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Polícia rejeita BO, e pesquisador que relatou ameaça terá de refazer queixa

O pesquisador David Nemer, que estuda campanhas políticas, fakenews e grupos de WhatsApp - Dan Addison - 28.ago.2019/Divulgação/Universidade da Virgínia
O pesquisador David Nemer, que estuda campanhas políticas, fakenews e grupos de WhatsApp Imagem: Dan Addison - 28.ago.2019/Divulgação/Universidade da Virgínia

Eduardo Militão

Do UOL, em Brasília

18/12/2019 13h29Atualizada em 18/12/2019 14h11

Resumo da notícia

  • Pesquisador de WhatsApp e política relatou ameaças e fugiu
  • Polícia pediu que o professor refaça sua queixa, desta vez pessoalmente
  • Advogados e vítima optam pelo silêncio

A Polícia Civil de São Paulo rejeitou a abertura de investigação sobre ameaça relatada por um professor universitário que pesquisa política e WhatsApp, incluindo a atuação de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na rede. Ele fugiu do Brasil.

De acordo com a assessoria da polícia e da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, em um prazo de até seis meses, David Nemer precisará registrar a queixa pessoalmente em uma delegacia ou no juizado especial criminal. Dessa forma, a investigação poderá ser aberta. Ele havia feito o boletim de ocorrência de forma eletrônica.

Como mostrou reportagem do UOL, o professor que mora nos Estados Unidos, mas estava em São Paulo semana passada, quando disse ter recebido um email afirmando que sabiam onde ele estava e que seria melhor "ter cuidado".

"Sabemos que voce esta em Sao Paulo", afirmou autor de email junto com uma foto - Reprodução - Reprodução
"Sabemos que você está em São Paulo", afirmou autor de e-mail junto com uma foto
Imagem: Reprodução

A mensagem, segundo o pesquisador, continha uma fotografia dele em um parque da capital dias antes. A reportagem viu a imagem e não a publicou por razões de segurança de Nemer. No sábado (14), ele registrou boletim de ocorrência na Delegacia Eletrônica da polícia e, no mesmo dia, tomou um avião para outro país.

Apesar de se tratar de uma queixa de ameaça, o boletim indicava crime de "injúria" no seu formulário. Esse tipo de delito só pode ser reportado pessoalmente, informou a assessoria da Secretaria de Segurança ao UOL, por telefone.

Mais tarde, o órgão enviou nota à reportagem: "A Polícia Civil esclarece que o boletim de ocorrência eletrônico foi indeferido, pois foi registrado com uma natureza diversa dos fatos narrados no histórico". Os policiais enviaram ao professor "as informações sobre como proceder para o registro da ocorrência".

Advogados pedem silêncio a pesquisador

Os advogados de Nemer pediram que ele não revele quais as novas medidas que tomarão a partir de agora. Ele não quis dar novas entrevistas à reportagem. Nemer trabalha na Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos.

De agosto a dezembro, o professor afirma ter recebido quatro e-mails com ameaças. O UOL obteve a íntegra das mensagens. Uma delas questionava se Nemer estaria "seguro" nos Estados Unidos e dizia que a situação mudaria com a possível nomeação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) como embaixador nos EUA. Outro e-mail o chamava de "comunista".

Nemer suspeita de que apoiadores do presidente — sem o conhecimento de Jair Bolsonaro — estejam por trás das ameaças e da perseguição pelas ruas de São Paulo que permitiram fotografá-lo num parque na capital paulistana. É o chamado MAV ("Movimento Ativista Virtual") ou "milícia virtual". No entanto, só a investigação pode revelar a autoria, a motivação da ação e sua eventual relação com as pesquisas que o professor faz sobre política, WhatsApp e bolsonarismo.

Os emails que Nemer mostrou à reportagem foram enviados por um serviço de disparo de emails anônimos. Um especialista em criptografia e segurança da informação disse ao UOL que, num contexto de investigação, seria interessante procurar essa empresa.

Por isso, segundo o especialista consultado, acionar a polícia tanto no Brasil como nos EUA seria importante porque, em tese, os norte-americanos têm mais facilidade de quebrar sigilos telemáticos desse tipo de empresa. Muitas delas têm sede em solo americano.