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CPI: reverendo pode ligar Bolsonaro a esquema de vacinas, diz Sakamoto

Colaboração para UOL

03/08/2021 14h41Atualizada em 03/08/2021 16h23

O colunista Leonardo Sakamoto afirmou hoje durante o UOL News que o reverendo Amilton Gomes de Paula, ouvido hoje na CPI da Covid, é peça fundamental esclarecer a participação do presidente Bolsonaro no esquema de compra de vacina.

O reverendo atuou na negociação para intermediar uma suposta compra de vacinas da AstraZeneca pelo governo brasileiro, em que há suspeita de tentativa de superfaturamento e cobrança de propina. Ele é presidente da Senah (Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários) que, apesar do nome, é uma entidade privada e religiosa, sem vínculo com o governo federal.

"Nessa história, ele teria dito que fez a ponte entre os representantes da Davati [empresa com sede nos EUA] e Jair Bolsonaro. Primeiro é citado pela Davati numa tentativa de ponte envolvendo Michele Bolsonaro e, depois, envolvendo o próprio presidente".

O colunista destacou a troca de mensagens que dão indícios dessa tentativa. "Apesar de não ter referência direta ao presidente, [a Davati] fala que o reverendo ia fazer essa intermediação, que teria sido recebido pelo Bolsonaro numa audiência e que, numa troca de informações entre Amilton e Dominguetti, que Amilton teria dito que teria falado com quem manda [o presidente]", apontou Sakamoto. Ele cita o policial militar Luiz Paulo Dominguetti, que atua na venda de suprimentos médicos e já depôs à CPI após afirmar ter recebido pedido de propina quando tentou vender imunizantes ao Ministério da Saúde.

Sakamoto ressaltou que existem elementos nos diálogos que envolvem Dominguetti e a primeira dama . A CPI busca esclarecer o caso.

'Bem Amado' e 'chanchada'

Ainda ao UOL News, Sakamoto e o colunista Joel Pinheiro compararam o reverendo à "antiga Sucupira, do Bem Amado".

Na primeira parte do depoimento, comentado simultaneamente pelos colunistas, os senadores perguntaram exaustivamente como o reverendo Amilton conseguiu acessar o alto escalão do Ministério da Saúde para apresentar Luís Dominguetti como intermediário para a venda de vacinas, já que ele afirmou não ter ligações com o governo.

Leonardo Sakamoto disse que "todo mundo tentou levar vantagem" no Ministério da Saúde, "dentro de um esquema de superfaturamento".

"Todo mundo se envolveu, militares, religiosos, delegados, policiais, uma bagunça. Menos os técnicos, que realmente sabem do assunto, os laboratórios sérios", afirmou Sakamoto.

"O reverendo é o retrato da loucura, da bagunça e do caos que é o governo Bolsonaro", opinou o colunista.

Joel Pinheiro ironizou o título do reverendo de "embaixador mundial da paz" e disse que estamos vivendo um "enredo de chanchada". "Eu
não consegui entender direito o que a Davati fazia nessa história toda. Aparentemente, ela não tem, não vende vacina nenhuma, não é reconhecida por laboratório nenhum. A gente vê que entre governo e a Davat, que era uma suposta intermediária, mas não era intermediária nenhuma, tinha mais uma intermediária, a ONG do reverendo Amilton."

Pinheiro concordou com Sakamoto que o enredo dessa história ficaria melhor no "Bem Amado". "No Ministério da Saúde, no meio da pandemia do século, a gente ter visto isso, esse despreparo, essa bagunça, misturada com corrupção total é um pouco de fazer você se deprimir também", desabafou.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.