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Gilmar Mendes diz que Moro está pagando preço de suas próprias escolhas

Gilmar Mendes (esq.) conversa com o juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal da 4ª Região, em audiência no Senado - Jane de Araújo/Agência Senado
Gilmar Mendes (esq.) conversa com o juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal da 4ª Região, em audiência no Senado Imagem: Jane de Araújo/Agência Senado

Do UOL, em São Paulo

05/05/2020 17h49

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes sugeriu que Sergio Moro tinha "expectativas" no governo de Jair Bolsonaro (sem partido), e que elas foram frustradas com o passar o tempo. Para Gilmar, o ex-ministro da Justiça "está pagando o preço de suas próprias escolhas".

Moro pediu a demissão do cargo de ministro da Justiça, em abril, e acusou o presidente Bolsonaro de tentativa de interferência na Polícia Federal. Bolsonaro nega as acusações.

Em entrevista à Rádio Bandeirantes, hoje pela manhã, Gilmar defendeu que uma investigação seja feita para apurar o caso, mas fez uma consideração sobre Moro.

"É um caso inusitado, se a gente verificar ao longo desses anos um ministro sair fazendo acusações contra o presidente da República. A mim, me parece, que certamente o Moro tinha algum tipo de expectativa dada, talvez, pelo próprio presidente e isso foi sendo contrariado ao longo do tempo. Portanto, acho que desde o começo o seu espaço no governo não seria de tanta autonomia."

Gilmar voltou a falar sobre decisões de Moro, durante o período da Operação Lava Jato.

"Acho que Moro esteve muito próximo desse movimento que levou [Bolsonaro] à vitória. Ele tomou muitas decisões e que hoje são contestadas. Por exemplo, a liberação do depoimento do Palocci às vésperas de eleições. Parecia favorecer o adversário do PT. E depois deu esse passo. Ele vai para o governo. É uma situação muito delicada. Eu converso com muitos colegas na Europa e todo mundo que reflete 'Poxa, porque um juiz foi se envolver com um movimento político?'. Ele está pagando um pouco o preço de suas próprias escolhas", afirmou.

"Personalidade complexa e movido a conflitos"

Sobre Bolsonaro, o ministro do STF disse que o presidente tem uma personalidade complexa e movido a conflitos.

"Eu acho que o presidente tem uma personalidade bastante complexa. Eu estive com ele há pouco mais de um mês para falar sobre essa crise da covid-19. Me pareceu uma pessoa muito angustiada. Angustiada com essa crise e angustiada com a crise econômica. Tinha expectativa de crescimento e, agora, contando além de mortos [em decorrência da covid-19], contando desemprego. Por outro lado, o que me parece é que ele é movido a conflitos", avaliou Gilmar.

"Mas uma coisa é você ganhar as eleições com essa conflituosidade, outra coisa é você administrar, porque você precisa da colaboração até de adversários", completou.

Gilmar Mendes também citou teorias conspiratórias, sobre a união de poderes para derrubar o presidente, apontadas por movimentos da direita.

"Isso é fantasia. Eu vejo, na verdade, é todo mundo querendo ajudar. A própria Câmara e o Senado estão votando medidas para ajudar a crise sanitária. Ninguém quer golpe, ninguém quer impeachment. Eu acho que todos querem é superar essa fase difícil", afirmou.