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Belmonte: Investigação de Flávio Bolsonaro não afeta formação do Aliança

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

23/06/2020 13h30

Um dos principais articuladores do Aliança pelo Brasil, o advogado e empresário Luís Felipe Belmonte, afirmou hoje (23) que as investigações que envolvem o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e o ex-assessor Fabrício Queiroz, preso, não afetam a formação do futuro partido.

A sigla está em processo de coleta de assinaturas e é promovida pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) após brigas internas no PSL, pelo qual se elegeu ao Planalto. A expectativa é que o Aliança só conte com candidatos a partir das eleições de 2022.

Eu não conheço muita coisa a respeito desse assunto. Não tenho muito a dizer quanto a isso. [...] Não acho que isso afeta o governo. Isso é uma situação pessoal do senador. Ele certamente fará sua defesa. Não podemos fazer um julgamento hoje quando nem denúncia existe. Por isso, acho que não afeta nem o partido, nem a governabilidade.

A declaração de Belmonte, que é segundo vice-presidente do Aliança, foi dada aos colunistas do UOL Diogo Schelp e Tales Faria no UOL Entrevista.

Filho mais velho do presidente, Flávio Bolsonaro é investigado por suposto envolvimento em esquema de rachadinha quando deputado estadual na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. Segundo o Ministério Público do Rio, Flávio e Queiroz, então seu assessor, pegavam de volta uma porcentagem do salário de funcionários do gabinete. As investigações apuram ainda movimentações atípicas em contas de Fabrício Queiroz, servidores e ex-servidores.

Queiroz atuou como assessor e motorista de Flávio Bolsonaro até outubro de 2018. Ele então foi exonerado, retornou à Polícia Militar do estado e se aposentou pela corporação. Queiroz foi preso na quinta-feira (18) em uma casa em Atibaia (SP) que pertence a Frederick Wassef, então advogado da família Bolsonaro.

Belmonte preferiu não comentar o que pensa sobre o fato de Queiroz estar morando na casa de Wassef por desconhecer o assunto em profundidade, mas ressaltou que, como advogado, tem de "saber o que outro lado tem a dizer e assegurar o direito de defesa".

Embora filiado ao Republicanos, Flávio Bolsonaro também é tido como o vice-presidente do Aliança pelo Brasil. Caso seja comprovado o envolvimento dele em irregularidades, Belmonte disse ser preciso esperar o desfecho das investigações e se referiu a Jair Bolsonaro quando este disse que cada um é responsável por seus atos.

Belmonte negou ter conversado com o presidente da República sobre o assunto.

Pandemia atrasa formação do partido, mas não afetará resultado

O articulador do Aliança afirmou que a pandemia do coronavírus tem afetado a formação do partido. Mesmo assim, avalia que a equipe conseguirá concluir todo o processo necessário a tempo para participar das eleições de 2022.

"A previsão é [de o partido] estar pronto para 2022. Temos uma boa parte de apoiamentos. O que precisamos fazer agora é lançar no sistema. [...] É mais o trabalho braçal, de formiguinha, tem que levar no cartório validar, fazer o lançamento no sistema. Esse é o trabalho mais demorado", disse.

"A pandemia, claro, atrapalhou. A questão toda é que cartórios eleitorais ficaram sem funcionar. Poderíamos até requerer a suspensão do prazo de dois anos em função do prazo que a Justiça ficou parada, mas acredito que não vamos precisar disso. Temos condições de cumprir as metas", completou.

Belmonte nega financiar atos antidemocráticos

Em 16 de junho, Luís Felipe Belmonte foi um dos alvos de uma operação da Polícia Federal sobre atos antidemocráticos. A suspeita é que ele teria auxiliado na organização de pelo menos uma das manifestações em Brasília que pediram fechamento do Congresso e do STF (Supremo Tribunal Federal).

Na entrevista, Belmonte negou ter qualquer participação com o financiamento e organização desses atos. Ele disse ter ido a somente uma manifestação, em 3 de maio, e que não se pode focar nos pedidos inconstitucionais para menosprezar a ida de apoiadores de Bolsonaro às ruas, porque "99% das pessoas não têm essa pauta".

"Sou um defensor das instituições. Não faria movimento contrário nem apoiaria ou incentivaria qualquer movimento contrário à respeitabilidade das instituições. [...] Quanto ao financiamento, acho que as pessoas não estão entendendo muito bem. Todo o grupo que apoia Bolsonaro vai de graça. [...] Meu trabalho com relação ao partido é exclusivamente na contribuição na criação e formação do Aliança do Brasil", argumentou.

Na avaliação de Belmonte, o mandado de busca e apreensão e a determinação de quebra de sigilo autorizados pelo ministro do STF Alexandre de Moraes foi uma "reação desproporcional". Outros alvos incluíram o publicitário Sérgio Lima, marqueteiro do Aliança, e parlamentares bolsonaristas.

Belmonte disse que, como o Aliança não existe, não tem deputados. Apenas "deputados que apoiam o partido" sem evidências de que usaram verba pública para promover eventos antidemocráticos, defendeu.

Mudança de ministros é "corriqueiro"

Belmonte também procurou defender que o presidente Jair Bolsonaro continua alinhado com o combate à corrupção, mesmo com a saída de Sergio Moro do governo.

"O ministro [da Justiça] André Mendonça não me parece menos comprometido com os princípios republicanos. Mudou o ministro, mas não mudou o combate à corrupção. Não vejo enfraquecimento ou mudança de discurso", falou.

Ele disse que todo ministério tem de estar afinado como o presidente governa e ser "natural" que Bolsonaro coloque pessoas da confiança dele na Esplanada. Indagado sobre as mudanças nos ministérios da Educação e da Saúde, disse que a alteração de titulares é "algo corriqueiro".