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Na Paulista, 7 de Setembro tem ataques a STF, Doria, esquerda e imprensa

Amanda Rossi, Ana Paula Bimbati e Leonardo Martins*

Do UOL, em São Paulo

07/09/2021 12h36Atualizada em 07/09/2021 16h35

Com cartazes golpistas que pedem o fechamento do STF (Supremo Tribunal Federal), a adoção do voto impresso e a instituição de um tribunal militar, manifestantes se reúnem agora na Avenida Paulista, em São Paulo, em ato que deve contar com participação de Jair Bolsonaro (sem partido) a partir das 15h30.

Pouco antes das 15h, a reportagem percorreu uma distância de cerca de 11 quadras — entre as ruas Haddock Lobo e a avenida Brigadeiro Luís Antônio — ocupadas pelo ato. Na região do parque Trianon, é bastante difícil circular, uma vez que a maior concentração de pessoas se dá ali, em torno das grades que circundam o carro de som. Seguranças e policiais federais impedem o acesso a ele.

O primeiro membro do governo federal a falar foi o Ministro da Educação, Milton Ribeiro. "Nós queremos escolas abertas, sem nenhuma discussão de gênero para crianças de 6 anos, vamos preservar a inocência das crianças, tudo tem seu tempo certo e a hora certa", bradou ao microfone.

Durante a concentração, os principais organizadores pediram para que manifestantes gritassem "Fora Xandão", em referência ao ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Alexandre de Moraes. Além de falas sobre "limpeza do Congresso", a preparação para o ato teve ainda ao menos duas execuções do hino nacional.

Do alto do carro de som, muitos discursaram contra o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e foi executado algumas vezes um jingle que ironiza o tucano: "Calcinha apertada/ Ai, aí, aí". Ao redor, pessoas cantavam e dançavam.

Na Paulista, Marcelo segura cartaz em inglês pedindo morte de Lula - Amanda Rossi/UOL - Amanda Rossi/UOL
Na Paulista, Marcelo segura cartaz em inglês pedindo morte de Lula
Imagem: Amanda Rossi/UOL

Marcelo, de São Paulo, não quis declarar o sobrenome à reportagem e disse trabalhar no ramo de alimentação. Ele levava consigo dois cartazes: um pedindo a morte do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e outro, a dos ministros do STF. "Lula, 'el diablo', quero ler as manchetes sobre a sua morte. Morra logo", diz a mensagem traduzida para o português.

Questionado pela reportagem sobre pedido de "morte", respondeu: "Porque todo esquerdista tem que morrer. Você é jornalista? UOL é da Foice de São Paulo. Todo esquerdista tem que morrer".

Pouco antes, o familiar de duas senhoras de São José dos Campos, uma de 80 e outra de 81, tentou intimidar a repórter que as entrevistava: "O que você vai distorcer?".

Diferentemente do início da manhã, o clima mudou em relação à receptividade do trabalho da imprensa a no início da tarde. Manifestantes passaram a anunciar aos gritos a presença de jornalistas e incentivar hostilidade contra eles.

Arthur do Val é expulso de ato

Arthur do Val é escoltado pela polícia após ser expulso da manifestação na avenida Paulista - Reprodução - Reprodução
Arthur do Val é escoltado pela polícia após ser expulso da manifestação na avenida Paulista
Imagem: Reprodução

Ex-bolsonarista, o deputado estadual Arthur do Val (Patriota-SP), o Mamãe Falei, foi expulso da manifestação na Paulista. Um vídeo compartilhado nas redes sociais mostra o deputado com uma câmera afixada ao peito sendo escoltado por policiais militares.

Procurado pelo UOL, ele afirmou que foi ao ato "para questionar os bolsonaristas", mas que, "como sempre, houve alguma animosidade e saímos".

Questionado sobre o que perguntou aos manifestantes, disse que pediu a opinião deles sobre bandeiras polêmicas de Bolsonaro, como a troca dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e o preço da gasolina.

Mamãe Falei ficou conhecido nacionalmente a partir de vídeos conservadores publicados no YouTube.

"Nem STF, nem Doria"

Subtenente Evaldo Batista e Cabo Neusa Brandão na Paulista para ato de 7 de Setembro - Amanda Rossi/UOL - Amanda Rossi/UOL
Subtenente Evaldo Batista e Cabo Neusa Brandão na Paulista para ato de 7 de Setembro
Imagem: Amanda Rossi/UOL

Não concordamos com muita coisa do Supremo. E também não concordamos com o governador [João Doria], que prometeu melhoria da polícia e não fez."
Evaldo Batista, subtenente aposentado durante ato na Paulista

O casal Evaldo Batista, subtenente, e Neusa Brandão, cabo — ambos da reserva da Polícia Militar de São Paulo — usava uma camiseta dizendo "Polícia Nota = 10; Salário Nota = 0".

