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'Governo não entende o trabalho do jornalismo', diz Patrícia Campos Mello

Do UOL, em São Paulo

07/05/2021 10h46Atualizada em 07/05/2021 12h27

Durante o UOL Debate de hoje, que discutiu a relação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e a imprensa, a jornalista e escritora Patrícia Campos Mello, da Folha de São Paulo, afirmou que "nenhum governo gosta de imprensa", mas que a atual gestão federal tem sido mais agressiva por não entender o trabalho do jornalismo.

Sempre teve esse tipo de embate, mas esse tipo de governo sempre personaliza mais os embates, em relação a veículos específicos, a jornalistas específicos. Ele faz criticas que não se referem diretamente ao trabalho do jornalismo, ele não entende o trabalho do jornalismo, ele acha que o trabalho do jornalista é ser patriótico é só falar bem e não é isso
Patrícia Campos Mello

O debate foi mediado pela apresentadora Fabíola Cidral e contou com a participação do crítico de conteúdo do UOL, Mário Magalhães, e de Basilia Rodrigues, jornalista e analista de política na CNN Brasil.

Na perspectiva de Mário Magalhães, o jornalismo e crítica seria uma "redundância" e o governo Bolsonaro não consegue conviver com essa ação, que é "a essência" da profissão.

Jornalismo crítico é uma redundância, porque se não for crítico o jornalismo se desnatura, muito provavelmente ele vai ser propaganda, vai transmitir acriticamente a versão de outro sobre fatos e ideias. E o governo Bolsonaro não consegue conviver com essa ação que é a essência do jornalismo, que é a fiscalização do poder
Mário Magalhães

Basilia Rodrigues foi a jornalista responsável pela cobertura da campanha eleitoral do presidente Jair Bolsonaro, então candidato nas eleições de 2018. Ela relembra que na época o presidente era um "parlamentar nanico, mais lembrado pelos arrojos de fala" e por situações de enfrentamento com adversários políticos. Na perspectiva do jornalista, tratar da cobertura da imprensa na gestão de Bolsonaro é tocar no papel da comunicação.

Ao tirar a oportunidade dos jornalistas de fazer perguntas, muitas vezes no cercadinho quando ele era mais utilizado, ou entrevistas, e muitas das suas manifestações, das suas viagens hoje, ainda que em tempos de pandemia, causando, provocando situações de aglomeração, quando ele tira essas oportunidades do jornalistas, ele tira a oportunidade da população de ouvi-lo, de ser questionado, de não ter apenas uma versão da história
Basilia Rodrigues

Ataques aos jornalistas na gestão de Bolsonaro

O ataque aos jornalistas e aos veículos de imprensa é um episódio frequente na gestão federal, protagonizado pelo presidente Jair Bolsonaro.

Em agosto de 2020, Bolsonaro afirmou que tinha vontade de "encher" a boca de um jornalista de "porrada", ao ser questionado sobre depósitos feitos pelo policial militar aposentado e ex-assessor Fabrício Queiroz na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

Neste ano, a repórter Driele Veiga, da TV Aratu, emissora afiliada ao SBT na Bahia, foi chamada de "idiota" pelo presidente, durante uma entrevista coletiva improvisada no dia 26 de abril.

O ataque ocorreu após ela questioná-lo sobre uma foto dele segurando um cartaz com a réplica aumentada de um CPF com a tarja de "cancelado", em referência aos mortos da pandemia.

A jornalista Patrícia Campos Mello também foi alvo de críticas do presidente e ganhou a causa na justiça contra o chefe do Executivo. Na altura da crítica, Bolsonaro disse que Campos Mello "queria dar o furo" de qualquer forma, incitando a frase com conotações sexuais.

Ele fez essa agressão, e acho sempre legal falar não foi primeira vez, não foi a última, especificamente com mulher, uma coisa muito mais misógina, não é uma coisa "ah, essa matéria é uma porcaria", se você faz uma matéria mal feita, se você erra, tem que consertar, eventualmente pagar na justiça, você merece a crítica. Mas isso que vem sendo feito em relação às jornalistas não é crítica, é uma tentativa de intimidação
Patrícia Campos Mello

'Imprensa é sempre opositora' e busca a 'verdade'

Basilia Rodrigues pontuou que o papel fundamental da imprensa é fazer oposição, fiscalizar e monitorar a gestão federal e que nessa trilha, o jornalismo se compromete em buscar "a verdade", sem personificar a administração pública.

O jornalista tem que se colocar no papel social de buscar a verdade, ou como o próprio Mário disse, tentar ao máximo essa objetividade na reunião das informações. Não pode personificar, acho que você falar da administração pública, do presidente, dos parlamentares, dos governadores, você fala da pessoa jurídica. Você não pode personificar como um tipo de perseguição, como um time de má vontade, na hora de escrever as notícias
Basilia Rodrigues

A analista política da CNN também citou que tratar sobre as "histórias tristes" da pandemia na cobertura diária do noticiário é cansativo e que devido aos conflitos do governo federal com a ciência, em relação ao que deve ser feito para combater a pandemia, o país tem se "diferenciado pelo trágico" no mundo.