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Espero que Bolsonaro seja responsabilizado por mortes por covid, diz Tabata

Ana Carla Bermúdez

Do UOL, em São Paulo

16/04/2020 04h01

Resumo da notícia

  • Em entrevista ao UOL, Tabata Amaral chamou falas de Bolsonaro sobre coronavírus de "irresponsáveis"
  • A parlamentar também disse que falta liderança do MEC para organizar ano letivo, envio de merendas e aulas a distância
  • Ela defendeu que o Enem seja adiado e não descartou ir à Justiça contra a manutenção do exame

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) precisa ser responsabilizado por parte das mortes causadas pela covid-19 no país, afirmou a deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP) em entrevista ao UOL. Ela criticou o fato de o presidente ter minimizado os riscos da doença, que já matou 1.736 brasileiros, ao menos — os números reais são maiores que os oficiais.

"Espero que ele seja responsabilizado por todo mundo que vai morrer por causa da fala irresponsável dele. Porque na hora em que ele fala 'olha, é só uma gripezinha', tem muita gente que vai ouvir, é o presidente da República. Essas pessoas não vão entender a gravidade da situação".

Tabata disse ainda "lamentar" que parte do governo —incluindo o próprio presidente— se oponha às medidas mais amplas de isolamento social durante a pandemia, contrariando as recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde) e do Ministério da Saúde — até ontem, quando a entrevista foi gravada, comandado por Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS).

"Quando li ontem [na madrugada de quarta-feira] que ele ia demitir o Mandetta por Twitter, eu falei: 'meu Deus, até onde que vai isso'? A gente bateu mais de 200 mortes em 24 horas e ele [Bolsonaro] continua com essa picuinha, com essa ciumeira. Eu fico completamente frustrada, eu lamento muito", disse.

A deputada declarou ainda que quem se opõe ao isolamento com o argumento do estrago econômico "não quer enfrentar a crise humanitária" que estamos vivendo. Para ela, esse é o momento em que o governo tem que se "desdobrar" para que as pessoas possam ficar em casa.

"Na hora que ele [Bolsonaro] diz que os empregos não podem parar, que as pessoas não podem passar fome, eu concordo 100%. Mas é por isso que a gente apresentou um projeto de uma renda básica"

Aprovado pela Câmara em março, o auxílio prevê pagamento de R$ 600 mensais a trabalhadores informais. No Senado, um programa emergencial de suporte a micro e pequenas empresas foi aprovado na semana passada e deve ser discutido ainda pela Câmara.

Congresso atua para "tapar buracos" do MEC, diz Tabata

A deputada, que tem como uma de suas bandeiras a educação, também fez críticas à atuação do MEC (Ministério da Educação) em meio à crise do coronavírus, que levou à suspensão das aulas presenciais em todo o país e em grande parte do planeta.

Segundo ela, secretários estaduais e municipais de educação, responsáveis pela implementação de políticas educacionais nas redes de ensino, não estão recebendo nenhum direcionamento por parte do ministério.

"Eu sinto muita falta que haja uma coordenação, que haja uma liderança do MEC. O meu entendimento da LDB [Lei de Diretrizes e Bases, que rege a educação no país] é que, em momentos como esse, o MEC deveria estar coordenando as ações com os secretários estaduais e com os secretários municipais. Na ausência dessa liderança do MEC, o Congresso está tapando esses buracos", disse.

Como iniciativa da Câmara, a deputada citou um projeto que permite a distribuição de alimentos da merenda escolar em formato de kits para as famílias dos alunos. Tabata ressaltou, no entanto, que deve ser papel da gestão federal centralizar orientações quanto ao calendário escolar, ao ano letivo e às medidas para garantir que todos tenham acesso à educação durante a crise do coronavírus.

"Fica o meu apelo de que ele abra o diálogo com o Consed, que é a representação dos secretários estaduais, com a Undime, dos secretários municipais. Que ele ouça a academia, que vem estudando isso há muito tempo, o que funciona, o que não funciona e que ele apresente alguma solução", declarou.

"Porque enquanto os meninos e meninas da periferia estão sem celular, sem redes de dados, às vezes sem televisão, ou sem um responsável que o ajude com a tarefa, quem é de escola particular está tendo aula na medida do possível normalmente. A gente está aprofundando ainda mais essa desigualdade".

Calendário do Enem

Tabata ainda fez críticas à manutenção do calendário do Enem e não descartou ir à Justiça para pedir o adiamento do exame.

O Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), órgão do MEC responsável pelo Enem, publicou o edital do exame no fim de março e decidiu manter a prova para novembro deste ano. A decisão foi criticada por entidades estudantis e por secretários de educação.

"E esses alunos que, por tantos meses, ficaram alguns tendo aulas de qualidade em suas casas e outros sem nenhum apoio? A gente está ok com isso? De avaliar o ponto de chegada, sendo que a gente está tornando o ponto de partida ainda mais diferente para esses alunos? Eu não estou ok", declarou.

Ela disse, no entanto, ser contrária ao cancelamento do exame. "Não sei qual é a data [em que poderia acontecer o exame]. Obviamente a gente não pode cancelar. Mas não dá para manter a data do Enem, na minha opinião, quando a gente não sabe qual vai ser o calendário [letivo], quando as redes continuam sem orientação", disse.