Após quase 4 meses, arroz prometido pelo Brasil ao Líbano não foi enviado
Quase 4 meses depois da explosão que destruiu uma parte significativa de Beirute e deixou milhões de pessoas abaladas, uma promessa do governo brasileiro para ajudar vítimas no Líbano segue emaranhada na burocracia.
Atada a dificuldades políticas em Beirute e pela própria complexidade logística da operação, a doação de 4 mil toneladas de arroz anunciada pelo presidente Jair Bolsonaro, que deveria ser um socorro de caráter emergencial aos atingidos, até hoje não ocorreu.
Entre diplomatas em Brasília, há esperança de que o embarque da carga possa ocorrer entre dezembro e janeiro, mas não existem ainda garantias de data.
A operação terá de envolver o Programa Mundial de Alimentação da ONU (Organização das Nações Unidas), que será o responsável por organizar o frete do arroz. A ABC (Agência Brasileira de Cooperação) já está em contato com o órgão internacional, com sede em Roma. Segundo o Itamaraty, a agência irá custear o transporte.
A reportagem apurou que não há ainda uma definição do deslocamento da doação na agência da ONU.
Uma vez resolvida a questão do frete, a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) será responsável por providenciar a carga. A companhia afirmou ao UOL não ter sido acionada pelo Itamaraty até o momento.
Brasil enviou material de saúde e alimentos em missão com Temer
Poucos dias depois do desastre de 4 de agosto, o ex-presidente Michel Temer, descendente de libaneses e escolhido por Bolsonaro para lidar o esforço, viajou com uma missão brasileira para Beirute para iniciar um processo de cooperação.
Naquele momento, foram enviadas 6 toneladas de insumos básicos de saúde, como antibióticos, corticoides, analgésicos, ataduras, seringas e cateteres. Além disso, um voo levou cerca de 100 mil máscaras cirúrgicas, 300 ventiladores pulmonares e alimentos.
Temer ainda deixou em Beirute técnicos em meio ambiente e outros setores para consolidar uma ajuda brasileira ao Líbano.
Apesar do carregamento de arroz patinar, a cooperação vem ocorrendo, principalmente a partir do setor privado brasileiro. Sem alarde, grupos têm mantido operações de ajuda a Beirute, segundo relata o empresário Guilherme Matta, que integra o projeto, ao UOL.
Setor privado brasileiro se mobiliza para envio de ajuda
Nos primeiros três meses, 12 toneladas de remédios foram enviadas por via aérea e com a ajuda da Agência Brasileira de Cooperação. 70 toneladas de suprimentos ainda foram embarcadas por via marítima. Além do apoio do governo, o setor privado brasileiro ainda bancou o transporte de material por vias comerciais.
Estoques no Brasil aguardam para serem enviados, enquanto empresários reuniram R$ 1,2 milhão para ajudar na reconstrução de hospitais da região. Segundo Matta, uma vez em solo libanês, as cargas ainda ficam retidas por dias, "embaraçadas" nos trâmites do país.
A meta do grupo, juntamente com o governo brasileiro, é ainda de assinar um acordo de cooperação entre os dois países. Mas, ao contrário do modelo europeu de impor uma receita de ajuda, a postura tradicional do Itamaraty é a de garantir que seja o país receptor que determine de que forma a cooperação deve ocorrer.
Negociadores brasileiros apontam que, por esse modelo, muito dependente dos libaneses e, num momento de crise política e social, processos decisórios acabam sendo mais lentos.
No Líbano, metade da população está abaixo da linha da pobreza
No dia 4 de agosto, a explosão no porto de Beirute fez 6.500 feridos e mais de 200 mortos.
Três meses depois, vários dos hospitais destruídos continuam sem recursos suficientes para voltar a funcionar de forma plena. Com metade da população abaixo da linha da pobreza, o país se aprofunda na recessão. De acordo com o Programa Mundial de Alimentação, 50 mil pessoas passaram a receber uma ajuda emergencial para garantir sua alimentação desde setembro.
Sem o porto, entre 65% e 80% da importação de alimentos foram afetadas. Além disso, a explosão destruiu os armazéns de trigo e de outras commodities, ampliando a vulnerabilidade alimentar do país.
Segundo o Banco Mundial, a economia local deve sofrer uma contração de 19% em 2020 e de outros 13% em 2021. Se não bastasse, o Banco Central do país já indicou em outubro que conta com apenas US$ 2,3 bilhões em caixa para subsidiar alimentos e bens de primeira necessidade.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.