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Sem base tradicional, governo mira em núcleos de confiança no Congresso

Governo do presidente Jair Bolsonaro pretende calibrar relação com parlamentes privilegiando núcleos de confiança -
Governo do presidente Jair Bolsonaro pretende calibrar relação com parlamentes privilegiando núcleos de confiança

Luciana Amaral e Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

02/02/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Núcleos de confiança estão no foco do governo para a relação com o Congresso
  • Ordem, agora, é focar na qualidade do apoio que Bolsonaro tem entre parlamentares

Sem conseguir montar uma base tradicional no primeiro ano de mandato, o governo Jair Bolsonaro (sem partido) vai mirar núcleos de confiança dentro do Congresso Nacional neste ano.

A intenção é prestigiar quem vota com o governo em pautas tidas como prioritárias e direcionar esforços a esses parlamentares para, após fracassar em 2019, tentar construir uma base de apoio mais consistente.

Segundo apurou o UOL, essa tentativa de valorizar os "fiéis" se dará por meio da liberação de emendas, elogios públicos e convites para acompanhar o presidente em viagens.

O que é ou não prioritário para o governo é alvo de discussão até mesmo dentro do Planalto. A equipe econômica defende privilegiar a reforma tributária e a administrativa junto ao Plano Mais Brasil, formado por três PECs (Propostas de Emendas à Constituição). É o que também deverá ser priorizado pelos presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Davi Alcolumbre (DEM-AP).

Já Bolsonaro e a ala mais ideológica querem maior atenção a projetos como posse e comercialização de armas de fogo e munição, novo Código de Trânsito Brasileiro, Estatuto da Família e redução da maioridade penal.

Apoio fragmentado

Ao romper com o PSL e iniciar a empreitada para formar um novo partido, o Aliança pelo Brasil, o presidente terminou 2019 com apoio fragmentado. Apenas metade da bancada de seu ex-partido, um grupo que pode variar de 20 a 25 parlamentares, é considerada fiel a Bolsonaro.

Ao longo do ano passado, a articulação política do Planalto com o Congresso, sob responsabilidade da Secretaria de Governo, investiu no diálogo com bancadas ou frentes parlamentares mais ligadas aos assuntos que estavam em tramitação.

A estimativa de assessores é que o ministro da pasta, general Luiz Eduardo Ramos, tenha recebido cerca de 500 parlamentares em seu gabinete no ano passado. Ele também priorizava os almoços de quarta-feira para conversar com os congressistas.

A iniciativa, porém, não rendeu todos os frutos esperados. O Planalto avalia que dispersou a atenção em parlamentares que não mereciam tanto investimento e deixou de privilegiar outros mais afeitos aos temas caros a Bolsonaro.

Fidelidade questionável do centrão

Deputados e senadores do chamado centrão do Congresso, por exemplo, não foram tão fiéis quanto o esperado. Embora o Planalto diga exista um diálogo institucional com o grupo formado por DEM, MDB, PP, PL, Republicanos, Podemos e Solidariedade, alguns se queixaram de dificuldades em negociar com o governo.

Ou seja, a ordem agora é focar em monitorar a qualidade do apoio. Isso não significa que o Planalto deixará de fazer os levantamentos quantitativos de quem votou com o governo. Na prática, apenas o número de votos a favor de uma matéria em plenário é o que importa.

Monitoramento em foco

Assessores avaliam, no entanto, que é necessário aperfeiçoar o monitoramento, sobretudo porque Ramos pretende negociar cinco reformas econômicas e mais 14 projetos em um ano de trabalho reduzido do Congresso devido à eleição municipal em outubro.

Agora, o Planalto também pretende deixar mais claro aos parlamentares que, embora libere emendas, o dinheiro pode não chegar ao destino final por conta de análises de tribunais de conta ou outros impeditivos.

A Secretaria de Governo costuma receber cobranças e reclamações de deputados e senadores de que seus pedidos não foram contemplados, mas, nem sempre, a culpa é da Presidência, argumentam interlocutores.

No final do ano passado, Maia disse quais seriam as prioridades para 2020

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