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Bolsonaristas e petistas querem controlar a informação, diz Merval Pereira

Colaboração para o UOL

21/09/2021 14h44Atualizada em 21/09/2021 14h44

Para o jornalista Merval Pereira, colunista do jornal O Globo e da GloboNews, bolsonaristas e petistas se comportam de maneira semelhante no que diz respeito ao diálogo com quem pensa de maneira diferente ou faz críticas aos governos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"A maneira como os bolsonaristas e os petistas veem o mundo, em um sentido de informação, é muito semelhante. Ambos querem controlar a informação, ambos se consideram quase onipotentes, não gostam de críticas", diz Pereira, convidado de hoje do programa "Jornalistas e Etc.", conduzido pela colunista Thaís Oyama.

Pereira participou da cobertura de todos os governos brasileiros desde a gestão do ex-presidente Ernesto Geisel, na época da ditadura militar. Para ele, "o governo mais difícil [de cobrir] foi o do Lula, porque os petistas não convivem com a crítica ou com quem é crítico".

Eu me dava bem com o Lula pessoalmente, tinha uma relação muito razoável. Não era íntimo do Lula, mas era muito razoável.
Merval Pereira, jornalista

"Mas, realmente, eles [os petistas] não gostam de críticas. Então você ia a Brasília, por exemplo, e era inútil, porque ninguém te recebia, você não conversava com nenhum político. Eram raros os políticos que conversavam com você. Ou te recebiam e a conversa era uma conversa completamente sem sentido", conta o jornalista.

A dificuldade na relação com membros do governo, na avaliação de Pereira, é algo que vem se repetindo na gestão Bolsonaro —a quem ele classifica como uma pessoa que "não é comparável a nenhuma outra que eu tenha conhecido" e que "nunca poderia ter chegado aonde chegou, não deveria estar onde está".

Segundo ele, outros ex-presidentes, como Michel Temer (MDB), José Sarney (MDB) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB), se comportaram como "grandes democratas" por saberem lidar com críticas por parte da imprensa e não recusarem conversar com jornalistas. "Não é o caso do Lula, nem do Bolsonaro", avalia.

"As coxas de Lula"

No programa, Pereira também analisou a repercussão de uma de suas colunas publicadas recentemente no jornal O Globo e que fala da viralização de uma foto em que o ex-presidente Lula aparece de sunga ao lado da namorada, a psicóloga Rosângela da Silva.

"E não foi só sua coxa musculosa que chamou a atenção dos fãs. Estava de sunga, e houve até quem comemorasse, sob ela, o pressentido bilau do Lula", escreveu o colunista no artigo, publicado com o título "As coxas de Lula". Nas redes sociais, Pereira foi alvo de uma série de críticas.

"Eu sabia que era um tema delicado, sabia que os petistas iam ficar irritados. Isso não me incomoda, inclusive porque eles ficam irritados, mesmo. Petistas, bolsonaristas, não tem problema", diz Pereira.

Para ele, a reação dos petistas à publicação da coluna "foi uma reação de quem não gosta que toquem no seu mito". "Essa coisa do líder populista, que é intocado, que é venerado, que é adorado por seus seguidores. Isso me... Não é que preocupe, porque é uma coisa que sempre aconteceu na história. Mas é perigoso, é muito perigoso", afirma.

ABL e próximos projetos

O jornalista, que também é membro da ABL (Academia Brasileira de Letras), comemora em setembro os dez anos da data em que tomou posse como imortal. "É uma coisa que me dá muito orgulho, porque eu sou dos poucos membros da Academia que entraram por ser jornalista", diz.

Na ABL, ele também deve ser eleito presidente no fim deste ano. "Vamos voltar a publicar livros, mas com coisas específicas da Academia, sobre Machado [de Assis], o acervo da Academia. Temos muita coisa para fazer, e acho que a gente vai conseguir", afirma.

Para ele, 2022 será um ano "muito importante" para a organização. "Acho que vamos ter uma produção cultural importante em um momento em que o Brasil está precisando compor a ideia de que a cultura é um ativo importante, porque o governo realmente não dá nenhuma importância à Academia".

O jornalista, além disso, revelou que também escreve contos —entre seus planos, está a publicação de um livro desse tipo de linguagem. "Mas ainda preciso fazer mais, escrever mais e me dedicar mais a isso, o que não tenho conseguido", diz.