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Moro diz que recebeu R$ 3,7 mi da A&M e não atuou para empresa da Lava Jato

Do UOL, em São Paulo

28/01/2022 18h20

O ex-ministro Sergio Moro (Podemos) disse que recebeu o montante de US$ 45 mil (ou R$ 243 mil, na cotação atual), mensalmente, pelos trabalhos prestados à consultoria americana Alvarez & Marsal, especializada em recuperações financeiras de empresas, onde trabalhou um ano.

O contrato dele foi de 23 de novembro de 2020 a 26 de novembro de 2021, quando deixou a empresa para se filiar ao Podemos e concorrer às eleições. Além disso, ele afirmou ter recebido uma bonificação de US$ 150 mil (ou R$ 812 mil). Ao todo, Moro teria recebido R$ 3,728 milhões (na cotação atual) em trabalhos prestados para a companhia em doze meses.

Os valores —brutos, ou seja, sem recolhimento de impostos— foram divulgados pelo ex-juiz e ex-ministro durante a transmissão de uma live nas redes sociais. Além de Moro, participou da transmissão o deputado federal Kim Kataguiri (Podemos-SP), seu aliado político.

O salário, diz Moro, era pago pela empresa quinzenalmente e parte desse valor foi recebido em reais (enquanto esteve no Brasil). Embora tenha admitido o salário bom para os padrões dos Estados Unidos, Moro rechaçou a ideia de enriquecimento.

Ficam falando que eu enriqueci. Eu não enriqueci. Fui trabalhar lá. Eu recebi um bom salário, tá? Além de todo o histórico, todo o reconhecimento internacional pelo meu trabalho na Lava Jato... então é normal, diante de todas essas qualificações, que você tenha um salário bom para os padrões dos Estados Unidos, para a função que eu ocupava. Mas longe de ter enriquecido. Sergio Moro, durante a live

Moro está sob pressão do TCU (Tribunal de Contas da União) para que revele o quanto ganhou na empresa Alvarez & Marsal. Há suspeita de conflito de interesses, já que a consultoria tem como clientes empresas que foram alvo da Lava Jato, como a Odebrecht.

A Alvarez & Marsal recebeu ao menos R$ 65,1 milhões de empresas envolvidas na operação Lava Jato. Segundo apurou o UOL, esse valor é 78% de todo o faturamento por administração judicial que a companhia alega ter tido de 2013 até o ano passado.

Eu nunca trabalhei para a Odebrecht. Na verdade, eu desmantelei o império de corrupção da Odebrecht. Decretei a prisão de diretores, do dono da Odebrecht. Depois que eu saí do Ministério da Justiça, eu preciso ganhar a minha vida, eu não enriqueci, fui contratado pela Alvarez & Marsal. Jamais recebi um tostão [da Odebrecht]. Vamos deixar claro. Moro rebate acusação

O Ministério Público junto ao TCU encaminhou na terça-feira (25) um pedido para que o ministro do Tribunal, Bruno Dantas, retire o sigilo que impede a divulgação do salário do ex-juiz na Alvares & Marsal. A companhia contratou Moro após sua saída do Ministério da Justiça do governo de Jair Bolsonaro.

Na visão do procurador Lucas Furtado a quebra do sigilo do salário do ex-juiz é importante para a identificação se houve ou não conflito de interesses.

Há a necessidade de se conhecer toda documentação relativa ao rompimento do vínculo de prestação de serviços entre o ex-juiz Sergio Moro e a empresa Alvares & Marsal, visto o possível conflito de interesses da atuação do ex magistrado quando consultor na administradora da recuperação judicial do grupo de empresas condenadas pela Lava Jato. Procurador Lucas Furtado em pedido a ministro do TCU Bruno Dantas.

Moro nega conflito de interesse

Em entrevista ao "Flow Podcast", na segunda (24), Moro rebateu as acusações dizendo não ter medo de "cara feia" e que está tranquilo em relação a qualquer investigação que façam sobre ele. Em relação ao seu contrato com a Alvarez & Marsal, o ex-juiz federal e ex-ministro do governo Bolsonaro garantiu que nunca atuou em prol de empresas envolvidas na Operação Lava Jato.

"Fui trabalhar honestamente porque não enriqueci no serviço público, precisava ganhar dinheiro. E aí recebia pagamento por um serviço que eu prestava. Jamais prestei serviço para empresa envolvida na Lava Jato. Quem fala isso mente", disse, em participação ao vivo no "Flow Podcast".

Moro garantiu que, mesmo que o sigilo do seu contrato com a empresa estrangeira fosse quebrado não provariam nada, "porque não fiz nada de errado".

Candidatura à presidência

Em novembro, o ex-juiz decidiu se filiar ao Podemos e entrar oficialmente à política durante evento realizado em Brasília. Aos gritos de "Brasil para frente, Moro presidente", Moro promoveu um discurso de possível candidato a presidente.

Pesquisa eleitoral do Instituto Ipespe, contratada pela XP Investimentos, mostrou ontem que Moro tem 8% da preferência do eleitorado, empatado com o ex-ministro Ciro Gomes. Eles estão atrás do ex-presidente Lula, que tem 44% das intenções de voto, e do presidente Jair Bolsonaro (PL), que possui 24%.

Moro deixou o cargo de ministro da Justiça em 2020 após o presidente Bolsonaro decidir exonerar o então diretor-geral da PF (Polícia Federal) Maurício Valeixo, profissional de confiança do ex-juiz. À época, Moro disse que Bolsonaro queria interferir na Polícia Federal. O presidente prestou depoimento no início de novembro e negou qualquer interferência no órgão.

Desde então, o ex-juiz e ex-ministro passou a ser alvo frequente de ataques feitos por bolsonaristas —entre eles, os filhos do presidente Bolsonaro.