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Protesto contra Bolsonaro reúne PT e PSDB na avenida Paulista

Carolina Marins, Gabriela Sá Pessoa, Hanrrikson de Andrade, Leonardo Martins, Lucas Borges Teixeira, Carlos Madeiro e Daniele Dutra

Do UOL, em São Paulo e em Brasília e Colaboração para o UOL, em Maceió e no Rio*

03/07/2021 04h00Atualizada em 03/07/2021 22h30

O protesto contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) reuniu membros de diferentes espectros políticos na avenida Paulista, em São Paulo, incluindo apoiadores de PT e PSDB, partidos que são rivais históricos. Faixas e cartazes pediam a saída do atual presidente. Outros protestos ocorreram simultaneamente diversas em capitais, incluindo Brasília.

A participação do PSDB ao lado de legendas e movimentos de esquerda é inédita - o partido estendeu suas bandeiras na frente do shopping Center 3, próximo da rua da Consolação.

"Nós viemos para cá para pedir o impeachment do Bolsonaro. O PSDB de São Paulo se posicionou contra esse governo", afirmou Fernando Alfredo, presidente do diretório municipal do PSDB na capital. O dirigente afirmou que havia membros da executiva do partido, mas a reportagem observou que não estavam presentes nenhum dos grandes nomes do tucanato paulista.

Por outro lado, líderes petistas de vulto compareceram ao ato paulistano. A presidente nacional do PT (Partido dos Trabalhadores), Gleisi Hoffmann, comemorou a participação do PSDB nos atos. "Isso significa que o movimento para tirar Bolsonaro está crescendo", disse a deputada federal.

Adversário de Jair Bolsonaro no segundo turno de 2018, Fernando Haddad comemorou a presença de filiados ao PSDB. "É muito oportuno. A democracia está acima de qualquer coisa", disse ao UOL.

A Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência) foi procurada para comentar as mobilizações que ocorreram em Brasília e em vários outros locais do país contra o governo federal. No entanto, até o momento, não houve resposta.

3.jul.2021 - Manifestantes ligados ao PT e ao PSDB dividem espaço na avenida Paulista durante ato em São Paulo - Leonardo Martins/UOL - Leonardo Martins/UOL
3.jul.2021 - Manifestantes ligados ao PT e ao PSDB dividem espaço na avenida Paulista durante ato em São Paulo
Imagem: Leonardo Martins/UOL

Um grupo de pessoas e seguranças da concessionária ViaQuatro, que administra a linha amarela do metrô de São Paulo, entraram em confronto no final do ato, na rua da Consolação. A sede da Universidade Mackenzie e pontos de ônibus foram depredados.

Tentativa de expulsão do PSDB

Mais cedo, foi registrada uma pequena confusão no protesto em São Paulo. O motivo foi, justamente, a presença de tucanos.

A reportagem presenciou o momento em que militantes do PCO agrediram manifestantes de outras entidades de esquerda. O militante do MSTC (Movimento dos Sem-Teto do Centro), Felipe Figueiredo, que foi agredido pelos militantes do PCO, disse que a briga começou porque os representantes do Partido da Causa Operária queriam expulsar os militantes do PSDB do ato.

Membros do MSTC e outras entidades impediram o avanço dos militantes do PCO em direção aos tucanos e foram agredidos. O UOL entrou em contato telefônico com um dirigente do PCO para que se pronunciasse sobre a briga, mas não recebeu resposta.

Máscaras e adesivos

Alguns partidos organizaram tendas para vender camisetas e canecas, além de distribuírem adesivos e máscaras de proteção de modelo PFF2, o mais eficiente contra o vírus causador da covid-19.

Centrais sindicais e entidades estudantis, como UNE, UJS e UMES, também participam da manifestação. A Frente Povo Sem Medo e Frente Brasil Popular ajudaram na organização e participam do ato.

Além de bandeiras partidárias e cartazes pedindo a saída do presidente, alguns manifestantes portavam a bandeira nacional e uma enorme faixa em verde amarelo pedia o impeachment de Bolsonaro.

A manifestação na capital paulista estava marcada para começar às 15h. Às 15h20, manifestantes já ocupavam uma faixa da avenida Paulista entre o Masp e a rua Augusta.

