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Davati teria acesso a vacinas por "locadores do mercado", diz Dominguetti

Fábio Castanho e Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

01/07/2021 11h31

Luiz Paulo Dominguetti Pereira disse, em depoimento na CPI da Covid, que empresa Davati Medical Supply, da qual se apresenta como representante, tinha acesso às 400 milhões de doses da vacina contra covid-19 da AstraZeneca por meio do que chamou de "locadores do mercado".

"A informação que nós tínhamos é que o dono da Davati tinha acesso a locadores do mercado que eram os proprietários dessa vacina. Sob pena de perjúrio da proposta comercial, ele ofereceu ao governo brasileiro", disse.

A quantidade de vacinas oferecidas em fevereiro deste ano, em meio a um momento de grande demanda mundial, chamou a atenção dos senadores da CPI. Apesar de dizer que a Davati tinha acesso aos proprietários da vacina, a AstraZeneca informou que não tem intermediários para venda de suas vacinas.

No depoimento, Dominguetti repetiu as informações da entrevista publicada na última terça-feira (29) pelo jornal Folha de S. Paulo. Segundo ele o diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, cobrou propina de US$ 1 por dose de vacina, em 25 de fevereiro, um dia depois de o Brasil bater a marca de 250 mil óbitos pela covid-19. A pasta buscava negociar 400 milhões de doses do imunizante.

Roberto Ferreira Dias foi exonerado anteontem. Roberto Dias foi indicado ao cargo pelo líder do governo de Jair Bolsonaro na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). Sua nomeação ocorreu em 8 de janeiro de 2019, na gestão do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM).

Inicialmente, a Davati negociou cada dose do imunizante ao preço de US$ 3,50 cada uma. Segundo Dominguetti, Roberto Dias queria que o preço fosse de US$ 4,50, com US$ 1 de propina. Ele diz não ter aceitado.

"Foi sempre colocado uma oferta justa, comercial para o Ministério da Saúde. Nunca se buscou uma facilidade por parte do Roberto Dias. Essa facilidade não ocorreu porque ele sempre pôs entrave no sentido de que se não se majorasse [o preço] a vacina, não haveria a aquisição por parte do Ministério da Saúde. Na conversa, ele disse que a pasta dele tinha orçamento que poderia compor o preço da vacina", disse.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.