para o Brasil e para o mundo". O parlamentar também lembrou que houve tentativa de parceria semelhante em 2002, mas o Congresso acabou rejeitando.

"Agora, eu não tenho dúvidas de que esse acordo é mais razoável e mais interessante para ambos os países. A base não vai se transformar em um território americano e a soberania brasileira será respeitada. O uso comercial da base trará reflexos positivos ao Brasil, uma vez que o país vai prosperar economicamente no mercado bilionário aeroespacial."

Na Câmara dos Deputados, membros da bancada maranhense também apresentaram uma série de pedidos a fim de acompanhar o acordo sobre a base de Alcântara. Há requerimentos semelhantes aos do Senado para que Pontes e Araújo sejam ouvidos pela Casa.

Um dos protocolos, de autoria do deputado Márcio Jerry (PCdoB-MA), sugere a criação de uma comissão externa. A solicitação está sob análise do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

"As comunidades quilombolas perderam território com a base. Falta investimento e estrutura para aquela população. Temos que ver se os problemas que existiam na região foram resolvidos", declarou.

O parlamentar criticou a falta de diálogo do presidente Bolsonaro com os deputados. "Um acordo dessa magnitude poderia ter sido previamente apresentado ao país. Não sabemos o inteiro teor. Agora ele tem que vir para Câmara e ser debatido."

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Líder do PT fala em "subserviência"

O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), afirmou que a parceria entre Estados Unidos e Brasil representa uma atitude de "subserviência" por parte do governo Bolsonaro. "Em contrapartida, os Estados Unidos não deram nada, a não ser mais um bonezinho de Trump para 2022."

Weverton Rocha (PDT-MA) declarou que o Brasil não pode "abrir mão da soberania nacional" ao permitir o lançamento de satélites americanos em Alcântara sem que o assunto seja discutido pelo Congresso.

"O governo poderia ter trazido essa discussão para levar já de forma mais construída esse entendimento, mas, como sempre, nós apenas fomos comunicados pela imprensa de que houve a assinatura desse acordo", declarou.

Nós somos representantes legítimos do estado e queremos ser ouvidos e olhar detalhes desse acordo. Repito: não podemos admitir que a soberania nacional seja, de qualquer forma, prejudicada ou ameaçada
Senador Weverton Rocha (PDT-MA)

Chico Rodrigues (DEM-RR) foi o único senador que, durante a sessão de ontem, defendeu o acordo com o governo americano. Na visão dele, é necessário "entender que o planeta é uma integração de todos". "E por que esse radicalismo?", questionou ele.

"São milhões de dólares que o país captará com esses lançamentos utilizando essa base. É uma base física a de Alcântara --ou eles vão criar um país ali dentro de Alcântara por acaso?", completou.

O acordo

O documento prevê que satélites sejam lançados por meio de foguetes na base brasileira, que deverá passar a se chamar Centro de Lançamento de Alcântara. Mísseis norte-americanos não poderão ser enviados ao espaço a partir do local, já que o acordo limita o uso para fins pacíficos, informou a assessoria do Ministério da Ciência e Tecnologia.

A intenção de firmar o acordo vem desde o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). O texto foi barrado pelo Congresso Nacional brasileiro na ocasião. A administração do ex-presidente Michel Temer (MDB) voltou a dar andamento às conversas, sem conclusão.

A base em Alcântara é considerada um dos pontos mais privilegiados do mundo para esse tipo de lançamento. Como está próxima da Linha do Equador, permite reduzir até 30% do combustível necessário para a atividade. O acordo é chamado de "salvaguarda tecnológica", por estabelecer que apenas pessoas designadas pelas autoridades dos EUA terão acesso aos artefatos com tecnologia norte-americana. O país detém 80% do mercado espacial e teme espionagem.

Em contrapartida, o Brasil receberá pagamento pelo uso do espaço. No entanto, o ministro Marcos Pontes ainda não soube estimar quanto o Brasil ganhará com o acordo.