Congresso vai perceber que não tem jeito, diz Molon sobre impeachment
O deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ) afirma que o Congresso Nacional vai perceber que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não vai mudar de atitude quanto a pandemia e sua forma de governar. Assim, aumentará a pressão para que sejam aceitos os pedidos de impeachment.
Há mais de 70 deles já protocolados e, nesta semana, partidos entraram com mais um pelo suposto uso político das Forças Armadas. A fala surgiu em conversa com o colunista Leonardo Sakamoto, hoje, no UOL Entrevista.
Molon é líder da oposição na Câmara e avalia que o impeachment se viabilizará diante da conduta apresentada pelo chefe do Executivo federal. "O Congresso vai pouco a pouco percebendo que não tem jeito, o presidente da República não vai mudar, ele se recusa a melhorar, a se tornar um presidente melhor, um ser humano melhor. Ele insiste nos seus piores comportamentos, isso vai aumentar a pressão do povo sobre o Congresso", defende Molon.
Não nos enganemos: a pressão do impeachment vai aumentar, a impopularidade do presidente vai crescer.
Alessandro Molon (PSB-RJ), deputado federal e líder da oposição
Na visão do líder da oposição, a tentativa de Bolsonaro em usar as Forças Armadas para colocar o Executivo acima do Judiciário parte de uma concepção autoritária.
"Ele acha que o Poder Executivo manda nos outros Poderes e isso vai se fazer sentir no relacionamento dele com o Congresso daqui a pouco. É consequência de quem ele é, da cabeça dele", disse se referindo ao presidente Bolsonaro. Caso o Congresso não encare a saída do presidente, segundo Molon, será um "cúmplice" da "desgraça que se abate sobre o Brasil".
Nesta semana, Bolsonaro decidiu demitir o então ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, por não trocar o chefe do Exército, Edson Leal Pujol. O presidente queria um alinhamento pró-governo por parte da tropa, o que Pujol se negou a fazer. Assim, com a recusa de Azevedo e Silva, trocou todos os comandantes militares.
Para Molon, a ação mostra uma intenção em direção a um "autogolpe para ameaçar tanto Judiciário quanto Legislativo" e o movimento configuraria um crime de responsabilidade. O socialista elogia os militares, que não deram o braço a torcer. "Ficou evidente que o alto comando não permitiu que o presidente escolhesse alguém que ele imaginava que iria se prestar ao papel de usar o Exército para pressionar Congresso e Judiciário."
Sem os militares, a possibilidade é de os bolsonaristas investirem nas forças estaduais, ou seja, nas Polícias Militares. Um indício ocorreu na morte de um PM na Bahia, que ameaçou seus irmão de farda, atirou na direção da tropa e acabou morto.
Governistas apoiaram uma insurgência de parte dos policiais, que se revoltaram contra o governador Rui Costa (PT). "É fundamental todo tipo de tentativa de subversão ou de uso de forças policiais e armadas para fins políticos e partidários ser coibida rapidamente", diz Molon.
Futuro até as eleições de 2022
Com tantos assuntos agitando o governo federal, seja a crise pandêmica, seja incompetência em alinhar os militares com o bolsonarismo, a possibilidade maior é de o Centrão abandonar o barco do presidente, como avalia o deputado oposicionista. Ainda que ministérios sejam alocados para partidos desse grupo político, nem todos aceitariam fazer parte de um "suicídio político", como ele define a manutenção do apoio a Jair Bolsonaro.
Após cinco mudanças ministeriais em uma única semana, ele avalia que a dança nas cadeiras ainda não acabou, principalmente para os apoiadores mais radicais. Um dos próximos alvos, elenca Molon, é o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, suja gestão é definida como "desastrosa, que arruinou e destruiu completamente a imagem do Brasil como potência ambiental".
"Aquilo que o Brasil tinha acumulado nos últimos dez anos como um país que poderia prestar um grande serviço ao planeta pela preservação de sua biodiversidade, suas florestas, aquilo que tinha sido construído foi destruído rapidamente pelo ministro Ricardo Salles", sustenta.
Cenário político para 2022
Molon se mostra favorável a uma união da esquerda para evitar uma reeleição de Bolsonaro. Junto dos partidos alinhados com ideais socialistas, como o seu PSB, PT, PSOL, entre outros, a investida será para agregar grupos mais próximos ao Centrão em uma única chapa.
"O PSB certamente vai discutir com essas duas forças, avaliar a viabilidade delas, acho que vai fazer um esforço para uni-las, não sei se bem-sucedido, mas, se por acaso isso não for possível, o PSB tomará essa decisão bem mais a frente considerando uma série de outros fatores", explica.
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