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Ex-diretor confirma encontro em restaurante, mas nega pedido de propina

Fabio Castanho e Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

07/07/2021 10h20Atualizada em 07/07/2021 12h00

O ex-servidor federal Roberto Ferreira Dias rechaçou hoje, em oitiva da CPI da Covid, a acusação feita pelo PM Luiz Paulo Dominghetti Pereira de que houve cobrança de propina em negociações para compra de vacinas contra a covid-19.

Ex-chefe de Logística do Ministério da Saúde, o depoente confirmou que esteve com o policial em um jantar no restaurante Vasto, em Brasília, mas negou ter solicitado qualquer tipo de vantagem ilícita durante o encontro.

Os fatos em questão foram narrados à CPI por Dominghetti durante depoimento na semana passada. Apresentando-se como lobista da empresa americana Davati Medical Supply, ele alegou ter ouvido de Dias uma sugestão de propina de US$ 1 por dose em relação a suposta oferta que estava sobre a mesa (venda de 400 milhões de doses da AstraZeneca).

Em contrapartida, o ex-servidor (exonerado do cargo pouco depois que o caso veio a público em uma reportagem da Folha de S.Paulo) atuaria no sentido de acelerar as tratativas e a assinatura do contrato —de acordo com o que contou Dominghetti à comissão.

Hoje, Dias respondeu à CPI que a narrativa do PM seria completamente fantasiosa, rotulando-o como "picareta" e "aventureiro". De acordo com o depoente, os dois estiveram em um jantar informal em Brasília, em 25 de fevereiro.

Na ocasião, Dominghetti teria se apresentando como representante comercial a fim de, com suposta autorização da AstraZeneca (informação negada pela fabricante do imunizante), negociar com o governo brasileiro um lote de 400 milhões de doses.

O ex-diretor de Logística teria então respondido que o PM deveria entrar em contato com a pasta com o intuito de agendar um compromisso formal.

"No dia 25 de fevereiro, fui tomar um chope com um amigo e em determinado momento se dirigiu a mim o coronel [Marcelo] Blanco ao lado de uma pessoa que se apresentou como Dominghetti, que disse representar empresa com 400 milhões de doses da AstraZeenca."

"Eu disse a ele que isso já tinha sido circulado no ministério, mas nunca com documentação necessária. Nunca houve nenhum pedido meu a esse senhor", completou.

Posteriormente, na sede do ministério, Dominghetti não teria apresentado a carta por meio da qual ficaria consignado que ele possuía autorização da AstraZeneca para desenvolver as negociações. Na sequência, o policial retirou-se do local e, desde então, Dias alega nunca mais tê-lo visto.

Nunca pedi nenhum tipo de vantagem ao senhor Dominghetti e nem a ninguém
Roberto Ferreira Dias, ex-diretor do Ministério da Saúde

Covaxin

No depoimento, Roberto Dias também negou que tenha pressionado Luis Ricardo Miranda, chefe de importações do Ministério da Saúde, em relação ao processo para compra da vacina indiana Covaxin —também investigada pela comissão.

Segundo ele, a mensagem apresentada como indício da pressão se referia a um outro processo, relativo ao imunizante AstraZeneca.

"Fui injustamente acusado de ter pressionado um funcionário chefe da divisão de importação e a comprovação foi demonstrada em uma mensagem encaminhada as 20h46 de um sábado, dia 20 de março, quando perguntava como está a LI da vacina. Essa é uma única frase atribuída como forma de pressão indevida. Em nada se referia à Covaxin, em um sábado a noite nada mudaria deste processo."

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.