Com o general Eduardo Pazuello atuando de forma interina no Ministério da Saúde desde a saída do ex-ministro Nelson Teich, há uma semana, o governo Bolsonaro teve um crescimento no número de militares em cargos importantes na pasta. No total, são pelo menos 20 postos de terceiro e quarto escalões oriundos das Forças Armadas no ministério — 13 foram nomeados por Pazuello.
No podcast Baixo Clero #39, Diogo Schelp analisa a movimentação de Pazuello dentro do ministério e a nomeação de militares sem formação médica para cargos na Saúde. O jornalista cita uma "intervenção militar" já vigente na pasta, além da possibilidade de o interino permanecer como titular do ministério até o fim da pandemia do novo coronavírus.
"Esse militar que está agora como ministro interino já era o segundo do ministério, e há muitos relatos de que ele vinha tutelando o ministro Teich. Então, uma das razões possíveis para a saída do Teich, além da questão da cloroquina, era o fato de que tudo o que ele fazia encontrava uma barreira ali nesse general. O general, antes de o Teich sair, já tinha começado a trocar muitos dos postos-chave do ministério, colocando militares no lugar. Depois da saída de Teich, aumentou ainda mais essa troca", diz Schelp (disponível no arquivo acima a partir de 20:57).
"Podemos dizer que, na Saúde, já existe uma intervenção militar, porque são 12 militares sem formação médica. Aparentemente é quase como se ele [Pazuello] não fosse mais interino, pois está agindo como se fosse ministro definitivo. E o Bolsonaro disse que é possível que só troque o ministro depois da pandemia. Ele colocou um militar que parece muito disposto a cumprir ordens, até porque não tem nenhum embasamento técnico para questionar as questões médicas", completa o jornalista.
Maria Carolina Trevisan também menciona números de militares no governo e critica a atuação dos ministros na gestão, citando o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional.
"É interessante a gente questionar a competência dos militares no governo. Não é só o Ministério da Saúde que está povoado de militares, mas os últimos levantamentos indicam que são 2.500 cargos de confiança e assessoramento dentro do governo Bolsonaro, sendo nove ministros dos 22. Se fosse um governo competente, em que os militares estivessem conseguindo fazer gestão, talvez a gente não tivesse o Bolsonaro falando absurdos", diz Trevisan.
"Se o próprio general Augusto Heleno estivesse fazendo o trabalho dele bem feito de segurança institucional, talvez o Bolsonaro não estivesse agindo dessa maneira. Nessa quinta-feira, por exemplo, a gente viu a reunião do Bolsonaro com os governadores, com outra postura, muito mais dócil, e os governadores também, porque, claro, precisam dessa ajuda do governo federal para os Estados. Se o general Heleno estivesse mesmo sendo competente, talvez ele tivesse adotado essa postura desde o começo", completa a jornalista.
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