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OPINIÃO

Schelp: "Não adianta Bolsonaro ter a bola, se ninguém quer jogar com ele"

Do UOL, em São Paulo

04/04/2020 04h00

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) precisou lidar na última semana com a situação em que até ministros como Sérgio Moro, da Justiça, e Paulo Guedes, da Economia, adotaram o discurso em sintonia com Luiz Henrique Mandetta, da Saúde, que é pede o isolamento social no combate à pandemia do novo coronavírus, contrariando o discurso presidencial que flerta com a reabertura do comércio.

No Baixo Clero #30, o podcast de política do UOL, Diogo Schelp analisa a postura do presidente em relação a seus ministros e até mesmo ao vice-presidente Hamilton Mourão, causou a irritação de Bolsonaro quando defendeu o isolamento social em entrevista.

"O Bolsonaro, ele age que nem aquele menino que vai jogar bola, vai jogar pelada no campinho, e quando as coisas não saem do jeito que ele quer, ele diz que é dono da bola e ameaça ir embora com a bola. Só que o problema é esse: não adianta ser dono da bola, se ninguém quer jogar com você", afirma Schelp (no vídeo acima a partir de 8:03).

"Só que isso mostra o isolamento dele porque os ministros mais fortes e mais populares, o Sérgio Moro é mais popular que o próprio Bolsonaro. O Paulo Guedes, que era considerado o superministro e tal. Quando eles se posicionam a favor da linha que o Mandetta defende, que é a do isolamento como única — não só o Mandetta, a Organização Mundial da Saúde e praticamente todos os líderes do mundo e tal—, ele se vê isolado", completa o jornalista.

Para Schelp, a mudança de tom de Bolsonaro a cada discurso tem ligação com as influências exercidas pelo grupo de seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), e da base dos militares.

"Ele tem a influência do Gabinete do Ódio, do filho dele, Carlos Bolsonaro, que comanda esse gabinete, e uma influência mais pé no chão, digamos assim, que é uma ala, uma certa ala dos militares, que ele ouve, que ele ainda escuta. Então quando a gente vê essa oscilação do pronunciamento dele, com o discurso um pouco mais moderado, e na sequência, voltando às redes sociais, com uma atitude mais de confrontação com os governadores, a gente está vendo ele oscilando entre esses dois caminhos, mas o fato é que ele não tem controle nenhum do jogo, isso está bem claro", conclui.

Baixo Clero está disponível no Spotify, na Apple Podcasts, no Google Podcasts, no Castbox, no Deezer e em outros distribuidores. Você também pode ouvir o programa no YouTube. Outros podcasts do UOL estão disponíveis em uol.com.br/podcasts.