Cardozo vê 'reação' em protestos e diz: Bolsonaro apaga fogo com querosene
Protestos que aconteceram ontem em diversas cidades do Brasil contra manifestações de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) são respostas a uma "minoria radicalizada", que ataca instituições como o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional.
A avaliação foi feita hoje por José Eduardo Cardozo, ex-ministro da Justiça (2011 a 2016) do governo Dilma Rousseff. Em debate na CNN Brasil, Cardozo defendeu uma ação "contra as agressões", e disse que Bolsonaro e seus incentivadores são responsáveis por estimular o confronto.
"Eu acho que ontem tivemos uma primeira consequência importante em relação aos atos que têm acontecido no Brasil. Até hoje, a gente tinha tido manifestações de uma minoria radicalizada. E, a partir de ontem, começou a haver uma reação, a sociedade brasileira começou a se se indignar. Pessoas que nem sempre caminharam juntas começaram a se alinhar", apontou Cardozo.
Segundo o ex-ministro da Justiça, é necessário "agir contra as agressões, contra aqueles que tentem atentar contra a constituição". "Acho que passou da hora, acho que os democratas têm um ponto em comum."
Titular da Advocacia-Geral da União entre março e maio de 2016, Cardozo ainda criticou Bolsonaro por participar de manifestações com seus apoiadores, nos quais há inclusive pedidos de fechamento de STF, Câmara dos Deputados e Senado.
"Quem propõe uma intervenção contra o Supremo, quem propõe AI-5, está propondo violência. Ele (Bolsonaro) não pode participar de atos dessa natureza. É absolutamente inaceitável que um chefe de governo volte a ter essa postura (...). Se quisesse defender ditadura militar, não tivesse disputado eleição. Erra muito o presidente Jair Bolsonaro", afirmou.
"O governo tem jogado fogo na situação, tem buscado apagar a fogueira com querosene. O governo tem uma política de ódio. Diante dessa situação é deplorável que o presidente, diante de uma epidemia, saia sem máscara, e não é à toa que ele considerado o chefe de estado que mais minimiza a epidemia."
Ex-ministro do TSE usa termo 'necropolítica' sem conhecer autor
Também participante do debate na CNN Brasil, Admar Gonzaga, ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) entre 2017 e 2019, criticou os atos contra apoiadores de Bolsonaro no fim de semana.
"O que vi ontem não foi uma movimentação democrática antagonizando contra aqueles que são a favor de Bolsonaro. O que vi foram bandidos, vândalos, praticando violência, depredando, portando canivete, armas químicas para afugentar pessoas de bem, famílias que querem voltar a trabalhar. Contra essa necropolítica que se faz hoje em dia", afirmou, citando "sete semanas de manifestações pacíficas" antes dos protestos de ontem.
"O outro lá, coitado, foi com a bandeira da Ucrânia, talvez seja de família ucraniana, e já falam que é nazista", acrescentou.
Questionado a respeito da "necropolítica", termo criado pelo historiador camaronês Achille Mbembe que aponta uma soberania do Estado na decisão sobre quem deve morrer, Gonzaga admitiu desconhecer a origem da expressão. Mesmo assim, colocou-se contrário ao que chamou de "negligência" com os impactos econômicos da pandemia do novo coronavírus.
"Eu nem sabia que é dele (Mbembe). Eu estou usando essa expressão no sentido contrário, daqueles que, para exercer um poder, fazem de uma conduta repressiva — 'fiquem em casa', 'passem fome', 'percam seus empregos'. Com essa política de desinformação. Ou informação exagerada. Ao invés de fazer uma medida de controle econômico a razoável, o que eles fazem? Negligenciam, porque estão com as geladeiras cheias. Não fosse o governo dar essa ajuda, que não pode ser eterna, essa pessoas já estariam em desespero", acredita.
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