Manifestação nacional

Chamada "3JForaBolsonaro", a manifestação nacional estava prevista para o fim do mês, mas foi antecipada após as acusações de crime de prevaricação no caso da compra da vacina Covaxin. Este é o primeiro ato após o superpedido de impeachment protocolado na Câmara dos Deputados Nesta semana, os eventos ganharam aderência de quadros de fora da esquerda, que havia prevalecido nos últimos protestos.

Das nove capitais do Nordeste, cinco tiveram atos pela manhã e quatro iniciaram pela tarde. No Norte, Belém, Porto Velho e Boa Vista tiveram atos pela manhã, e Manaus começou a movimentação durante a tarde. No Rio de Janeiro, manifestantes estavam reunidos desde as 10h com máscaras, placas e camisas personalizadas e terminaram o protesto um pouco depois das 14h.

'Agentes de conciliação' no Recife

No Recife, manifestação ocorreu pela manhã e saiu da praça do Derby para uma caminhada pelas ruas da região central da capital pernambucana. Após o episódio que envolveu violência da Polícia Militar no ato anterior, o governo do estado colocou nas ruas os chamados "agentes de conciliação" no lugar de policiais. Eles ajudaram e orientaram as pessoas que foram às ruas no protesto hoje.

Nas ruas do centro, os manifestantes formaram três filas afastadas uma das outras para garantir um distanciamento indicado entre as pessoas.

3.jul.2021 Letreiro pintado no chão durante ato nesta manhã no Recife -  Rafael Bandeira / Reprodução / Twitter MST -  Rafael Bandeira / Reprodução / Twitter MST
3.jul.2021 Letreiro pintado no chão durante ato nesta manhã no Recife
Imagem: Rafael Bandeira / Reprodução / Twitter MST

Poucos carros de som conduziram a multidão, que, em sua maioria, caminhava sob gritos de "fora, Bolsonaro" e "genocida", bem como o som de batucadas de percussão. A maior parte das pessoas vestia vermelho, preto (com alguma referência ao luto pelos mais de 522 mil mortos pela covid-19 no País) ou as cores da bandeira do Brasil.

Em comparação aos dois protestos anteriores na capital pernambucana, houve um número maior de cartazes que pediam explicitamente o impeachment do presidente. Houve também outros que citavam crime de prevaricação, corrupção e a CPI da Covid.

Na capital maranhense, o ato contou com manifestações folclóricas e apresentações de artistas. Em João Pessoa, amigos e familiares levaram fotos de pessoas que morreram por conta da covid-19 como forma de homenagear as vítimas da doença. Em Maceió, um grupo de voluntários distribuiu máscaras PFF2 para proteção dos manifestantes.

Em Belém, a manifestação teve concentração na Praça da República e participação do prefeito, Edmilson Rodrigues (PSOL), que discursou aos manifestantes.

3.jul.2021 - Em João Pessoa, manifestantes prestam homenagem aos amigos e familiares mortos pela covid-19 - Reprodução/Twitter - Reprodução/Twitter
3.jul.2021 - Em João Pessoa, manifestantes prestam homenagem aos amigos e familiares mortos pela covid-19
Imagem: Reprodução/Twitter

Máscaras distribuídas no Rio de Janeiro

No Rio, os atos começaram às 10h no Monumento Zumbi e terminaram um pouco antes das 14h com os manifestantes chegando na Cinelândia. Máscaras também foram distribuídas e pessoas de todas as idades estavam gritavam "Vida, pão, vacina e educação" e "Fora Bolsonaro". A vacinação, a inflação dos alimentos, o aumento no preço da energia e a CPI estavam entre as pautas citadas.

Marcos Tostes, 72, contou que nunca foi de participar de protesto, mas dessa vez afirmou que não tinha como não vir para as ruas.

