Bolsonaro ignora pesquisas, mantém confiança em Trump e fala em "lealdade"
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) reforçou hoje, em conversa com interlocutores, que se mantém confiante em uma vitória do aliado Donald Trump na eleição americana.
O republicano, em desvantagem nas pesquisas de opinião, enfrenta nas urnas o democrata Joe Biden. A votação será encerrada na madrugada de amanhã, devido aos fusos horários diferentes nos EUA. A apuração mais complexa, com votos pelos correios, pode avançar para os próximos dias.
Bolsonaro se reuniu nesta manhã com o chanceler Ernesto Araújo e com auxiliares estratégicos para assuntos internacionais. O presidente já vinha mantendo desde ontem (2) conversas reservadas sobre o tema e recebendo conselhos e informações a respeito do embate eleitoral nos EUA.
Ele foi alertado pelo Itamaraty quanto às tendências sinalizadas por levantamentos de opinião, que colocam Biden à frente de Trump com uma margem de oito pontos percentuais (52% a 44%). Os números, no entanto, não convenceram o governante brasileiro — crítico de longa data de pesquisas eleitorais —, que está na torcida pelo republicano.
Além do ceticismo pessoal quanto à confiabilidade das amostras eleitorais, Bolsonaro lembrou a interlocutores que, em 2016, as principais pesquisas colocavam Hillary Clinton à frente de Trump. O resultado das urnas, no entanto, foi outro.
'Lealdade'
Bolsonaro também disse aos auxiliares entender que, por mais que as declarações explícitas de apoio sejam um gesto meramente simbólico, é importante para os interesses do Brasil (tanto na diplomacia quanto na economia) a manifestação de "lealdade" a Trump.
Se o republicano vencer Biden, o Palácio do Planalto avalia que as relações entre os dois governos ficariam ainda mais sólidas, sobretudo na costura de novos acordos comerciais e também na questão do apoio americano à entrada do Brasil na OCDE.
Outro tema prioritário para Bolsonaro é o agronegócio brasileiro. O Executivo teme que uma vitória de Biden possa criar dificuldades para o setor de exportação.
O democrata já ameaçou o Brasil com sanções econômicas por causa do desmatamento e das queimadas florestais. "Parem de destruir a floresta. E, se vocês não pararem, vão enfrentar consequências econômicas significativas", disse Biden durante o primeiro debate presidencial nos EUA, realizado em 30 de setembro.
Por outro lado, em caso de derrota de Trump, o governo brasileiro pretende estabelecer um diálogo "pragmático" com os democratas, utilizando-se do argumento de que o Brasil exerce papel de principal aliado dos Estados Unidos dentro do contexto geopolítico sul-americano. Segundo auxiliares bolsonaristas, a ideia será concentrar "no todo", e "não na parte".
Centrão prefere neutralidade
Base do governo no Congresso, o centrão prefere adotar uma postura de neutralidade. No entanto, os parlamentares dizem acreditar que uma vitória de Biden forçaria o governo a melhorar a gestão ambiental e o diálogo com a comunidade internacional.
O presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, senador Nelsinho Trad (PSD-MS), disse que o governo precisará se comunicar melhor, com indicadores científicos claros, para responder a questionamentos na área ambiental. A avaliação é compartilhada pelo senador Esperidião Amin (PP-SC). Segundo ele, é preciso se moldar ao interlocutor, sem subordinação.
"A nossa comunicação sobre como tratar a Amazônia tem que mudar. Defendo o uso de indicadores de sustentabilidade para acompanhar a evolução da gestão ambiental, como queimadas, desperdício de água, áreas destinadas ao plantio, geração de oxigênio", falou.
O secretário de Relações Internacionais da Câmara, deputado Alex Manente (Cidadania-SP), considera que a atual postura do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, não será bem aceita por Biden e os bolsonaristas no Congresso também serão forçados a se readequar com uma menor polarização política mundial.
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