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Cinco frases de Bolsonaro para entender por que força de Moro está em xeque

Bolsonaro e Sérgio Moro no Planalto - Pedro Ladeira/Folhapress
Bolsonaro e Sérgio Moro no Planalto Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Felipe Amorim

Do UOL, em Brasília

29/08/2019 18h05Atualizada em 29/08/2019 18h05

Nos oito meses de governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL), o ministro da Justiça, Sergio Moro, viu seu prestígio político ser reduzido por atos e declarações do presidente.

Anunciado como o superministro que teria "carta-branca" para atuar, Moro teve sua força no governo posta em xeque após Bolsonaro ameaçar interferir no comando da PF (Polícia Federal), subordinada administrativamente ao ministro, a após o presidente afirmar ter poder de veto sobre atos do ex-juiz federal.

Agora, a decisão de Bolsonaro sobre os vetos ao projeto de lei de abuso de autoridade, esperada para o início do próximo mês, pode ser um novo teste para a relação entre ele e Moro.

O ministro defendeu o veto a pontos do projeto sob o argumento de ameaçam a livre atuação de investigadores e juízes. O veto do presidente ao texto, como quer Moro, pode desgastar a relação de Bolsonaro com o Congresso Nacional, de quem depende para ver aprovadas medidas como a indicação de seu filho Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para a embaixada de Washington e a aprovação final da reforma da Previdência.

Moro já enfrenta ele próprio resistência do Congresso em aprovar seu pacote anticrime. Além disso o ministro também teve sua imparcialidade como juiz colocada em dúvida após os vazamentos de mensagens privadas de integrantes da força-tarefa da Lava Jato.

Hoje, em evento no Palácio do Planalto para lançar um plano de combate à criminalidade em cidades brasileiras, ao lado de Moro, Bolsonaro fez um afago público ao ministro e afirmou que ele é um "patrimônio nacional".

Sobre as críticas, Moro tem respondido que: "O compromisso com o presidente Jair Bolsonaro de enfrentamento à corrupção e ao crime organizado permanece igual ao assumido em novembro de 2018, sem qualquer alteração", afirmou o ministro, em nota.

Frota vê Moro perdendo força a cada dia no governo

UOL Notícias

Veja abaixo o que Bolsonaro já disse sobre o ministro e entenda o contexto de cada fala.

Carta branca - Novembro de 2018

Parabéns à Lava Jato. O recado que eu estou dando a vocês é a própria presença do Sergio Moro no Ministério da Justiça, com todos os meios, inclusive o Coaf [órgão de fiscalização de transações financeiras], para combater a corrupção. Ele pegou o Ministério da Justiça e é integralmente dele o ministério, sequer influência minha existe em qualquer cargo daquele ministério. E o compromisso que eu tive com ele é carta branca para combate à corrupção e ao crime organizado. Com toda a certeza ele terá sucesso e os reflexos positivos disso toda a população brasileira sentirá

A frase foi dita em novembro de 2018, antes da posse na Presidência, quando Bolsonaro já tinha anunciado Moro para o cargo de ministro da Justiça, quando a ideia era fortalecer as atribuições da pasta com a incorporação do antigo Ministério da Segurança Pública.

Dias depois, em dezembro, Bolsonaro voltou ao tema em entrevista e disse que Moro teria liberdade para escolher os cargos no Ministério da Justiça.

"O ministro Moro, como os outros, tem total liberdade para escolher todo o seu primeiro, segundo, terceiro escalão", disse o presidente.

Quem manda sou eu - 16 de agosto

Se ele resolveu mudar, vai ter que falar comigo. Quem manda sou eu, vou deixar bem claro. Eu dou liberdade para os ministros todos, mas quem manda sou eu. Pelo que está pré-acertado, seria lá o [superintendente] de Manaus

Após atropelar a Polícia Federal no anúncio da troca no comando da Superintendência da PF no Rio, Bolsonaro afirmou dar liberdade aos ministros mas que "quem manda" é ele. A declaração foi dada em resposta a jornalistas que pediram que ele comentasse a troca na PF do Rio.

"Quando vão nomear alguém, falam comigo. Eu tenho poder de veto, ou vou ser um presidente banana agora? Cada um faz o que bem entende e tudo bem?", disse o presidente.

Bolsonaro tinha dado declarações de que preferiria para o posto no Rio o atual superintendente da PF no estado do Amazonas, Alexandre Silva Saraiva. Mas esse não era o escolhido pelo diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, que preferia o delegado Carlos Henrique Oliveira Sousa, atual superintendente regional em Pernambuco.

Valeixo foi indicado para chefiar a PF por Moro e é considerado da confiança do ministro, com quem atuou na Operação Lava Jato. O diretor-geral da PF chegou a ameaçar entregar o cargo caso prevalecesse a indicação de Bolsonaro para a PF no Rio.

Após as rusgas públicas, o presidente deu sinais de ter recuado e a PF manteve internamente a escolha pelo preferido por Valeixo, mas decidiu adiar o processo formal de indicação.

Posso trocar o diretor da PF - 22 de agosto

Agora há uma onda terrível sobre superintendência. Onze [superintendentes] foram trocados e ninguém falou nada. Sugiro o cara de um estado para ir para lá: 'Está interferindo'. Espera aí. Se eu não posso trocar o superintendente, eu vou trocar o diretor-geral

A declaração do presidente foi feita na saída do Palácio da Alvorada, ao ser questionado se ele pretendia retirar Maurício Valeixo da diretoria-geral da PF.

Em evento na véspera, o presidente rebateu às críticas à sua possível interferência na PF e disse que a eleição dava legitimidade à sua atuação.

"Houve uma explosão junto à mídia no Brasil, uma explosão. Está interferindo? Ora, eu fui [eleito] presidente para interferir mesmo, se é isso que eles querem. Se é para ser um banana ou um poste dentro da Presidência, tô fora", disse nesta quarta-feira (21) na abertura do Congresso Aço Brasil.

Fim da carta branca - 24 de agosto

No último fim de semana, ao ser questionado sobre se Moro ainda possuía a carta branca que lhe foi outorgada no início do governo, Bolsonaro respondeu que, como presidente, ele tem poder de veto sobre "qualquer coisa".

Olha, carta branca. Eu tenho poder de veto em qualquer coisa, se não eu não sou presidente. Todos os ministros têm essa ingerência minha e eu fui eleito para mudar. Ponto final

Na mesma ocasião, Bolsonaro também negou ter qualquer problema com o ministro da Justiça.

"Não tenho problema nenhum com o Moro. Cada hora [os veículos de comunicação] levantam uma coisa. Uma hora era Marcelo Álvaro Antonio [Turismo], o Onyx [Casa Civil] também", disse.

Patrimônio Nacional - 29 de agosto

Em cerimônia no Planalto de lançamento de um plano-piloto de segurança pública, Bolsonaro afagou o ex-juiz federal e o chamou de "patrimônio nacional".

Se Deus quiser, vai dar certo esse plano-piloto, montado pelo Ministério da Justiça e Segurança, tendo à frente o senhor Sergio Moro, que é um patrimônio nacional

A fala arrancou palmas da plateia, formada majoritariamente por ministros e parlamentares aliados.

"Obrigado, Sergio Moro, que vossa senhoria abriu mão de 22 anos de magistratura para, não entrar numa aventura, mas sim na certeza que todos nós juntos podemos sim fazer melhor para nossa pátria", afirmou o presidente.

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.