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Maia: próximos meses terão mais peso do que eleições para o governo em 2022

Presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) - ADRIANO MACHADO
Presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) Imagem: ADRIANO MACHADO

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

16/11/2020 16h10Atualizada em 16/11/2020 23h10

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou hoje que os próximos meses no Congresso Nacional serão mais determinantes para o governo federal comandado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) do que o resultado das eleições municipais deste ano.

"Olhando para 2022, penso que tem coisas mais decisivas do que o próprio resultado eleitoral. Acredito que os próximos meses no Parlamento para o governo federal terão peso muito maior até do que o resultado das eleições de 2020", declarou, em reunião do Conselho Político e Social da Associação Comercial de São Paulo.

"O governo vai ter que tomar decisões, escolher caminhos que não são fáceis, não são caminhos com votações e decisões simples por parte do governo. Mas saberemos a força do governo federal exatamente depois que esse ciclo de votações [no Congresso], que precisa começar nos próximos dias, precisa começar a ter uma clareza por parte do governo no que defende e propõe para a sociedade", acrescentou.

Como exemplo, Maia citou a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) Emergencial, de cortes e realocação de recursos orçamentários a fim de atender programas de transferência de renda e reduzir déficits.

Maia também questionou se o governo vai transferir o programa de abono salarial para o programa de renda mínima, se "vai ter coragem" de cortar a indexação de gastos e de aposentadorias para que sobre dinheiro para ampliar o programa do Bolsa Família e de cortar auxílios de servidores atualmente.

Ele afirmou que ampliar o Bolsa Família fora do teto de gastos é "populista" por não ser sustentável e "enganar" parte da população. Isso porque, embora possa haver mais beneficiários, a sociedade sofrerá com aumento de taxa de juros, recessão e desemprego, a seu ver. Com a ampliação dentro do teto de gastos, o governo reafirmaria o compromisso com o limite de despesas possíveis, disse.

Além de cobrar posicionamentos do governo quanto a essas questões, o presidente da Câmara defendeu as reformas tributária e administrativa, e falou que o governo não pode transferir ao Legislativo responsabilidades que "cabem àquele que venceu as eleições para comandar o Brasil".

Projetos não podem ser "cortina de fumaça"

Ao comentar a importância dos próximos meses para o governo, Maia disse que "muitos projetos colocados na lista são cortina de fumaça", que não irão resolver problemas no curto prazo, como o de cabotagem, que busca desenvolver a indústria naval no país, pronto para ser votado no plenário da Câmara.

"Não devemos e não podemos cair nessa armadilha de votar projetos bonitos, que tenham algum charme e impacto na sociedade, mas que não estejam enfrentando os principais problemas do nosso país. Não dá para a gente fazer uma lista de 10 projetos e achar que do outro lado da sociedade tem pessoas que não compreendem o tamanho do problema fiscal brasileiro", disse.

"Não pode ser uma cortina de fumaça para ganhar tempo por não termos ainda coragem de enfrentar os principais desafios que nos afligem hoje, que é manutenção do teto de gastos e a sinalização clara da redução do déficit público para os próximos anos", declarou.

Maia também falou que as próximos semanas ditarão o rumo da aliança entre conservadores e liberais. O primeiro grupo é representado por Jair Bolsonaro. O segundo, pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, disse.

Maia acredita que o Congresso terá de cancelar parte do recesso parlamentar e trabalhar em janeiro do ano que vem. Ele disse não ser possível votar uma PEC no Senado e na Câmara até o final de dezembro, por exemplo. Portanto, sua previsão é que os parlamentares votem a Lei de Diretrizes Orçamentárias e, depois, avancem na PEC Emergencial até janeiro. Ele considerou que o Orçamento de 2021 pode ser aprovado somente no início de fevereiro.

Resultado das eleições reforça partidos com diálogo

A onda bolsonarista se mostrou menor após o primeiro turno dos pleitos municipais ontem. No Rio de Janeiro, por exemplo, candidatos colados à imagem de Bolsonaro fracassaram nos maiores colégios eleitorais do estado. Para Maia, o resultado até o momento mostra o fortalecimento de partidos liberais na economia e de "mais diálogo" com a sociedade em outros temas.

Ontem, ao votar, o presidente da Câmara disse que Bolsonaro agora volta ao tamanho normal de sua base eleitoral existente até antes da facada sofrida em setembro de 2018, na campanha das eleições daquele ano. Maia evitou dizer hoje se Bolsonaro está mais fraco ou mais forte politicamente. No entanto, ressaltou que a influência das redes sociais foi menor e o ambiente é de maior diálogo, sem tanto radicalismo.

Rodrigo Maia disse que o centro na política não é apenas um ponto entre a direita e a esquerda, mas um ambiente político que se tentará construir com condições de disputar as próximas eleições com mais chances de vitória. Maia tem buscado posicionar o DEM como um dos principais partidos de centro-direita. Nesse primeiro turno das eleições municipais, a sigla está entre as que mais ganharam prefeituras.

Questionado sobre a eleição para a Presidência da Câmara dos Deputados, prevista para fevereiro de 2021, Maia voltou a dizer não ser candidato à reeleição e, na hora certa, seu grupo construirá um nome para se candidatar. Ele considera que hoje a Casa tem um ambiente majoritariamente liberal na economia sem radicalismos que remetam a 2018.