Em protesto no Rio, procuradores criticam escolha de Aras para a PGR
Dezenas de procuradores do MPF (Ministério Público Federal) fizeram uma manifestação contra a indicação de Augusto Aras para o cargo de procurador-geral da República na manhã de hoje em frente à sede do órgão, no centro do Rio de Janeiro.
A nomeação, feita pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) na semana passada, não seguiu a lista tríplice (cuja escolha é feita a partir dos três nomes mais votados pelos procuradores federais, e é seguida desde 2003).
Terceiro mais votado para a lista tríplice, o procurador Blal Dalloul declarou que a classe não deixará que a PGR se torne "um balcão de negócios".
"Não ficaremos calados se vermos que a PGR possa vir a ser um balcão de negócios. Não vamos aceitar. Ele tem que respeitar a Constituição Federal. A sociedade espera um PGR comprometido contra a corrupção", declarou Dalloul.
"Essa construção de anos e anos de um trabalho sério contra a corrupção, pela cidadania e a favor da sociedade não pode ser interrompida como se fosse um jogo. O MPF não é um jogo, não é um laboratório, e preocupa quando o presidente diz aos seus apoiadores para não fazerem críticas e esperarem para ver como o PGR vai se comportar. O que ele espera do PGR? O presidente tem um procurador; o MPF ainda não tem", criticou ele.
Questionado sobre o risco que a indicação representaria para os trabalhos da operação Lava Jato, disse: "Não sabemos [se é uma ameaça para a Lava Jato]. O Dr. Augusto Aras não conversou com a classe, não dialogou com a carreira, nós não sabemos qual são os projetos dele e qual é a plataforma dele".
"O Dr. Augusto Aras veio após várias conversas com o presidente. Veio com um cartão de visitas dizendo que ele é o candidato que está alinhado com o governo. Com qual governo? Com quais princípios? A Constituição Federal assegura ao presidente escolher a PGR, só que a PGR tem seus próprios princípios garantidos na Constituição Federal. Nós não ouvimos ainda em lugar nenhum que serão assegurados. Eu vejo risco para todas as operações do MPF, sim."
Já o procurador Sérgio Pinel, que atua nos processos da Lava Jato no Rio, disse que a questão é superior à própria operação.
"A indicação de um PGR fora da lista tríplice deixa um vácuo de liderança no MPF. A indicação fora da lista tríplice é muito superior a qualquer fato relacionado à Lava Jato, não se limita a isso. Nossa questão é uma perda de legitimidade em quem vai ocupar o cargo da PGR sem ter um diálogo com os membros da instituição", afirmou Pinel.
"Caso haja a aprovação no Senado, Ele vai iniciar o mandato com um problema sério na sua legitimidade, de modo que as suas decisões iniciais serão questionadas e isso é ruim para a sociedade. Na nossa visão, essa indicação foi equivocada", finalizou ele.
A manifestação foi organizada pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR). A procuradora Maria Cristina Manella Cordeiro leu uma carta elencando os motivos pelos quais o MPF é contrário à decisão do presidente.
De acordo com os procuradores do MPF, não há dispositivos legais que impeçam a nomeação.
O indicado por Bolsonaro vai passar por uma sabatina no Senado Federal, que deve aprovar ou não o ingresso de Aras no cargo.
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