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Com Feder, Bolsonaro acumula 3ª rejeição a cargo no governo desde maio

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

10/07/2020 04h00

Ainda em busca de um ministro da Educação, o governo Jair Bolsonaro (sem partido) acumulou nesta semana a terceira rejeição a cargos em seu governo em aproximadamente um mês e meio.

No domingo (5), Renato Feder, que é secretário da Educação e do Esporte no Paraná, disse não ao convite para comandar o MEC. Antes dele, Nelson Teich havia recusado a vaga de conselheiro do Ministério Saúde, pasta da qual foi chefe durante a pandemia do novo coronavírus. Já o empresário Carlos Wizard declinou de uma proposta para ficar à frente da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, órgão do Ministério da Saúde.

Auxiliares do presidente avaliam com "naturalidade" a sucessão de recusas e atribuem a desgastes "midiáticos", permeados por conflitos ideológicos que ocorrem dentro do próprio governo.

O próprio Bolsonaro falou sobre a dificuldade para encontrar um ministro para o MEC na terça-feira (7). Segundo ele, todos os nomes cotados "são excelentes currículos, mas quando veem o tamanho do problema de perto, alguns declinam, outros pedem um tempo para pensar".

A possível nomeação de Feder, por exemplo, foi combatida por olavistas (ala dos seguidores do ideólogo Olavo de Carvalho) e também não agradava os militares.

Um terceiro núcleo, o dos evangélicos, entrou recentemente na fila de interessados para emplacar o novo ministro. Três nomes foram colocados à mesa: o pastor Milton Ribeiro, ex-vice-reitor do Mackenzie em São Paulo; o professor da Unb (Universidade de Brasília) Ricardo Caldas; e o reitor do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), Anderson Correia.

Dossiê

Assessores de Bolsonaro chegaram a elaborar dossiê contrário à indicação de Feder, segundo revelou reportagem da "CNN Brasil".

Um dos fatos mais incômodos quanto ao secretário paranaense era o histórico como doador de João Doria (PSDB), desafeto do presidente, na disputa pela Prefeitura de São Paulo, em 2016. À época, ele deu R$ 120 mil para a campanha do tucano.

A indefinição no comando da Educação se arrasta após a saída conturbada de Carlos Alberto Decotelli, demitido seis dias após ter sido escolhido por Bolsonaro. A queda foi motivada por inconsistências curriculares e ocorreu sem que ele tivesse tomado posse do cargo.

Teich

Ex-ministro da Saúde, o oncologista Nelson Teich recusou no fim de maio um convite do seu substituto, o atual chefe interino da pasta, general Eduardo Pazuello, para atuar como um conselheiro estratégico. Na visão do médico, aceitar esse cargo seria um gesto de incoerência, já que ele havia pedido demissão do comando do órgão.

"Agradeço ao ministro interino Eduardo Pazuello pelo convite para ser Conselheiro do Ministério da Saúde, mas não seria coerente ter deixado o cargo de Ministro da Saúde e aceitar a posição de conselheiro na semana seguinte", afirmou Teich em sua conta pessoal no Twitter.

A passagem de Teich pelo ministério da Saúde durou apenas 28 dias. Assim como o antecessor, Luiz Henrique Mandetta, ele entrou em rota de colisão com Bolsonaro devido a divergências quanto ao uso de cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento de pacientes com a covid-19.

Teich defendeu publicamente posições contrárias às do presidente. Defendeu o distanciamento social como medida de combate à pandemia e resistiu a mudanças no protocolo da cloroquina/hidroxicloroquina, alegando falta de comprovação científica. O presidente, por sua vez, é um entusiasta e defensor do uso desses medicamentos.

Wizard

O empresário Carlos Wizard, fundador da rede educacional Wizard (escola de idiomas), decidiu parar de colaborar com o Ministério da Saúde no começo de junho. Até então, ele vinha atuando como conselheiro de Pazuello e esteve perto de assumir a a secretaria da Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos.

O empresário participou de reuniões no ministério para discutir os rumos do enfrentamento ao coronavírus, mas não chegou a ser nomeado oficialmente. A recusa ao cargo de secretário ocorreu depois de uma sucessão de polêmicas, e o empresário avaliou que assumir uma função pública poderia ser prejudicial aos negócios.

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.