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Suíça diz que contas de almirante condenado na Lava Jato estão bloqueadas

Othon Luiz Pinheiro foi condenado a 43 anos de prisão por corrupção durante sua gestão na Eletronuclear - Alan Marques/Folhapress
Othon Luiz Pinheiro foi condenado a 43 anos de prisão por corrupção durante sua gestão na Eletronuclear Imagem: Alan Marques/Folhapress

Jamil Chade e Leandro Prazeres

Do UOL, em Genebra e em Brasília

26/03/2019 16h22Atualizada em 26/03/2019 16h39

Contas bancárias ligadas ao almirante reformado e ex-presidente da Eletronuclear Othon Luiz Pinheiro e sua filha, Ana Cristina Toniolo estão bloqueadas pelas autoridades suíças. A informação foi confirmada pelo Ministério Público daquele país. Em 2018, as autoridades brasileiras assumiram uma investigação que vinha sendo conduzida pela Suíça em relação a essas contas. Os valores bloqueados ainda não foram divulgados.

Em agosto de 2016, Othon Luiz Pinheiro foi condenado a 43 anos de prisão por crimes como corrupção passiva e lavagem de dinheiro investigados pela Operação Lava Jato. Ele foi condenado por receber propina relacionada a contratos entre empreiteiras e a Eletronuclear durante sua gestão na Eletronuclear. Ana Cristina foi condenada a 14 anos de prisão.

Na semana passada, a Força Tarefa da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro pediu a prisão da dupla, mas o juiz federal Marcelo Bretas negou. Segundo os procuradores, autoridades suíças informaram que mesmo após terem sido condenados, Othon Luiz e Ana Cristina tentaram movimentar contas na Suíça das quais eles apareceriam como beneficiários.

Para os investigadores, as tentativas e movimentações mostram que a dupla tentava esconder dinheiro no país europeu mesmo após terem sido sentenciados pela justiça brasileira.

Em comunicado enviado pelo Ministério Público da Suíça, as investigações contra Othon estão relacionadas aos escândalos relacionados ao pagamento de propina pela Odebrecht.

O MP suíço confirma, no comunicado, o bloqueio de recursos atribuídos a Othon. "Dentro desse arcabouço (legal), a Procuradoria-Geral da Suíça bloqueou recursos no país", diz um trecho.

Em outro trecho do comunicado, a procuradoria suíça informa que pediu às autoridades brasileiras que assumissem as investigações que estavam em andamento no país e que estavam relacionadas a Othon e sua filha em dezembro de 2016. Em março de 2018, procuradores brasileiros confirmaram que estavam assumindo o caso.

Na semana passada, a Lava Jato no Rio de Janeiro informou que já iniciou as tratativas com o governo suíço para repatriar os recursos bloqueados no país.

Na ocasião, a defesa de Othon e Ana Cristina afirmaram que não era o momento para se manifestar e que aguardavam a inclusão de documentos de um acordo de leniência nos autos dos processos ligados à dupla.

Ligação com Temer

Segundo a Força Tarefa da Lava Jato no Rio de Janeiro, Othon Luiz Pinheiro participou do esquema que desviou recursos da Eletronuclear para abastecer uma empresa ligada ao ex-presidente Michel Temer. A defesa de Temer nega seu envolvimento nas irregularidades.

O esquema funcionaria com a intermediação do coronel reformado João Baptista Lima Filho, o coronel Lima, apontado como principal operador financeiro de Temer.

Segundo as investigações, Lima era sócio de uma empresa chamada Argeplan. De acordo com depoimento do delator José Antunes Sobrinho, a empresa de Lima foi incluída em um consórcio para escolhido pela Eletronuclear para realizar obras na usina de Angra 3 mesmo sem ter a qualificação técnica para isso.

Segundo Antunes, a inclusão da Argeplan no consórcio tinha o objetivo de repassar recursos para o esquema.

Temer, que foi preso na quinta-feira, foi solto ontem após uma decisão do desembargador do TR2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região) Ivan Athié.