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'Não aceito que CPI vire chacota', diz Aziz após mandar prender ex-diretor

Do UOL, em São Paulo

07/07/2021 18h30Atualizada em 07/07/2021 19h37

Presidente da CPI da Covid, o senador Omar Aziz (PSD-AM) defendeu hoje a decisão de mandar prender o ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, sob a acusação de mentir à comissão. Questionado tanto por governistas quanto por senadores de oposição, Aziz reconheceu que dar ordem de prisão a alguém não é fácil, mas reforçou que não deixará a CPI virar "chacota".

"Prender alguém não é uma decisão fácil, mas não aceito que a CPI vire chacota. Temos mais de 527 mil mortos nesta pandemia. E gente fazendo negociata com vacina. A Comissão busca fazer justiça pelo Brasil", escreveu o senador em uma rede social.

Não vamos ouvir historinha de servidor que pediu propina. E quem vier depor achando que pode brincar, terá o mesmo destino.
Omar Aziz, no Twitter

A decisão de Aziz gerou bate-boca, e nem todos os senadores concordaram com a prisão de Dias. A advogada do ex-servidor protestou contra a prisão, dizendo que o ato é uma ilegalidade e que seu cliente estava colaborando com a CPI desde a manhã.

"Pazuello mentiu, Wajngarten mentiu"

O senador Otto Alencar (PSD-BA), tido como da oposição na CPI, afirmou que Dias não era "o primeiro que mentiu aqui". "O Pazuello mentiu, Wajngarten mentiu, todos que passaram aqui mentiram. Foi uma corporação de mentirosos, então tem que prender todos os mentirosos, não só o Roberto Dias."

Já o senador oposicionista Alessandro Vieira (Cidadania-SE) disse a Aziz saberem que o depoente "está mentindo", mas lembrou que a comissão "não botou um general que estava mentindo na cadeia [em referência a Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde], não botou o Wajngarten mentindo na cadeia".

"Em respeito aos precedentes que Vossa Excelência estabeleceu, para que não reste nenhum tipo de dúvida de que porque esse cidadão aí [Dias] é um funcionário de nível hierárquico mais baixo, já foi demitido, [é que] a gente vai dar a prisão para ele. (...) Peço a Vossa Excelência, com todo respeito, que avalie a reconsideração da decisão", pediu Vieira a Aziz — sem sucesso.

Outras ameaças

Em outras ocasiões, Omar Aziz já havia alertado os depoentes sobre a possibilidade de mandá-los à prisão caso continuassem, segundo o senador, mentindo à comissão. Na semana passada, Aziz se recusou a prender o policial militar Luiz Paulo Dominghetti, que negociou a venda de 400 milhões de doses de vacina contra a covid-19 com Roberto Dias, "em respeito a sua família".

"Tenho tido paciência, e já pediram várias vezes para lhe prender aqui, várias pessoas. E não é só da base e da oposição, não. Muitas pessoas", disse o presidente da CPI. "Não tenho nenhuma intenção de prendê-lo. Não vou lhe prender porque imagino suas filhas, seus filhos, sua esposa, lhe vendo neste momento. Aquilo que a gente não quer para a gente, a gente não deseja para os outros."

Na sessão, Aziz também defendeu a realização de uma acareação entre Dominguetti, Dias e Cristiano Alberto Carvalho, CEO da Davati no Brasil, para confrontar as versões de cada um. O senador sugeriu que, se forem identificadas mentiras ou quaisquer tentativas de atrapalhar as investigações, pode considerar um pedido de prisão em flagrante.

Na acareação, se houver algum tipo de querer brincar com essa CPI, de querer atrapalhar as investigações, de querer desnortear o trabalho que estamos fazendo, as consequências não serão as mesmas de hoje. Acho que sua vida não muda para melhor a partir de hoje. Não digo isso com satisfação, é com pesar, porque o senhor tem uma família para criar, e o constrangimento que alguns querem... Não farei isso.
Omar Aziz, em 1º de julho

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.