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Receita, Inpe, MEC: em 9 meses, governo acumula baixas em cargos-chave

Marcos Cintra, demitido da Receita Federal hoje - Pedro Ladeira/Folhapress
Marcos Cintra, demitido da Receita Federal hoje Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Felipe Amorim

Do UOL, em Brasília

11/09/2019 17h38

Anunciada nesta tarde, a saída do secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, é só mais uma das diversas baixas em cargos estratégicos em menos de nove meses da gestão de Jair Bolsonaro (PSL).

À frente do cargo desde o início do ano, Cintra foi mais um a deixar a administração por conta de divergências políticas e de falta de alinhamento com as diretrizes do presidente.

O motivo da demissão de Cintra foi a divulgação antecipada de estudos para uma reforma tributária, incluindo a cobrança de uma taxação nos moldes da antiga CPMF, segundo reportagem da Folha de S.Paulo. Bolsonaro, no Twitter, afirmou que a saída foi por que o secretário "tentou recriar a CPMF".

Em outras áreas do governo, impasses similares, atrito com o clã Bolsonaro, dentre outros motivos, também levaram a trocas de comando.

No primeiro escalão, o governo já substituiu os ministros da Educação, da Secretaria do Governo e da Secretaria Geral da Presidência. E houve trocas também nas outras fileiras. Relembre:

Inpe

No início do mês, o físico Ricardo Galvão foi demitido da direção do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), após o presidente Jair Bolsonaro ter criticado a divulgação pelo instituto de dados mostrando que o desmatamento na Amazônia cresceu 88% em junho, em comparação com o mesmo período no ano passado.

Posteriormente, Bolsonaro confirmou ter pedido a exoneração de Galvão do cargo. "Eu não peço. Certas coisas eu mando. Por isso que sou presidente. Após as declarações dele a meu respeito, pessoais, não tinha clima para continuar mais. Não tinha clima", afirmou o presidente.

Receita Federal

A reestruturação feita pelo presidente Jair Bolsonaro no Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), em agosto, levou à demissão de Roberto Leonel da presidência do órgão.

Leonel é aliado do ministro da Justiça, Sergio Moro, com quem atuou na época em que o ministro comandava os processos da Operação Lava Jato, como juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba.

O governo estava insatisfeito com Leonel após o chefe do Coaf criticar publicamente a decisão do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli, que suspendeu as investigações que utilizaram informações detalhadas do órgão.

A decisão de Toffoli beneficiou o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, que é alvo de investigações do Ministério Público do Rio de Janeiro sobre movimentações suspeitas envolvendo funcionários de seu antigo gabinete na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro).

O governo Bolsonaro editou uma Medida Provisória que transferiu o Coaf do Ministério da Economia para o Banco Central e mudou o nome do órgão para Unidade de Inteligência Financeira.

O Coaf é responsável por notificar às autoridades movimentações fianceiras suspeitas em casos muitas vezes ligados à corrupção, lavagem de dinheiro e ao crime organizado.

Economia

Em junho, o economista Joaquim Levy pediu demissão da presidência do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), após o presidente Jair Bolsonaro declarar que ele estava "com a cabeça a prêmio".

Educação

Em maio, o presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Educacionais), Elmer Vicenzi, foi demitido do cargo após divergências sobre a transparência na divulgação de dados produzidos pelo instituto.

O Inep é responsável pela elaboração do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).

O antecessor de Vizenzi na presidência do Inep, Marcos Vinicius Rodrigues também foi demitido do cargo, em abril. A demissão de Rodrigues foi efetivada após divergências com o então ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, sobre a suspensão da avaliação nacional da alfabetização.

O ministro da Educação também foi demitido.

Comércio exterior

Em janeiro, a poucos dias do início do governo Bolsonaro, o presidente da Apex (Agência de Promoção de Exportações do Brasil) Alecxandro Carreiro foi demitido após entrar em conflito com diretores indicados pelo Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.

Em abril, o sucessor de Carreiro na Apex, Mário Vilalva, também foi exonerado do cargo, após divergências com chanceler por causa de alterações no regimento da Apex que retiravam poderes do presidente da agência e ampliavam a força de seus diretores.