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Bancada da bala dobra homenagens a policiais na Assembleia do Rio

Atirador posicionado durante sequestro de ônibus com reféns na ponte Rio-Niterói - Ricardo Cassiano - 20.ago.2019 /Estadão Conteúdo
Atirador posicionado durante sequestro de ônibus com reféns na ponte Rio-Niterói Imagem: Ricardo Cassiano - 20.ago.2019 /Estadão Conteúdo

Gabriel Sabóia

Do UOL, no Rio

26/08/2019 04h00Atualizada em 29/08/2019 12h20

Deputados da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) concederam a Medalha Tiradentes —a maior honraria do estado— a 25 integrantes das Forças Armadas, delegados, policiais militares e bombeiros desde o início do mandato, em fevereiro deste ano. No mesmo período de 2015, quando se iniciou a legislatura anterior, foram 13 homenagens —um aumento de 92%.

Nesta semana, os deputados estaduais do PSL, que junto com o PSC compõem a chamada bancada da bala na Alerj, propuseram a homenagem aos três atiradores de elite da Polícia Militar que participaram da ação que matou Willian Augusto da Silva, autor do sequestro de um ônibus com 39 pessoas, na manhã da última terça-feira (20), na ponte Rio-Niterói.

Criada para homenagear pessoas que prestaram serviços relevantes ao estado, a Medalha Tiradentes é citada por especialistas como uma espécie de "barganha política" nos dias atuais.

A condecoração conta, no currículo de policiais e militares, como um fator decisivo para promoções nos quadros internos. Em contrapartida, os políticos que homenageiam esses profissionais costumam ganhar apoios nos seus redutos eleitorais, na avaliação do cientista político Paulo Baía, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

"Essa realidade [de uso político da Medalha Tiradentes] é antiga. O segmento contemplado é que é outro e se deve ao novo perfil da Alerj, no qual o PSL cresceu muito na última eleição e tem uma bancada com 12 deputados. É um partido que tem um compromisso assumido com as forças de segurança do estado e faz este uso. A verdade é que há alguns anos a Medalha Tiradentes vem sendo banalizada. A homenagem tem servido aos interesses diretos e menores dos deputados estaduais", diz o professor.

Baía também cita o discurso e a comemoração do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), após a morte do sequestrador do ônibus na Ponte Rio-Niterói, como um fator que endossa esse tipo de homenagem.

"A atitude do Witzel ao comemorar o desfecho da ação policial e a morte do sequestrador, certamente, é um propulsor de marketing político. Com seus atos, eles reforça o discurso de guerra social e procura falar para os que querem esse comportamento. A comemoração está longe de expressar o enaltecimento de uma ação bem feita. A partir daí, também na onda de capitalizar politicamente o episódio, deputados alinhados a ele propõem homenagens. É cíclico", completa.

"Precisamos valorizar os heróis", diz deputado

Autor do projeto que pretende conceder a Medalha Tiradentes aos três snipers que participaram da ação na Ponte Rio-Niterói, Filippe Poubel (PSL) diz que a sua intenção é valorizar a atuação policial, mas nega a troca política.

"Os policiais foram verdadeiros heróis, colocaram as suas vidas à disposição da sociedade e nenhum inocente foi vitimado. O governador Witzel teve a atitude mais correta possível ao comemorar o desfecho. São atos como este que mostram que o Rio de Janeiro tem hoje uma nova e bem-sucedida política de segurança. A concessão da Medalha Tiradentes é o reconhecimento ao trabalho policial, de valorização do serviço prestado com excelência pelo agente de segurança pública", afirma.

Além da concessão da Medalha Tiradentes aos snipers, o deputado quer que as duas equipes do Bope (Batalhão de Operações Especiais) mobilizadas para a negociação de rendição de William sejam homenageadas com uma moção de aplausos pelos 70 deputados da Alerj. Toda a bancada fluminense do PSL (composta por 12 parlamentares) assina a coautoria do projeto que ainda não tem data para a votação.

Especialistas ouvidos pelo UOL em relação à decisão do sniper de efetuar o disparo que matou Willian afirmaram ser impossível dizer se o desfecho da negociação foi correto ou não, já que não se pode concluir se o sequestrador estava rendido no momento em que deixou o ônibus.

Willian Augusto da Silva, 20, foi morto depois de mais de quatro horas de negociações. Autoridades de segurança e o governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel (PSC) afirmam que ele ainda ameaçava atear fogo no ônibus, no momento em que foi morto, com um isqueiro na mão. De acordo com seus familiares, o jovem sofria de transtornos psiquiátricos.