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Ativista: População negra pagou com a vida na pandemia, e CPI dá esperança

Do UOL, em São Paulo

26/10/2021 14h33Atualizada em 26/10/2021 14h46

Para a ativista Ester Rufino, que integra da diretoria do IBCCRIM (Instituto Brasileiro de Ciências Criminais), a CPI da Covid desperta esperança de que "culpados paguem por todas as mortes" durante a pandemia de covid-19.

"Eu perdi familiares. Não há um vizinho aqui que não perdeu familiares porque não teve hospital para atender, não teve vacina o suficiente que chegasse no momento adequado", disse Rufino ao UOL News, programa do Canal UOL.

Falando sobre a realidade pandêmica dentro das comunidades e favelas brasileiras, Rufino disse que, quando o vírus chegou a esses locais, foi ao encontro de outras situações de "desgraça" encontradas nas periferias, como a violência policial contra jovens negros e pobres.

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2020 (levantamento mais recente feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, com dados de 2019), 74,4% das vítimas de homicídio no Brasil eram pessoas negras. Entre as mortas por policiais, 79,1% são pessoas negras.

Na esfera do poder público, não existe uma divulgação transparente de dados oficiais nacionais sobre homicídios ou sobre mortes provocadas por policiais em todo o Brasil. O governo brasileiro também não disponibiliza dados nacionais sobre as investigações e punições de homicídios.

"Como não se bastasse nós morrermos todos os dias, todos os minutos, principalmente os jovens negros, a pandemia veio de encontro conosco e escancarou totalmente", lamentou a ativista.

"Eu agradeço à ancestralidade que me deixou viva para poder estar fazendo essa denúncia. Perdemos muito dos nossos em periferias e comunidades em todo o Brasil. Não houve lugar algum em que a população negra não pagasse com a vida", completou.

Na avaliação da ativista, o relatório do senador Renan Calheiros (MDB-AL) renderá condenações por tudo ter sido pego "no flagrante". "Foi pego no flagrante o desvio, toda a maldade da cúpula desse governo contra nós", afirmou.

No relatório da CPI, Renan dedicou um capítulo inteiro para falar sobre os impactos da pandemia do novo coronavírus na vida das mulheres, das pessoas negras e das comunidades quilombolas.

Em abril do ano passado, no início da pandemia, dados de um boletim epidemiológico de Prefeitura de São Paulo apontavam que o risco de mortes de pessoas negras pela covid-19 em São Paulo era 62% maior em relação ao das pessoas brancas.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.