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Pagamento do governo com publicidade sobe 63%; Record supera Globo

Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

15/04/2019 04h00Atualizada em 16/04/2019 13h03

Os pagamentos com publicidade do primeiro trimestre do governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) cresceram 63% em relação ao mesmo período do ano anterior e chegaram a R$ 75,5 milhões. Todos os valores pagos são referentes a despesas contratadas nos anos anteriores, na gestão do ex-presidente Michel Temer (MDB). Os dados foram obtidos a partir de um levantamento feito pelo UOL com base em informações da Secom (Secretaria Especial de Comunicação), vinculada ao Palácio do Planalto.

Em nota, a Secom afirmou que o governo reduziu em 60% o valor referente às veiculações de mídia no primeiro trimestre deste ano em relação aos três primeiros meses do ano passado. Segundo a nota, o governo autorizou a veiculação de R$ 13,3 milhões, enquanto o governo do ex-presidente Michel Temer (MDB) autorizou o pagamento de R$ 33 milhões no mesmo período. Dos 13,3 milhões do governo Bolsonaro, nenhum valor ainda foi pago, segundo a secretaria.

O levantamento também mostra que nos três primeiros meses do ano, a Record passou a Globo e foi o grupo de comunicação que mais recebeu pagamentos de verbas publicitárias. É a primeira vez que ocorre essa inversão em ao menos dois anos, segundo as análises por trimestre.

Os dados tiveram como base os pagamentos feitos pela Secom. Esses dados são compilados em um site alimentado pelo governo. Ele não inclui os gastos em publicidade feito por ministérios e pelas empresas estatais, cujos dados são armazenados em diferentes locais.

Os dados indicam que os pagamentos da Secom com publicidade institucional saíram de R$ 44,5 milhões no primeiro trimestre de 2018 para R$ 75,5 milhões no mesmo período de 2019.

Esses valores são referentes aos gastos do órgão com o pagamento de agências de publicidade, pesquisas de opinião pública, comunicação digital e repasses a veículos de comunicação em todo o Brasil. Corrigindo os números pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que no período variou 4,2%, chega-se a um aumento de 63% entre um ano e outro.

Na comparação com o mesmo período de 2017, o crescimento é ainda maior. Nos primeiros três meses daquele ano, a Secom gastou R$ 35 milhões. Na comparação entre os gastos em 2017 e 2019, o crescimento é de 101%, já descontada a inflação no período.

Os levantamentos foram feitos entre os anos de 2017 e 2019 porque o sistema alimentado pelo governo só passou a compilar informações detalhadas sobre os gastos da secretaria a partir de janeiro de 2017, após a emissão de uma instrução normativa do então Ministério do Planejamento, absorvido posteriormente pelo Ministério da Economia.

Record e SBT passam a Globo em 2019

A comparação entre 2017 e 2019 mostra que, neste ano houve uma aparente quebra no padrão de distribuição das verbas publicitárias repassadas pela secretaria de comunicação do governo.

Os dados mostram que em 2017 e 2018, a Globo encontrava-se isolada na liderança do bolo publicitário, e que Record e SBT se revezavam em segundo lugar. Em 2017, por exemplo, a Globo faturou R$ 6,9 milhões no primeiro trimestre. Em segundo lugar ficou o SBT, com R$ 1,34 milhão. Em terceiro, ficou a Record com R$ 1,21 milhão.

Em 2018, o padrão se manteve. A Globo faturou R$ 5,93 milhões nos três primeiros meses do ano. Em segundo lugar ficou a Record, com R$ 1,308 milhão. Em terceiro ficou o SBT com R$ 1,1 milhão.

Em 2019, o padrão mudou. Em primeiro lugar ficou a Record, com R$ 10,3 milhões. Em segundo, veio o SBT, com R$ 7,3 milhões. Em terceiro veio a Globo, com R$ 7,07 milhões.

Para superar a Globo, Record e SBT tiveram crescimentos exponenciais de seus faturamentos publicitários junto à Secom. Em relação a 2018, o crescimento do faturamento publicitário da Record junto à Secom no primeiro trimestre de 2019 foi de 659%, valor já considerando a variação da inflação no período.

A Rede Record é ligada à Igreja Universal do Reino de Deus, comandada pelo bispo Edir Macedo. O religioso declarou apoio à candidatura de Bolsonaro à Presidência em setembro do ano passado.

Desde que assumiu o poder, o presidente já concedeu duas entrevistas exclusivas à rede. O SBT também experimentou um crescimento exponencial no período: 511%. Enquanto isso, o faturamento dos veículos das Organizações Globo cresceu 19%, saindo de R$ 5,9 milhões para R$ 7,07 milhões.

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Outro lado

Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa do Palácio do Planalto disse que os pagamentos feitos no primeiro trimestre do ano não têm relação com ações determinadas por Bolsonaro.

"Primeiramente, é necessário esclarecer que os valores indicados pelo jornalista se referem aos pagamentos realizados pela veiculação de campanhas publicitárias autorizadas e executadas em anos anteriores, e, portanto, sem relação com os investimentos previstos para a publicidade em 2019", disse.

A assessoria informou que a estimativa de gastos da Secom para todo o ano é de R$ 100 milhões. Sobre o aumento de 659% no volume de repasses da Secom para a Record e de 511% para o SBT, o órgão disse apenas que os pagamentos são feitos após a comprovação da veiculação e que eles são feitos por ordem cronológica.

A reportagem enviou questionamentos às assessorias de imprensa da Record e do SBT, mas até a última atualização desta matéria, não obteve resposta.

Em nova nota enviada à Redação nesta segunda, a Secom diz:

"Ao contrário do informado na matéria, a Secretaria Especial de Comunicação Social reduziu em 60% os gastos em publicidade no primeiro trimestre de 2019.

Cabe explicar que, no governo do ex-presidente Michel Temer, a Secom veiculou o total de R$ 33 milhões em suas campanhas publicitárias no primeiro trimestre. No mesmo período de 2019, a Secretaria veiculou R$ 13,3 milhões em publicidade. Portanto, as informações da matéria não procedem.

Além disso, são inverídicos os dados publicados a respeito de investimentos feitos por canal de televisão. Em 2019, a Secom destinou à TV Globo o total de R$ 1,9 milhão. Para o SBT foi direcionado o total de R$ 1,4 milhão e, por fim, para a Record, R$ 1,2 milhão.

Reiteramos o compromisso da transparência, da economicidade e do tecnicismo na aplicação e distribuição dos recursos publicitários.

Secretaria Especial de Comunicação Social"