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FHC diz que Bolsonaro incita sua base de apoio 'fanática' à violência

22.mai.2018 - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), na sede da fundação que leva o seu nome, no centro antigo de São Paulo - Carine Wallauer/UOL
22.mai.2018 - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), na sede da fundação que leva o seu nome, no centro antigo de São Paulo Imagem: Carine Wallauer/UOL

Do UOL, em São Paulo

29/05/2020 14h22Atualizada em 29/05/2020 14h30

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse hoje que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) incita sua base de apoio "fanática" a ser violenta e criticou o desejo do presidente em armar a população. FHC ainda pontuou que quando um governo possui a presença de muitos militares é porque "está fraco".

Em entrevista ao El País, o ex-presidente disse que o Brasil está lutando contra inimigos que "não são reais" e ponderou que Bolsonaro ainda possui "muita base de apoio". A frase foi uma referência à pesquisa Datafolha divulgada ontem que mostrou a rejeição do presidente de 43%, enquanto outros 33% apoiam o mandatário.

"Ele [Bolsonaro] tem muita base de apoio ainda, eu vi a última pesquisa. Apoio de muita gente que é fanática por ele. E ele incita esse pessoal no sentido de que tem que ser violento, armar o povo. O povo não tem que ser armado. Armado só se fosse os militares, a polícia, o exército. Armar o povo eu acho que é uma coisa equivocada. Os americanos permitem pela lei, que cada um se arme. Ele [Bolsonaro] tem um pouco essa cabeça de cópia dos Estados Unidos", comentou o ex-presidente.

Para FHC, as críticas do presidente sobre os outros poderes não o deixarem governar e a aparição frequente de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e dos membros dos outros poderes na mídia ocorre porque "ele [Bolsonaro] não está fazendo muita coisa que poderia fazer".

Militares no Governo

Ao ser questionado sobre a presença de militares no governo Bolsonaro, FHC respondeu que quando um governo começa a nomear muitos militares é "porque ele [governo] está fraco". Para ele, isso ocorre no Brasil não para demonstrar uma possível força do governo, mas porque essas são as pessoas que o presidente tem afinidade.

Entre alguns nomes de militares no governo estão o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, o ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Augusto Heleno. Além do ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência, Luiz Eduardo Ramos, e do vice-presidente, Hamilton Mourão.

O ex-presidente pontuou que o risco de ter muito militares no poder é porque eles "vão gostando" dos benefícios que recebem por estarem no governo. Essa presença cria uma "identidade autoritária", mas FHC ressaltou que mesmo com o alto número de militares, eles serão responsáveis pelos erros do governo.

"[Os militares] se habituam a outra coisa, as benesses do governo. Gostam. Quem não gosta? Tem automóvel, tem casa, tem um salário. Então, pouco a pouco, você vai criando uma identidade autoritária. Não é por isso que o presidente Bolsonaro nomeia [militares], ele nomeia porque não tem outros recursos, ele tem pouco apoio na sociedade. E os militares vão para lá [governo] não porque queiram se beneficiar. Eles vão para servir ao país. O resultado? O governo crescentemente vai ter a cara militar. Quem vai ser responsável pelos erros do governo? Vão ser, querendo ou não, os militares."

Segundo FHC ter muitos generais no governo também pode afetar as forças armadas. "Muitos generais [no governo] fazem mal as Forças Armadas. Por que dá essa sensação de tutela militar. Isso não é uma coisa compatível com o tempo moderno, com as instituições brasileiras, a Constituição", ressaltou.

Apesar disso, FHC considera que, neste momento, "não existe, da parte dos militares, uma vontade de assumir o poder [por meio] de um golpe". Mas pede atenção com a manutenção da democracia. "Você tem vários cenários aqui [no Brasil] para dizer, de uma maneira tranquila, que são inquietantes. A democracia não é algo dada para sempre. É alguma coisa que tem que ser cuidada porque sempre há o risco de você ter um desvio dela."