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De "sombra" a ministro: almirante tem ascensão meteórica no Planalto

Bolsonaro cumprimenta Flávio Rocha, escolhido para comandar a Secretaria-Geral da Presidência - Isac Nóbrega/PR
Bolsonaro cumprimenta Flávio Rocha, escolhido para comandar a Secretaria-Geral da Presidência Imagem: Isac Nóbrega/PR

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

10/10/2020 04h00Atualizada em 10/10/2020 09h59

Amigo de Jair Bolsonaro e apelidado de a "sombra do presidente", Flávio Augusto Viana Rocha, almirante de esquadra da Marinha que deve assumir a Secretaria-Geral da Presidência, teve uma ascensão meteórica dentro do Palácio do Planalto.

Rocha chegou à cúpula do Executivo federal no começo do ano e, pouco depois, foi designado para comandar a SAE (Secretaria de Assuntos Especiais), pasta que passou a ser subordinada diretamente à Presidência em fevereiro.

A promoção ocorreu no período em que os militares começaram a isolar politicamente bolsonaristas tidos como a ala ideológica do governo. As mudanças iniciais dentro da Casa Civil, comandada pelo general Braga Netto desde fevereiro. Antes, o órgão estava sob chefia de Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que havia se cercado de adeptos do ideólogo e guru da direita conservadora Olavo de Carvalho.

Seis meses depois, o almirante é o escolhido pelo presidente Bolsonaro (sem partido), como antecipou a colunista do UOL Carla Araújo, para substituir Jorge Oliveira, que deixará oficialmente a Secretaria-Geral e assumirá uma vaga de ministro no TCU (Tribunal de Contas da União).

Nos bastidores, Rocha já vinha atuando como um dos principais conselheiros de Bolsonaro e tinha acesso livre ao gabinete presidencial. Além disso, costumava participar de todas as reuniões estratégicas, mesmo aquelas que não tinham necessariamente a ver com as atribuições da SAE. Foi por esse motivo que ele ganhou o apelido de "sombra".

O secretário atuou para arrefecer crises recentes, ajudou na sucessão do Ministério da Educação e coordenou a transição do Ministério da Saúde em meio à pandemia do coronavírus, como mostrou reportagem da Folha. Seu perfil é descrito por seus interlocutores como "discreto", "sociável" e "apaziguador".

Ao escolher Rocha como secretário-geral, Bolsonaro mantém entre os ministros palacianos apenas oficiais das Forças Armadas: além do almirante e de Braga Netto, há os generais do Exército Luiz Eduardo Ramos e Augusto Heleno na Secretaria de Governo e no Gabinete de Segurança Institucional, respectivamente. Rocha, no entanto, é o único militar na ativa.

Fase paz e amor

A ascensão de Rocha dentro do Planalto coincidiu com o período no qual Bolsonaro buscou remodelar a sua imagem e reduzir o acúmulo de atritos provocados por ataques a adversários, declarações polêmicas e atritos com chefes de outros Poderes.

Por ser um homem de extrema confiança do presidente, coube ao Almirante orientar o presidente sobre os riscos de desgaste decorrente da repercussão de determinadas falas e alertar para atitudes que mais atrapalhavam do que ajudavam o governo.

Os argumentos, também defendidos por outros militares do Planalto, principalmente Braga Netto, ajudaram a convencer Bolsonaro a mudar de atitude. Esse processo resultou na recriação do Ministério das Comunicações e na aproximação política com o centrão, bloco informal composto pelos parlamentares que hoje formam a base do governo.

Rocha, 57, é natural de Fortaleza. Ele já atuou como instrutor na Academia Naval dos Estados Unidos, em Annapolis (Georgia); foi diretor do centro de Comunicação Social da Marinha; e também subchefe de Estratégia do Estado-Maior da Armada.

O militar conheceu Bolsonaro em 2002, quando ocupava o posto de assessor parlamentar da Marinha na Câmara. À época, o atual presidente exercia mandato de deputado federal.

Entre as principais condecorações recebidas por Rocha na carreira militar estão a Medalha do Pacificador, a Ordem do Mérito Ministério Público Militar, a Ordem Nacional do Mérito da Marinha Francesa e a medalha Navy And Marine Corps Commendation Medal (Marinha dos Estados Unidos).

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.