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Trevisan: Aposta de Bolsonaro pela inação nos custou mais de 150 mil vidas

Do UOL, em São Paulo

10/10/2020 04h00

O marco das 150 mil vidas perdidas para a covid-19, expôs, para a colunista do UOL Carolina Trevisan, a desigualdade característica do país. "Quem se expôs mesmo ao vírus e à falta de acesso à saúde foram os mais pobres e os mais vulneráveis", afirmou no podcast Baixo Clero # 60, que apresenta ao lado de Carla Araújo e Diogo Schelp. (Ouça a partir do minuto 4:38)

"Nesse processo todo a gente expôs justamente as pessoas mais vulneráveis, aquelas pessoas que não poderiam fazer o isolamento social dentro de casa, que não poderiam ficar na quarentena", disse. Trevisan fala que a pandemia enfatizou à falta de acesso à saúde por parte da classe mais baixa e dos mais vulneráveis.

A pandemia não se mostrou desigual somente em questões relacionadas à saúde, mas uma pesquisa realizada pelo DataPoder 360 mostrou o impacto econômico da pandemia. A pesquisa mostrou que, quanto mais pobre, maior o impacto da covid-19 na renda dos brasileiros: entre os desempregados ou sem renda fixa, 77% responderam que o coronavírus prejudicou sua renda ou emprego. O percentual cai para 57% entre os que ganham até dois salários mínimos, e para 26% entre os que recebem mais de dez salários mínimos.

Trevisan afirma que o Brasil é um país tão profundamente desigual, que o auxílio emergencial foi capaz de render apoio a um 'presidente que nada fez para proteger essa parcela de brasileiros'. Segundo o Datafolha, entre os mais pobres, com até 2 salários mínimos, Bolsonaro tinha 27% de aprovação 'bom ou ótimo' em julho do ano passado, neste ano são 29%. No mesmo período, entre os que têm renda acima de 10 salários mínimos, houve queda de 52% para 34%. Foi a primeira vez que a aprovação do presidente se deu entre a classe mais baixa.

A colunista também afirma que, em termos sanitários, o presidente se empenhou em estimular aglomerações. Relembrando alguns momentos do presidente durante a pandemia, Trevisan relembra que Bolsonaro desencorajou medidas simples de proteção como lavar as mãos e usar máscara.

"A postura do presidente custou também um constrangimento mundial", disse a colunista. Nesta semana, o MPF (Ministério Público Federal) apresentou uma apelação ao TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região) pedindo que os canais oficiais do governo brasileiro e o perfil do presidente no Twitter fossem obrigados a repassar "orientações e indicações" embasadas sobre a pandemia do novo coronavírus.

Além disso, o presidente desrespeitou e reagiu com desdém ao ser indagado sobre o número recorde de mortes em 24 horas e negou a gravidade da pandemia. Maria Carolina Trevisan afirma que a pandemia deve desembocar em uma crise econômica profunda, com altas taxas de desemprego e sem dinheiro para a transferência de renda. "Bolsonaro não se preocupou em unir o país", disse.

Baixo Clero está disponível no Spotify, na Apple Podcasts, no Google Podcasts, no Castbox, no Deezer e em outros distribuidores. Você também pode ouvir o programa no YouTube. Outros podcasts do UOL estão disponíveis em uol.com.br/podcasts.