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Orçamento e reeleição de Bolsonaro reacendem guerra entre Guedes e Marinho

O ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho (à esq.), e o ministro da Economia, Paulo Guedes, estão em pé de guerra, de novo - Renato Costa/Framephoto/Estadão Conteúdo
O ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho (à esq.), e o ministro da Economia, Paulo Guedes, estão em pé de guerra, de novo Imagem: Renato Costa/Framephoto/Estadão Conteúdo

Carla Araújo e Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

06/04/2021 04h00

Elaborado com o objetivo de consolidar o centrão na base aliada do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e, assim, ajudar em seus planos para a reeleição, o Orçamento de 2021 aprovado no Congresso Nacional reacendeu uma "guerra" entre os ministros da Economia, Paulo Guedes, e do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho.

Em detrimento das despesas obrigatórias, o Orçamento deste ano conta com mais recursos a emendas parlamentares do que a equipe econômica diz considerar possível. Agora, Paulo Guedes tenta reverter até cerca de R$ 30 bilhões destinados a emendas para o pagamento desses gastos.

Ainda não há, no entanto, consenso com os parlamentares. Muito menos com Rogério Marinho, um dos principais fiadores para a destinação de verbas vinculadas aos senadores e deputados federais. Nos últimos meses, Marinho tem sido um articulador direto entre Bolsonaro e os congressistas, além de ser figura carimbada ao lado do presidente em viagens Brasil afora.

Chumbo trocado

Segundo um auxiliar direto de Guedes, Marinho tenta fazer um "milagre da multiplicação" no Orçamento e continua querendo incentivar o presidente a desrespeitar o mecanismo do teto de gastos. Membros da equipe econômica atribuem a Marinho parte da articulação que inflou as emendas parlamentares no Orçamento de 2021.

A ação de incrementar o montante de emendas parlamentares foi vista como um aceno de Bolsonaro ao centrão — grupo informal de partidos que compõe a base do governo no Congresso em troca de mais verbas e espaço na administração pública — para ajudar sua tentativa de reeleição em 2022. Isso porque as obras a serem tocadas com esse Orçamento serão as vitrines para os políticos em suas bases eleitorais nos estados.

Bolsonaro sabe da importância do Orçamento para sua base e, inclusive, a reforma ministerial promovida na semana passada também foi no sentido de agradá-la. Isso se mostrou, especialmente, na designação da deputada Flávia Arruda (PL-DF) à Secretaria de Governo, pasta responsável pela articulação política entre Planalto e Congresso.

Aliados de Marinho, por sua vez, afirmam que o ministro estava de férias na semana de aprovação do Orçamento, e que Guedes "não consegue cumprir seus acordos e depois coloca a culpa nos outros".

Apesar das reclamações da equipe econômica, aliados de Bolsonaro afirmam que o Orçamento de 2021 foi elaborado com a ajuda de Paulo Guedes e líderes do governo no Congresso. Há quem ressalte que, por ainda ser um fiador importante para o mercado financeiro, Guedes posa de "bom moço", que quer defender a responsabilidade fiscal, enquanto o Congresso fica com a imagem de "mau", que quer abocanhar o Orçamento para si.

Briga não é de hoje

Em outubro do ano passado, Guedes chegou a verbalizar seu incômodo com Marinho e afirmou que o ministro era "despreparado, desleal e fura-teto".

Um pouco antes, já nas discussões sobre o Orçamento, houve impasse entre o uso de recursos de precatórios para financiar o Bolsa Família e recursos do Fundeb (fundo para financiar a educação básica).

Na época, quando a alternativa foi ventilada, alguns auxiliares de Guedes afirmaram que a ideia veio de lideranças partidárias e contava com o apoio do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR).

Outros assessores disseram que foi uma sugestão vinda diretamente do ministro do Desenvolvimento Regional. Na ocasião, a assessoria de Rogério Marinho negou oficialmente a participação do ministro na discussão.

Auxiliares dizem que os dois ministros tinham um excelente relacionamento enquanto Marinho era subordinado a Guedes. Mas a relação teria azedado após o ex-secretário virar ministro e acabar "traindo" a agenda reformista. O sentimento de Guedes pelo colega de Esplanada virou "mágoa", com sinais cada vez maiores de irritação.

Flávia Arruda busca saída

Flávia Arruda, quando presidente da Comissão Mista de Orçamento, foi uma das principais responsáveis por articular o Orçamento de 2021. Agora, está tendo de se equilibrar entre agradar o governo e o centrão, do qual ela própria faz parte.

Seu objetivo é encontrar uma saída que preserve Bolsonaro política e juridicamente por meio de um veto parcial. Um projeto de lei posterior é discutido para recompor eventuais áreas. O presidente tem até 22 de abril para sancionar o texto.

No fogo cruzado entre os ministros e na tentativa de se chegar a meio-termo, surgiu ainda o risco de Bolsonaro ser acusado por crime de responsabilidade se alguma manobra for feita à margem da lei.

Ontem, Arruda passou horas reunida com técnicos do governo no Planalto para não deixar o presidente exposto. Para tanto, também conversa com integrantes do TCU (Tribunal de Contas da União), segundo apurou o UOL.

Em conversa promovida pela XP também ontem, Guedes negou que haja brigas e desentendimentos com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), um dos líderes do centrão e padrinho da indicação de Flávia. Segundo o ministro, o problema "é de coordenação do Orçamento". Ele ainda acrescentou que "outros ministros conversam com o relator, com o presidente".