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Embaixada da Alemanha repudia fala de Alvim que copia nazista

Roberto Alvim, secretário especial da Cultura do governo Bolsonaro - Clara Angeleas/Divulgação/Secretaria Especial da Cultura
Roberto Alvim, secretário especial da Cultura do governo Bolsonaro Imagem: Clara Angeleas/Divulgação/Secretaria Especial da Cultura

Do UOL

17/01/2020 11h42Atualizada em 17/01/2020 13h41

A Embaixada da Alemanha no Brasil se pronunciou "contra banalizar ou glorificar a era do nacional-socialismo" depois que o secretário de Cultura do governo Bolsonaro copiou trechos de um discurso do líder nazista Joseph Goebbels ao apresentar um novo programa de incentivo à arte.

Em vídeo publicado ontem nos canais oficiais do governo, Alvim anunciou a criação do Prêmio Nacional das Artes e afirmou que 2020 será um ano de "renascimento" para a cultura e defendeu o "conservadorismo em arte".

"O período do nacional-socialismo é o capítulo mais sombrio na história alemã, trouxe sofrimento infinito à humanidade. Alemanha mantém sua responsabilidade", escreveu a Embaixada, no Twitter. "Opomo-nos a qualquer tentativa de banalizar ou glorificar a era do nacional-socialismo".

Na tradicional live semanal feita ontem pelo presidente Jair Bolsonaro, o secretário de Cultura disse:

"A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada".

O livro "Goebbels: a Biography", de Peter Longerich, mostra que o líder nazista teria feito uma fala muito semelhante na década de 1940: "A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada".

Críticas

Na manhã de hoje, Alvim recebeu críticas do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, que pediu no Twitter que o governo brasileiro o afaste imediatamente do cargo.

"O secretário da Cultura passou de todos os limites. É inaceitável. O governo brasileiro deveria afastá-lo urgente do cargo", escreveu.

Também na manhã de hoje, Alvim foi criticado por Olavo de Carvalho, que escreveu, no Facebook, que o secretário "não está muito bem da cabeça".

O deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP) disse, no Twitter, que o partido pedirá o indiciamento de Alvim pelo crime de apologia ao nazismo.

"Coincidência retórica"

Depois das críticas, o secretário foi ao Facebook se explicar.

O que aconteceu, segundo afirmou o secretário, foi uma "coincidência retórica". Ele disse que "não há nada de errado com a frase" e que a esquerda está "tentando desacreditar" a iniciativa.

"O que a esquerda está fazendo é uma falácia de associação remota", escreveu. "Com uma coincidência retórica em uma frase sobre nacionalismo em arte estão tentando desacreditar todo o Prêmio Nacional das Artes [programa anunciado na ocasião], que vai redefinir a Cultura brasileira".

Ele reforçou: "Eu não citei ninguém. O trecho fala de uma arte heroica e profundamente vinculada às aspirações do povo brasileiro. Não há nada de errado com a frase. Todo o discurso foi baseado num ideal nacionalista para a Arte brasileira. Não o citei e jamais o faria, mas a frase em si é perfeita".

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que informou o texto, a nota oficial da embaixada alemã fala em "nacional-socialismo", e não "nacional-liberalismo". A informação foi corrigida.