Topo

Diretora do PSL no Rio é suspeita de vender lotes em área de milícia

Alessandra Ferreira de Araújo, integrante do diretório do PSL do Rio, e Flávio Bolsonaro em evento de campanha, em 2018 - Reprodução
Alessandra Ferreira de Araújo, integrante do diretório do PSL do Rio, e Flávio Bolsonaro em evento de campanha, em 2018 Imagem: Reprodução

Constança Rezende

Colaboração para o UOL, em Brasília

03/09/2019 04h00

Alessandra Ferreira de Araújo, integrante do diretório do PSL no município do Rio, é investigada pela Polícia Civil por suspeita de vender lotes ilegais em um terreno em Paciência, zona oeste do Rio.

O empreendimento imobiliário chamado Residencial Gabriela já foi alvo de operações policiais três vezes. Procurada pelo UOL, Alessandra disse desconhecer as acusações.

A integrante do PSL é investigada em inquérito da Polícia Civil do Rio por parcelamento de solo urbano do Residencial Gabriela. Ela foi intimada na semana passada pelo delegado Marcus Henrique para prestar esclarecimentos sobre o caso, na 36ª Delegacia de Polícia (Santa Cruz).

Alessandra também é citada em inquérito da Polícia Federal. O procedimento foi resultado de uma operação realizada em janeiro do ano passado no mesmo terreno. Na ocasião, policiais encontraram, em um contêiner, contratos ilegais de "promessas de compra e venda" de lotes, além de extração ilegal de barro.

No documento apreendido pela PF, havia o nome de Alessandra como "proprietária terrenista" do Residencial Gabriela. Os lotes eram anunciados em outdoors com venda "diretamente com o proprietário, com parcelas a partir de R$ 600, sem análise de crédito". "Aqui você pode", dizia o anúncio, que também incluía. "Aceitamos seu carro como entrada".

Em abril do ano passado, policiais da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente também estiveram no local, no âmbito da Operação Nocaute. Esta operação teve como objetivo desmantelar um grupo de milicianos da zona oeste da cidade. Na ocasião, eles prenderam um homem que trabalhava no local.

O delegado que conduzia as investigações na época, Antonio Ricardo, chegou a dizer que "o loteamento clandestino é uma fonte de renda da milícia que a gente vai combater com mais intensidade".

"Esses marginais pegam áreas públicas e, às vezes até particulares e fazem estes loteamentos e depois vendem esses terrenos para pessoas de boa-fé. É importante que as pessoas que fazem aquisições desses lotes, terrenos, se certifiquem da documentação para não passar pelo constrangimento de terem a obra demolida no meio da construção", afirmou ao jornal o Globo sobre a operação.

Uma outra ação no terreno prendeu os policiais militares Alan e Alex Rodrigues de Oliveira, irmãos de Valdencie Meliga, presidente do PSL no município do Rio. Conforme o UOL noticiou, os dois também operam para o partido do presidente Jair Bolsonaro.

De acordo com o sistema do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Alessandra Ferreira de Araújo é "vogal" do diretório do partido no Rio. Este cargo tem como função participar de assembleias do partido e ajuda na tomada de decisões.

Alessandra também aparece em várias fotos em redes sociais ao lado do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e Major Fabiana, eleita deputada federal pelo PSL do Rio e que hoje atua como secretária de vitimização no governo de Wilson Witzel.

Major Fabiana (eleita deputada federal pelo PSL do Rio e atual secretária de vitimização do governo de Wilson Witzel), Alessandra Ferreira e o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) - Reprodução - Reprodução
Major Fabiana (eleita deputada federal pelo PSL do Rio e atual secretária de vitimização do governo de Wilson Witzel), Alessandra Ferreira e o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ)
Imagem: Reprodução

A integrante do PSL também tem amizades em sua rede social com figuras conhecidas do partido, como o ex-funcionário de Flávio Fabrício Queiroz, citado em relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) por movimentação financeira atípica e de Valdenice Meliga, irmã dos policiais militares Alan e Alex que operavam no local.

O PSL Rio foi procurado para falar do caso envolvendo Alessandra. Em nota, o partido respondeu que "não tem qualquer relação com o terreno citado" e que "questões que envolvam o assunto devem ser direcionadas às pessoas envolvidas no caso".

"O partido condena a tentativa da reportagem de criar uma ligação entre a sigla e supostas irregularidades cometidas por terceiros, uma narrativa que pode induzir os leitores ao erro. Ademais, a Justiça, o MP e a Polícia tem instrumentos adequados à apuração de eventuais ilícitos e responsabilização dos agentes", afirmou.

A assessoria do senador Flávio Bolsonaro informou que não ele vai se pronunciar sobre o assunto.