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Governador do RJ sobre mortos no Salgueiro: 'Coisa boa não estavam fazendo'

14.jun.2021 - Governador do Rio, Cláudio Castro, em inauguração do programa Bairro Seguro -  WALLACE SILVA/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
14.jun.2021 - Governador do Rio, Cláudio Castro, em inauguração do programa Bairro Seguro Imagem: WALLACE SILVA/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

Do UOL, em São Paulo*

26/11/2021 10h36Atualizada em 26/11/2021 13h05

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), disse ontem que os nove mortos encontrados no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, no domingo (21), após uma ação policial não deveriam estar fazendo "coisa boa". Em visita à Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), Castro deu uma entrevista coletiva a jornalistas, parte dela veiculada pelo Jornal O Dia.

"Gente, aqui ninguém é criança. Ninguém vai camuflado pro mangue trocar tiro com a polícia de airsoft. Se foi completamente vestido camuflado trocar tiro com a polícia no mangue, certamente coisa boa não estava fazendo", disse Castro na Alerj.

Airsoft é um modo de prática esportiva de tiro com armas não letais. Nas armas de pressão do airsoft, usadas em esporte de ação, são colocadas cápsulas de plástico no lugar de balas reais.

Segundo a CNN Brasil, os laudos periciais indicaram que seis das nove vítimas foram encontradas usando roupas camufladas — uma espécie de "uniforme" do tráfico de drogas no estado.

Antes da declaração, Castro havia afirmado que o governo "trabalha todos os dias para melhorar as ações das polícias".

Ao ser questionado sobre o resultado de ações policiais violentas, especialmente na chacina do Jacarezinho, o governador negou que as mortes sejam recorrentes entre as instituições fluminenses. Ocorrida em maio, a operação da Polícia Civil na comunidade mencionada deixou 28 mortos, incluindo um policial.

Eu não creio que isso seja uma recorrência. A [ação] da Polícia Civil no Jacarezinho foi o cumprimento de mandado judicial e agora foi uma operação da Polícia Militar. Como eu digo, a gente apoia sempre as polícias, mas não apoia, por óbvio, os erros.

Entrevista a jornalistas

O governador explicou que a operação no Complexo do Salgueiro está sendo investigada pela Polícia Civil. Ele afirmou que se forem constatados erros de agentes, estes serão punidos pela corporação. Apesar da fala, Castro reforçou o apoio às polícias do estado.

"Eu duvido que uma instituição puna tanto os seus quanto as polícias do Rio de Janeiro. A polícia tem punido exemplarmente os seus que fazem mal feitos, mas o nosso papel aqui é de apoiar a instituição Polícia Civil, a instituição Polícia Militar, a instituição Corpo de Bombeiros", completou.

Secretário faz discurso moderado

O secretário de Polícia Civil, Allan Turnowski, que acompanhou Castro na Alerj, falou de forma mais moderada com os jornalistas. Ele declarou que será preciso aguardar o fim das investigações para ter um posicionamento concreto sobre as mortes no Complexo do Salgueiro.

"No final, a gente vai ter uma investigação que vai dizer os motivos [de todos] que estavam lá naquele momento, por que estavam camuflados, por que as pessoas que não estavam camufladas estavam no mangue, o que faziam ali naquele horário. Então, assim, a gente tem que aguardar. Eu sempre peço para aguardar a investigação para, no final, a gente se posicionar", explicou.

Para o secretário, este é o "momento de produzir provas técnicas" para entender o caso: "Se a polícia estiver errada, ela sempre vai ser punida; e se ela estiver certa, ela vai sempre tentar aprimorar, se qualificar para não errar."

OAB e entidades cobram explicações ao MP sobre ação

A Comissão de Direitos Humanos da OAB/RJ (Ordem dos Advogados do Brasil - Rio de Janeiro) enviou ontem um ofício ao MPF (Ministério Público Federal) e ao MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) para pedir explicações sobre a ação policial que terminou com nove mortos no Complexo do Salgueiro.

Além da comissão, assinam o documento as ONGs Conectas e Justiça Global e a Associação Juízes pela Democracia. O texto contextualiza os fatos conhecidos até hoje, quatro dias após as mortes, e pede que providências sejam tomadas pelo Ministério Público.

As entidades argumentam que diante dos altos índices de violência policial, não é possível falar em "excepcionalidade" que justifique o uso da força por por agentes de segurança do Rio de Janeiro.

O documento também cita um levantamento exclusivo do UOL, que mostra serem do Rio de Janeiro oito das dez cidades com as maiores taxas de negros mortos pela polícia, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. São Gonçalo ocupa a quarta posição da lista.

A comissão e as organizações que assinam o documento pedem uma audiência com o Ministério Público, além de respostas sobre o controle externo da atividade policial. As entidades cobram ainda esclarecimentos sobre a realização ou não de perícia no local em que policiais teriam realizado uma festa, conforme relatos de moradores, noticiado em primeira mão pelo UOL.

*Com informações de Lola Ferreira, do UOL, no Rio