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Lava Jato aliviou punição para Odebrecht e executivos, mostram mensagens

Fachada da Odebrecht - Eduardo Anizelli/Folhapress
Fachada da Odebrecht Imagem: Eduardo Anizelli/Folhapress

Do UOL, em São Paulo

22/09/2019 09h58

Procuradores da Operação Lava Jato pouparam a Odebrecht e seus principais executivos de ações mais severas que foram cogitadas durante as negociações do acordo de leniência com a companhia e de delação premiada com os funcionários, firmados a partir de 2016.

Em reportagem publicada hoje (22) pela "Folha de S. Paulo", mensagens obtidas pelo site "The Intercept Brasil" e analisadas junto com a equipe do jornal mostram que os procuradores cogitaram obrigar os donos da Odebrecht, entre eles Marcelo Odebrecht, a venderem suas ações na empresa e se afastarem completamente do comando da companhia após a delação.

Marcelo Odebrecht, presidente do grupo, foi preso na Operação Lava Jato - Antônio More/Gazeta do Povo/Estadão Conteúdo - Antônio More/Gazeta do Povo/Estadão Conteúdo
Marcelo Odebrecht, presidente do grupo, foi preso na Operação Lava Jato
Imagem: Antônio More/Gazeta do Povo/Estadão Conteúdo

Os procuradores também analisaram a possibilidade de impedir que a Odebrecht arcasse com o pagamento de advogados ou multas no lugar dos delatores, porque, desta forma, os executivos manteriam o patrimônio acumulado durante o período em que atuaram na empresa.

A Odebrecht se comprometeu a pagar tais despesas aos executivos, além de indenizá-los pela perda de bens confiscados durante as investigações e por danos causados às suas reputações. Isso se mostrou fundamental para que aceitassem participar do acordo de delação, mas foi alvo de críticas dos procuradores no início das negociações.

Preocupação com a quebra da companhia

As mensagens mostram, ainda, preocupação dos procuradores com a situação financeira da empresa, já que ações mais duras poderiam comprometer o caixa da companhia e levar a demissões, gerando uma reação adversa da sociedade.

"Alerto: a ode [Odebrecht] não deve quebrar. Se quebrar, vamos nos deslegitimar. O acordo - é assim no mundo - deve salvar empregos. Temos de ter muito cuidado com isso", alertou o procurador Marcelo Miller em mensagem no Telegram, segundo o material divulgado pela reportagem.

Os acordos firmados tiveram duro impacto na companhia, que se desfez de vários negócios, demitiu milhares de funcionários e rolou dívidas com bancos. Neste ano, a Odebrecht entrou com pedido de recuperação judicial para renegociar suas dívidas.

Emílio hesitou em delatar

Mensagens mostram que Emílio Odebrecht hesitou, num primeiro momento, em se tornar um delator por temer os danos à imagem da companhia, mas acabou cedendo ao saber que o acordo não sairia sem a sua participação. No entanto, o empresário foi autorizado a continuar no comando do conselho de administração do grupo por dois anos para reorganizá-lo antes de cumprir dois anos de pena em prisão domiciliar.

Emílio Odebrecht aceitou virar delator após saber que acordo não sairia sem a sua participação - Caio Guatelli/Folhapress - Caio Guatelli/Folhapress
Emílio Odebrecht aceitou virar delator após saber que acordo não sairia sem a sua participação
Imagem: Caio Guatelli/Folhapress

Marcelo Odebrecht ficou dois anos e meio detido antes de ir para prisão domiciliar. Pelo acordo, ele está proibido de voltar a ocupar cargos de direção na empresa e de fazer negócios com funcionários públicos.

O acordo firmado com a Odebrecht é o maior já negociado até hoje. O grupo forneceu provas e revelou crimes, e aceitou pagar multa de R$ 3,8 bilhões para ter o direito de voltar a fazer negócios com o setor público. Ao todo, 77 executivos da empresa firmaram acordos de delação premiada em troca de redução em suas penas e outros benefícios. Juntos, eles pagaram R$ 515 milhões em multas.

O Intercept vem revelando desde 9 de junho diálogos que teriam sido mantidos por procuradores da Lava Jato e pelo próprio Moro. Em parceria com o site, o UOL, a Folha de S.Paulo, o blogueiro do UOL Reinaldo Azevedo, o site do jornal espanhol El País no Brasil, o BuzzFeed e a revista Veja também publicaram conversas que teriam origem no Telegram.