"O Supremo está tirando nosso direito à expressão. Mesmo na polícia, aprendemos o respeito ao outro. A democracia é o princípio de tudo. Aqui não é comunismo. Lutamos para que o Supremo e o Congresso façam a vontade do povo", completou Neusa.

Questionados a respeito da participação de militares da ativa fora de serviço, o casal disse que "os veteranos representamos a todos".

Protesto de 7 de Setembro, a favor do Presidente Jair Bolsonaro, realizado na Avenida Paulista, em São Paulo - CELSO LUIX/ESTADÃO CONTEÚDO - CELSO LUIX/ESTADÃO CONTEÚDO
Protesto de 7 de Setembro, a favor do Presidente Jair Bolsonaro, realizado na Avenida Paulista, em São Paulo
Imagem: CELSO LUIX/ESTADÃO CONTEÚDO

"Brasília é muito longe"

Renato e Katya Breuel, comerciantes de Maringá (PR), chegaram à Paulista por volta de 6h da manhã. Vieram diretamente da rodoviária depois de uma viagem de dez horas de ônibus da cidade paranaense até a capital paulista.

Queríamos ir para Brasília, mas é muito longe. Então viemos para a Paulista. Dormimos no ônibus, não pegamos hotel. E vamos voltar hoje mesmo, de ônibus. A manifestação está servindo para testemunharmos para os militares o que estamos querendo."
Renato Breuel, de 60 anos, do Paraná

Renato Breuel, de 60 anos, veio do Paraná para ato na Paulista - Amanda Rossi/UOL - Amanda Rossi/UOL
Renato Breuel, de 60 anos, veio do Paraná para ato na Paulista
Imagem: Amanda Rossi/UOL

"Queremos a demissão dos ministros do STF e o voto auditável. Se eles [os ministros do STF] não obedecerem, temos que paralisar o Brasil. A melhor ação será a dos motoristas de caminhão. Se a gente tiver que ficar com nossa loja fechada por um mês, pelo bem do Brasil, a gente fecha", diz o comerciante paranaense, vestindo uma camiseta da seleção brasileira de futebol.

"E aí eles [os militares] têm que entrar. Se chegar o caos, com certeza os militares vão intervir", completa. Outra pauta defendida pelo casal é a instituição de um tribunal militar.

"O tribunal militar vai julgar o que o STF não julga. Graças ao STF, o Lula voltou à estaca zero. O Lula pode ser eleito ano que vem na base da fraude. E o Brasil pode cair nas mãos dos comunistas", continua o manifestante.

Maringá é a cidade de Sergio Moro, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro. Questionados a respeito do ex-juiz da Lava Jato, o casal maringaense foi sucinto: "É um canalha".

Virginia Verçosa (à dir.) veio de Campinas com amigos - Amanda Rossi/UOL - Amanda Rossi/UOL
Virginia Verçosa (à dir.) veio de Campinas com amigos
Imagem: Amanda Rossi/UOL

Virginia Verçosa, artesã de Campinas, veio ao protesto na avenida Paulista com um casal de amigos, de carro. Dormiram em um hotel e esperam retornar hoje a Campinas.

O STF é ótimo. A questão é quem está lá. Precisa de uma intervenção militar para trocar os ministros [do STF]."
Virginia Verçosa, de Campinas, em ato na Paulista

Divorciada de um militar que, segundo ela, também participa da manifestação na Paulista, Cristina diz que o espírito não é de guerra, apesar da pregação pela intervenção militar. "Ninguém está com espírito de confusão, mas de chamamento. Somos soldados do batalhão do amor de Jesus", diz ela, que se apresenta como "espiritualista".

Por volta de 11h30, um helicóptero da Polícia Militar sobrevoou o centro do protesto a baixa altitude — mais baixo que alguns dos prédios da avenida Paulista — e foi saudado pelos manifestantes. Algumas pessoas comentavam que o sobrevoo em baixa atitude — incomum — era uma sinalização de apoio aos manifestantes.

Poucas pessoas usam máscara de proteção contra a covid-19. Muitas vestem camisetas feitas especialmente para a ocasião, algumas delas indicando a cidade de origem. Grande parte menciona cidades do interior de São Paulo e do Paraná.

*Colaborou Wanderley Preite Sobrinho.