Topo

Covas toma posse e elege 'prioridade urgente' ativar alas para covid

Siga o UOL no

Gabriela Sá Pessoa e Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

01/01/2021 16h25

Em discurso de posse para seu segundo mandato como prefeito de São Paulo nesta sexta-feira (1º), Bruno Covas (PSDB) afirmou que o foco da gestão será combater as desigualdades e que a "prioridade urgente" é ativar alas hospitalares específicas para pacientes de covid-19 no município.

"Os últimos dias marcaram o recrudescimento de casos de covid no mundo. No Brasil, infelizmente, não tem sido diferente. Na nossa primeira gestão, promovemos a maior expansão da rede pública de saúde da história da cidade. Agora, vamos, gradativamente, colocar todos os oito novos hospitais", afirmou.

Covas assumiu a prefeitura em 2018, quando o hoje governador, João Doria (PSDB), renunciou ao cargo para disputar o Palácio dos Bandeirantes. Em novembro, o prefeito se reelegeu ao derrotar Guilherme Boulos (PSOL) no segundo turno.

A campanha do tucano adotou como estratégia levar uma mensagem de moderação, ao apresentar Bruno Covas como um candidato distante do que definia como "radicalismos". No discurso de posse, o tom foi semelhante. Covas pregou consenso, criticou o "negacionismo" da pandemia e afirmou que as urnas deram "um recado de moderação muito claro".

De cara, o prefeito citou Kamala Harris, vice-presidente eleita nos Estados Unidos na chapa do democrata Joe Biden. A vitória dos dois sobre o republicano Donald Trump tem sido considerada um sinal de mudança de rumos da política internacional, rumo à moderação.

"A democracia não está garantida. Ela é tão forte quanto a nossa vontade de lutar por ela, de protegê-la e de nunca considerá-la como dada. E proteger a nossa democracia exige luta", disse Covas, atribuindo as palavras a Harris.

Em aparente recado ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) - e com acenos de apoio de Doria - Covas criticou "tempos de negacionismo e de fragilidade momentânea da democracia representativa" em uma "defesa à ciência".

"O negacionismo está com dias contados", disse o prefeito. "É preciso menos polarização e mais conversa. O momento é de diálogo."

O tucano afirmou que não há tempo para "personalismos e arrogância" e que a cidade "é mais importante do que qualquer um".

A verdade de uma sociedade, de uma cidade, de um país é escrita pelo seu povo, que dialoga, faz política e constrói seu presente e seu futuro. Política não é terreno para intolerantes e nem para lacradores de redes sociais. Política é a arte do fazer junto, de construir pontes para o futuro, de superar a divergência
Bruno Covas, prefeito de São Paulo, em discurso de posse

covas posse - RONALDO SILVA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO - RONALDO SILVA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Bruno Covas (à dir.) toma posse na Câmara de Vereadores ao lado do vice, Ricardo Nunes
Imagem: RONALDO SILVA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Prioridade: covid-19

O tucano afirmou que o segundo mandato será de responsabilidades ainda maiores para sua equipe e que deseja "ajudar a construir um tempo de mais lucidez e senso de responsabilidade coletiva".

"São Paulo é uma cidade rica, diversa, mas profundamente injusta", disse. "A prioridade é contribuir para diminuir as desigualdades no município e melhorar a qualidade de vida de quem vive aqui."

Além da "prioridade urgente" de ativar alas hospitalares específicas para pacientes, Covas citou outras medidas que pretende adotar para enfrentar as consequências econômicas da pandemia. Disse que a Prefeitura estuda abrir espaço no orçamento para estender a renda básica emergencial, aprovada pela Câmara Municipal em 2020.

A medida é historicamente defendida pelo vereador Eduardo Suplicy (PT), que o citou em seu discurso na abertura da cerimônia. Aos 79 anos, o petista presidiu a mesa por ser o vereador mais velho. Ele presenteou o prefeito e o vice com exemplares do novo livro do Papa Francisco, "Vamos Sonhar Juntos", e leu trecho da obra que trata da renda básica universal.

Ao final de seu discurso, Covas levou um puxão de orelha de Suplicy por ter suspendido, em medida conjunta com Doria, a gratuidade do transporte público para idosos de 60 a 65 anos na cidade. Ao falar tanto sobre diálogo, o vereador falou que a medida foi tomada sem debate com a Câmara ou a população.

"Não houve um vereador que tivesse chamado atenção. Nem o presidente da Casa, nem qualquer liderança. Foi aprovado no silêncio e surpreendeu a população", criticou Suplicy. Covas não respondeu.

O tucano ressaltou que, apesar de avaliar medidas que aumentam os gastos públicos, promete fazer uma gestão "um governo reformista, em que o poder público e a iniciativa privada se unem para produzir benefícios comuns à sociedade".

"Nem o Estado máximo, nem mínimo mas tão somente o Estado necessário". afirmou.

Covas encerrou seu discurso retomando o mote de sua campanha eleitoral, "força, foco e fé". Disse que o slogan foi inspirado em um trecho de uma música do rapper paulistano Projota, que "traduzia com três palavras" seu "compromisso com São Paulo e, em grande medida, com a vida".

Posse remota

Por causa da pandemia, a Câmara permitiu que vereadores tomassem posse remotamente, por videochamada, mas cerca de 40 dos 55 participaram presencialmente.

À frente do Palácio Anchieta, um pequeno grupo protestava contra o aumento salarial de Covas e a impossibilidade de acompanhar o evento da galeria do plenário, por causa da pandemia

Como em tantas situações de 2020, a reunião virtual gerou momentos curiosos. Enquanto Arselino Tatto (PT) tentou fazer seu juramento de posse com o microfone desligado, outros colegas, também de casa, enfrentavam problema oposto e não conseguiam fechar seus microfones, o que levou a diversas interrupções, entre gritos de terceiros e latidos de cachorros.

Entre aplausos e algumas vaias, o vice-prefeito, Ricardo Nunes (MDB), fez um discurso em que também defendeu o diálogo e a moderação. O emedebista lembrou de seus dois mandatos na Câmara Municipal, como vereador, e afirmou que "as divergências são no campo das ideias". Ele também citou a desigualdade e disse que São Paulo são "duas cidades".

Nunes citou sua esposa, Regina Carnovale, presente na sessão. Ao cumprimentá-la, disse que ela "sofreu muito". Durante a campanha, uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo mostrou que ela o acusou em 2011 por violência doméstica, ameaça e injúria. O vice-prefeito negou as afirmações, que foram exploradas politicamente durante a disputa eleitoral.

O governador João Doria (PSDB) também participou do evento virtualmente. Em seu discurso, saudou os vereadores e falou sobre a vacina — tema citado por alguns parlamentares ao fazer seus juramentos.