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Vazamentos da Lava Jato

Lula: mensagens da Lava Jato sobre morte de Marisa causam "repulsa"

Igor Mello

Do UOL, do Rio

27/08/2019 18h07

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, na tarde de hoje, que recebeu com "extrema indignação" e "repulsa" as mensagens trocadas em chats privados por procuradores da força-tarefa da Lava Jato que ironizaram a morte da ex-primeira-dama Marisa Letícia, sua mulher, bem como seu luto pela perda do irmão Genival Inácio da Silva, o Vavá. As mensagens foram entregues por fonte anônima ao site The Intercept Brasil e analisadas em parceria com o UOL.

Por meio de nota enviada ao UOL (leia a íntegra abaixo), Lula disse que os procuradores "referem-se de forma debochada e até desumana" às mortes de seus entes queridos. Ele afirma ter recebido as revelações da reportagem com "extrema indignação".

"Foi com extrema indignação, com repulsa mesmo, que tomei conhecimento dos diálogos em que procuradores da Lava Jato referem-se de forma debochada e até desumana às perdas de entes queridos que sofri nos anos recentes: minha esposa Marisa, meu irmão Vavá e meu netinho Arthur".

04.fev.2017 -- Lula se emociona durante o velório de sua mulher Marisa Letícia, em São Bernardo do Campo (SP) - Nacho Doce/Reuters - Nacho Doce/Reuters
04.fev.2017 -- Lula se emociona durante o velório de sua mulher Marisa Letícia, em São Bernardo do Campo (SP)
Imagem: Nacho Doce/Reuters

O ex-presidente afirma ainda que esta terça-feira (27) foi "um dos momentos mais tristes" na prisão. Lula disse não imaginar até então que "o ódio que nutriam" contra ele "chegasse a esse ponto".

"Mas não imaginava que o ódio que nutriam contra mim, contra o meu partido e meus companheiros, chegasse a esse ponto: tratar seres humanos com tanto desprezo, como se não tivessem direito, no mínimo, ao respeito na hora da morte. Será que eles se consideram tão superiores que podem se colocar acima da humanidade, como se colocam acima da lei?", afirmou.

Após saberem da morte de Marisa, procuradores da Lava Jato fizeram comentários irônicos sobre o fato. A procuradora Laura Tessler negou que as ações da força-tarefa contra Lula e sua família tenham influenciado no estado de saúde da ex-primeira dama.

"Ridículo... Uma carne mais salgada já seria suficiente para subir a pressão... ou a descoberta de um dos milhares de humilhantes pulos de cerca do Lula", afirma Laura em 4 de fevereiro de 2017, um dia após a morte.

No dia 24 de janeiro, quando foi noticiada a internação de Marisa, o chefe da força-tarefa em Curitiba, Deltan Dallagnol, disse aos colegas ter recebido informações de que ela chegou ao pronto-socorro "sem resposta, como vegetal". Com base nisso, o procurador Januário Paludo aponta, sem nenhuma prova: "Estão eliminando as testemunhas...".

Após o pedido de Lula para ir ao enterro de seu irmão Vavá —que só viria a ser atendido parcialmente pelo ministro Dias Toffoli, do STF (Supremo Tribunal Federal), quando o velório já havia começado—, o procurador Antônio Carlos Welter afirma que Lula teria direito de ir à solenidade, embora concordasse com a PF (Polícia Federal) no argumento de que não havia condições para atender o pleito do ex-presidente.

Januário Paludo então ironiza o posicionamento do colega de força-tarefa: "O safado só queria passear e o Welter com pena".

A despedida de Lula do neto Arthur Araújo Lula da Silva, que morreu aos 7 anos em março, também foi assunto entre procuradores da Lava Jato e alvo de crítica em chat composto por integrantes do MPF.

Procurada, a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba disse ontem que não poderia se manifestar sem ter acesso integral às conversas. O espaço continua aberto a manifestações de seus procuradores.

Após reportagem, defesa reitera pedido de liberdade no STF

A defesa de Lula protocolou na tarde de hoje uma petição no STF reiterando um pedido de habeas corpus em favor do petista que já tramita desde o começo do mês na Corte. A nova manifestação dos advogados inclui reportagem publicada nesta terça-feira pelo UOL.

A petição 50584 foi protocolada às 13h06 no STF pelo advogado Cristiano Zanin, que comanda a defesa de Lula, de acordo com o sistema de protocolo do Tribunal.

Segundo a jornalista Monica Bergamo, colunista do jornal Folha de S.Paulo, Zanin argumenta na peça que os procuradores nutrem "ódio e desapreço pessoal" por Lula e sua família. O relator do habeas corpus é o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF.

"Referidas mensagens mostram, em verdade, que a atuação dos procuradores da República em questão sempre foi norteada por ódio e desapreço pessoal pelo paciente e pelos seus familiares", diz trecho do documento.

Pela manhã, o estafe de Lula já havia anunciado nas redes sociais que os advogados do ex-presidente tomariam providências com base nas revelações feitas pelo UOL.

"A defesa de Lula entrou com Habeas Corpus no Supremo Tribunal Federal pedindo suspeição dos procuradores de Curitiba. As mensagens reforçam a já evidente parcialidade, perseguição e desvios funcionais deles contra Lula e sua família. #TimeLula #LulaLivre", comunicou.

Leia a íntegra da declaração de Lula sobre as mensagens dos procuradores:

"Confesso que foi um dos mais tristes momentos que passei nessa prisão em que me colocaram injustamente. Foi como se tivesse vivido outra vez aqueles momentos de dor, só que misturados a um sentimento de vergonha pelo comportamento baixo a que algumas pessoas podem chegar.

Há muito tempo venho dizendo que fui condenado por causa do governo que fiz e não por ter cometido um crime sequer. Tenho claro que Moro, Deltan e os procuradores agiram com objetivo político, pois me condenaram sem culpa e sem prova, sabendo que eu era inocente.

Mas não imaginava que o ódio que nutriam contra mim, contra o meu partido e meus companheiros, chegasse a esse ponto: tratar seres humanos com tanto desprezo, como se não tivessem direito, no mínimo, ao respeito na hora da morte. Será que eles se consideram tão superiores que podem se colocar acima da humanidade, como se colocam acima da lei?

Peço a Deus que ilumine essa gente, que poupe suas almas de tanto ódio, rancor e soberba. Quanto aos crimes que cometeram contra minha família e contra o povo brasileiro, tenho fé que, deles, um dia a Justiça cuidará".

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