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Collor diz que vídeo da reunião de Bolsonaro é 'surpresa desagradável'

Collor afirmou em entrevista que atitudes de Bolsonaro beiram o fascismo - Kleyton Amorim/UOL
Collor afirmou em entrevista que atitudes de Bolsonaro beiram o fascismo Imagem: Kleyton Amorim/UOL

Do UOL, em São Paulo

22/05/2020 16h54Atualizada em 24/05/2020 14h15

O senador e ex-presidente Fernando Collor de Mello afirmou em entrevista hoje ao El País que a reunião de Jair Bolsonaro com os ministros, em abril, utilizado no inquérito que apura uma possível interferência do presidente na PF vai trazer para a população uma "surpresa muito desagradável".

"Essa fita — se acontecer de haver a liberação —, nós vamos ter uma surpresa muito desagradável. A reunião foi catastrófica. Em nenhum momento se falou da preocupação do ministério para se enfrentar a pandemia — e é o problema que nos acomete", disse o ex-presidente.

Collor também citou que o linguajar utilizado por Bolsonaro não é conveniente ao cargo de Chefe do Executivo. "O palavreado que foi utilizado é chulo, que ruboriza até mesmo aqueles acostumados com mesa de bar. Inapropriado de um presidente usar. Não esperava que um presidente, por mais tosco que fosse, pudesse atingir essas raias absurdas".

O senador afirmou ainda que o presidente confundiu o exercício da presidência para questionar "insatisfações pessoais".

Críticas ao atual presidente

Eleito presidente em 1989 e ficando até 1992, após renunciar enquanto enfrentava um processo de impeachment, Collor dirigiu críticas à postura do atual presidente, chegando a afirmar que elas beiram o fascismo.

"O método que ele vem utilizando, que conduz a um processo de radicalização absoluta pela direita, [está] beirando, banhando, o fascismo. São medidas e a forma de se expressar extremamente perigosas. Se confunde com métodos de fascismo. Eu quero acreditar que ele está fazendo isso com a melhor concepção daquilo que está falando", disse.

Citando as manifestações pedindo o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal e a presença de Bolsonaro, o senador advertiu que as posições são preocupantes. "Tudo isso é um movimento fascista. Não tem outro nome. De subverter a ordem e estabelecer um regime passando por cima da Constituição. Ele não é a Constituição, a Constituição está acima dele".

'Tudo que ele vem fazendo está muito congruente com aquilo que vinha dizendo dentro da campanha. Inspirando o medo, dividindo a sociedade brasileira. Quando se fala de economia, ele dizia que ele chamava um economista e ele ia resolver. Todos aqueles assuntos que um presidente da república tinha que ter conhecimento, ele não disse. Em nenhum momento ele falou de um plano de governo", continuou.

Collor ainda apontou como positiva a aproximação do governo com os partidos do chamado "centrão", dizendo que faz parte do jogo democrático. "Há um ano que venho falando que o presidente faça atenção a construção da sua base de sustentação no Congresso. Esse filme eu já vi e não gostei do resultado".

Repúdio ao general Heleno

Enquanto Collor era entrevistado, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Heleno, publicou uma nota dizendo que a apreensão do celular de Jair Bolsonaro iria trazer "consequências imprevisíveis".

Collor repudiou o tom usado pelo ministro na nota, dizendo que ela não ajuda no atual momento.

"Decisão da Justiça não se discute, se acata. Foi uma nota muito forte e pouco atenta ao que se diz sobre a Justiça, que a gente deve acatar e entrar com recursos judiciários. Em função dos momentos que estamos passando, essa nota do general não colaboraria para ajudar abaixar a poeira".