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PDT deve reverter votos e rejeitar PEC apesar de temer retaliação de Lira

Luciana Amaral e Carla Araújo

Do UOL, em Brasília

09/11/2021 19h42Atualizada em 09/11/2021 20h48

Parte da bancada dos 25 deputados do PDT na Câmara deve reverter os votos e rejeitar a PEC dos Precatórios apesar de temer uma posterior retaliação do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL). Isso porque, com o recuo, pedetistas vão descumprir um acordo feito com Lira.

Segundo deputados do PDT que haviam votado a favor da PEC dos Precatórios no primeiro turno, mudanças no texto apresentado em plenário foram feitas em negociações com a participação do partido e de Lira. Para governistas, era melhor fazer algumas alterações e contar com os votos do PDT do que perder o apoio de parte dos pedetistas.

Agora, ala dos pedetistas admite, reservadamente, estar descumprindo o que foi acordado. Apesar de dizer que a bancada não concorda com todos os trechos da PEC, um pedetista afirmou à reportagem que, em compensação pelos votos favoráveis, Lira havia prometido votar no futuro próximo outra PEC com a constitucionalização de uma renda mínima — uma das principais pautas do pré-candidato do partido à Presidência, Ciro Gomes.

O PDT é de oposição ao governo de Jair Bolsonaro (sem partido), mas 15 dos 21 deputados pedetistas votantes na primeira análise do texto-base da PEC foram favoráveis à proposta, ao contrário da maioria das demais siglas oposicionistas.

O PSDB e o PSB também contaram com deputados que votaram a favor da PEC, embora façam parte da oposição. Após repercussão negativa, os presidentes dos partidos passaram a falar em buscar reverter os votos.

Ciro Gomes chegou a anunciar a "suspensão" de sua pré-candidatura diante do cenário interno do partido. Mas, na verdade, os próprios pedetistas nunca enxergaram que essa "suspensão" fosse para valer. Pelo contrário, Ciro usou o projeto eleitoral para fazer os correligionários seguirem sua vontade, alegam.

A previsão de deputados pedetistas que afirmam ter aceitado mudar o voto — antes a favor e, agora, contra — é que cerca de dez parlamentares da bancada realmente votarão de forma diferente.

Um dos deputados classificou a revisão do voto como "dolorosa" e disse que o "desconforto é muito grande" na bancada. Ele disse só ter aceitado mudar de posição para "andar com o time". Para o parlamentar, a "causa maior é a disputa eleitoral de 2022".

Pedetistas falaram à reportagem que Lira foi mantido informado ao longo das tratativas para a reversão dos votos, assim como Ciro Gomes teria sido informado do acordo firmado por parte da bancada com o presidente da Câmara anteriormente.

Para deputados, Ciro só ameaçou "suspender" a pré-candidatura para atender à pressão da base partidária e usar de sua força dentro do partido. Segundo um pedetista, Lira "sabe o porquê" das mudanças e disse que possível retaliação "é do jogo". Ou seja, agora, basta aceitar, se vier, e tentar minimizar os danos.

Na avaliação de outro deputado do PDT, a situação desconfortável pelo acordo desfeito tem de ser revertida entre a liderança do PDT e Lira.

Presidente do PDT minimiza brigas

No início da tarde, deputados federais do PDT se reuniram com a direção executiva do partido em Brasília para discutir o posicionamento perante a votação da PEC.

Em coletiva, após discussões internas, o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, buscou minimizar as brigas e anunciou que agora há "consenso" na bancada.

Lupi disse ainda que o episódio da "suspensão" da pré-candidatura de Ciro Gomes já está "superado", e que o pedetista continuará na corrida ao Planalto.

Votos do PDT preocupam governo federal

Assessores do governo federal afirmaram que a eventual virada do PDT preocupa o Planalto. A PEC dos Precatórios foi aprovada em primeiro turno por margem apertada — apenas 4 votos a mais do que os 308 favoráveis necessários.

A proposta, que já havia passado por comissão especial, abre espaço fiscal de R$ 91,6 bilhões para o governo federal em 2022, o que viabiliza o lançamento do Auxílio Brasil de R$ 400, programa que vai substituir Bolsa Família e é aposta do presidente Jair Bolsonaro na tentativa de se reeleger no ano que vem.

Auxiliares de Bolsonaro dizem, porém, que o clima no governo ainda é de certo otimismo, já que o líder do governo na Câmara, deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), tem salientado que há mais integrantes da base aliada presentes na votação de hoje e que o quórum deve ser maior do que no primeiro turno.