Nunca tinha vindo em uma manifestação, as que estão acontecendo agora têm sido a minha primeira experiência. Gostei tanto da última manifestação que vim novamente. Não tem nada de bom nesse governo, tudo de ruim que aconteceu nesse país foi no governo Bolsonaro.
Marcos Tostes

03.jul.2021 - "Não tem nada de bom nesse governo, tudo de ruim que aconteceu nesse país foi no governo Bolsonaro", diz Marcos Tostes, de 72 anos. É a primeira vez que ele participa de um protesto contra o atual governo - Daniela Dutra/UOL - Daniela Dutra/UOL
Marcos Tostes, 72, em protesto no Rio de Janeiro: "Não tem nada de bom nesse governo"
Imagem: Daniela Dutra/UOL

Thabata dos Reis e Carlos Roberto Vieira foram ao protesto passado e decidiram comparecer novamente: "Ninguém aguenta mais esse governo genocida, não dá mais", disse Thabata. "Chega de governo Bolsonaro. Perdi vários amigos para a covid, não quero perder mais ninguém", afirmou Vieira.

3.jul.2021 - Thabata dos Reis e Carlos Roberto Vieira vieram no protesto passado e decidiram comparecer novamente no ato: “ninguém aguenta mais esse governo genocida, não dá mais”, disse Thabata. “Chega de governo Bolsonaro. Perdi vários amigos pro Covid, não quero perder mais ninguém”, desabafou Carlos. - Daniele Dutra/UOL - Daniele Dutra/UOL
Thabata dos Reis e Carlos Roberto Vieira participam de protesto no Rio
Imagem: Daniele Dutra/UOL

Leila Maria Martins, 58, decidiu ir sozinha para o protesto. "Não aguento mais nem olhar na cara dele [do presidente Jair Bolsonaro]. Esse homem não tem credibilidade, diz uma coisa hoje, fala outra amanhã. Fora o sentimento que ele gerou no país, de discórdia. Foi horrível. Ele colocou um contra o outro nas famílias, rodas de amigos. Ele faz apologia à violência, desperta sentimento de raiva nas pessoas. Como isso vai ser bom pra um país?"

3.jul.2021 - Leila Maria Martins, 58, decidiu vir sozinha para o protesto.  - Daniele Dutra/UOL - Daniele Dutra/UOL
Leila Maria Martins, 58, segura cartaz durante manifestação neste sábado
Imagem: Daniele Dutra/UOL

Segundo organizadores, cerca de 70 mil pessoas ocuparam a avenida Presidente Vargas, no centro do Rio, no início da tarde. Além dos manifestantes, representantes do PT, PDT, PSOL e PCO marcaram presença. Partidos de centro como Avante e Cidadania também apoiaram o ato.

Presente no ato, a deputada estadual Renata Souza (PSOL) disse que esse é um grito de desespero do povo brasileiro. "O Bolsonaro é tão letal quanto o coronavírus. Ele tem uma gestão absurda, com um governo cheio de corrupção na compra das vacinas. A população não tem direito a comida, a saúde, a educação. A favela do Rio só está tendo acesso a bala de fuzil", afirmou.

Os deputados federais Benedita da Silva (PT) e Marcelo Freixo (PSB) também compareceram. Para Freixo, hoje é um dia pedagógico: " Hoje a rua está cheia, todos de máscara, lutando pela democracia. Vim com a blusa do Brasil porque essas cores representam alegria e união do povo. Essas cores não podem e nunca vão representar a divisão do país que esse governo genocida está fazendo".

Com policiamento ostensivo, os agentes não registraram qualquer tipo de confusão, briga, ou assalto: "Foi tudo tranquilo, não vimos nada de errado, graças a Deus", disse um deles.

País teve milhares nas ruas em junho

Depois das edições de maio e junho, este é o terceiro grande ato seguido que reúne os opositores ao presidente. No último dia 19, milhares de pessoas foram às ruas em mais de 400 cidades.

"O Brasil não aguentará o governo genocida, e agora investigado por corrupção, de Jair Bolsonaro até 2022. O impeachment é urgente, tem de ser agora", diz a carta que convocou para os atos de hoje, assinada por dez centrais sindicais. A Coalizão Negra, formada por 200 organizações do movimento negro, também confirmou presença.

Embora os protestos reúnam movimentos e partidos de esquerda e direita, o MBL (Movimento Brasil Livre) optou por não participar, conforme informou ontem o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP).

*Com Estadão Conteúdo