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Parlamentares criticam Bolsonaro por risco de coronavírus: 'irresponsável'

15.mar.2020 - Aos gritos de mito, Bolsonaro sobe a rampa do Palácio do Planalto após ter contato com apoiadores em ato a seu favor em Brasília - Felipe Pereira/UOL
15.mar.2020 - Aos gritos de mito, Bolsonaro sobe a rampa do Palácio do Planalto após ter contato com apoiadores em ato a seu favor em Brasília Imagem: Felipe Pereira/UOL

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

15/03/2020 17h49Atualizada em 15/03/2020 17h49

Senadores e deputados federais criticaram hoje o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) por ter ignorado recomendações do seu próprio governo, elogiando protestos em um período em que aglomerações são desaconselhadas, e mantendo contato próximo com seguidores, com apertos de mão e selfies.

Diante da pandemia de coronavírus e da escalada de contágios no Brasil, parte dos congressistas classificou a atitude do presidente da República como "irresponsável".

O Ministério da Saúde pede isolamento por sete dias após viagem ao exterior e redução dos contatos sociais para desacelerar a propagação da doença.

Bolsonaro voltou dos Estados Unidos há quatro dias, teve resultado negativo no teste de infecção, mas seis membros da comitiva contraíram o vírus — elementos que levam as autoridades sanitárias a recomendar quarentena.

Gestos pequenos, mas irresponsáveis, diz Olímpio

O líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP), afirmou que os gestos de Bolsonaro foram, à primeira vista, "pequenos", mas "irresponsáveis sob a ótica da saúde pública".

"Péssimo exemplo o presidente fazer carreata e surgir na rampa [do Planalto] estimulando as concentrações. Primeiro por estar contra a própria propaganda do seu governo, que está gastando milhões para orientar a população a evitar aglomerações. Em segundo lugar, por estar estimulando manifestação contra os dois outros Poderes, Legislativo e Judiciário", afirmou.

Em sua avaliação, Bolsonaro pode ter incorrido até mesmo no crime de "promover perigo de contágio" de doença a outras pessoas. O senador rebateu fala de Bolsonaro de que "os atos não têm preço".

"Estes atos têm preço sim. E pode ser o preço da vida do presidente, de sua assessoria e segurança, e de milhares de cidadãos que querem manifestar seu patriotismo, mas no momento mais errado", disse.

Sem precedentes

A líder do Cidadania no Senado, senadora Eliziane Gama (MA), classificou o incentivo de Bolsonaro aos atos como uma "irresponsabilidade sem precedentes" quando se vive uma pandemia.

"Os atos em si foram muito pequenos, mas o suficiente para agilizar a propagação do coronavírus. Muito preocupante o que vimos hoje", afirmou.

O líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO), afirmou que "toda atenção deve ser dada às recomendações do governo através do Ministério da Saúde". Recomendações estas que Bolsonaro não seguiu.

No Twitter, a deputada estadual do PSL, Janaina Pascoal (SP), disse que, enquanto governos precisam se mobilizar contra a propagação do coronavírus, "o presidente vive em seu mundo".

O líder do PSB na Câmara, deputado federal Alessandro Molon (RJ), disse que as consequências do ato de Bolsonaro hoje vão "além do ataque à democracia" e também as chamou de "irresponsabilidade sem tamanho"

"É isso que acontece quando se governa pensando em concentrar e manter seu próprio poder", escreveu.

Coronavírus no entorno de Bolsonaro

Na última sexta (13), Bolsonaro anunciou que um primeiro exame apontou que ele, ao contrário do secretário de Comunicação com quem viajou aos Estados Unidos, não se infectou com coronavírus. Ao UOL, um dos médicos do presidente, Antônio Luiz Macedo, disse que um segundo exame de Bolsonaro para o coronavírus teve resultado negativo.

Ainda assim, há a expectativa de que Bolsonaro faça outro exame devido ao período de incubação do vírus. Pelo menos seis pessoas da comitiva presidencial aos Estados Unidos estão infectadas.